O procurador-geral dos Estados Unidos Jeff Sessions renunciou nesta quarta-feira (7) a pedido do presidente Donald Trump. A relação entre Trump e o legalista foi azedada pouco depois que Sessions assumiu o cargo, em 2017, porque o ex-senador do Alabama havia se recusado a supervisionar a investigação sobre a interferência russa na campanha presidencial de 2016.
Apesar da tensão com a Casa Branca, Sessions descreveu a posição de mais alto oficial da aplicação da lei como o emprego dos seus sonhos e ele seguiu sua agenda conservadora com entusiasmo. Mas ele também teve que conviver com os ocasionais ataques humilhantes de um presidente que ele não conseguia agradar e as suspeitas de membros da equipe que temiam a politização de um Departamento de Justiça que se orgulha de sua independência.
Veteranos do Departamento expressaram preocupação de que os repetidos ataques públicos de Trump a Sessions, ao Departamento de Justiça e ao FBI possam causar danos permanentes às autoridades federais.
Sessions, 71 anos, foi o primeiro senador americano a apoiar Trump, e em muitos aspectos ele foi o maior defensor das políticas do presidente sobre imigração, crime e aplicação da lei.
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Mas todas essas áreas de concordância foram ofuscadas pela investigação russa – especificamente, a abstenção de Sessions do inquérito depois que foi revelado que ele havia se encontrado mais de uma vez com o embaixador russo nos Estados Unidos durante a campanha de 2016, embora ele tivesse dito durante sua audiência de confirmação que ele não havia se encontrado com nenhum russo.
Trump nunca perdoou Sessions por essa decisão, que ele considerou como um ato de deslealdade que lhe negou a proteção que ele achava que merecia de seu procurador-geral. "Eu não tenho um procurador-geral", disse Trump em setembro.
De forma privada, Trump tem ridicularizado Sessions como "Mr. Magoo", um personagem de desenho animado que é idoso, míope e atrapalhado, de acordo com pessoas próximas.
Trump também ameaçou repetidamente ou exigiu, a portas fechadas, a saída de Sessions, mas foi convencido por assessores de que removê-lo poderia provocar uma crise política dentro do Partido Republicano, onde muitos conservadores permaneceram leais ao ex-senador. Nos últimos meses, no entanto, alguns desses aliados sinalizaram uma disposição para tolerar a remoção de Sessions após a eleição de meio de mandato.
Os democratas têm agido cautelosamente em relação a Sessions – temendo que, se ele fosse expulso do cargo, seu substituto pudesse restringir a investigação sobre a Rússia liderada pelo conselheiro especial Robert Mueller.
Uma pessoa próxima a Sessions, que falou sob a condição de anonimato, disse que o procurador-geral compartilhou a frustração do presidente com o ritmo do inquérito sobre a Rússia, e desejou que ele tivesse sido completado. Mas Sessions também pensou que, permanecendo no trabalho, ele protegia a integridade da investigação, disse a pessoa. Em longo prazo, Sessions está convencido de que o país será mais beneficiado se a investigação prosseguir naturalmente, pois as descobertas serão mais confiáveis para o público americano, disse a fonte.
Mueller está investigando as declarações de Trump, buscando demitir Sessions ou forçar sua renúncia, num esforço para determinar se esses atos são parte de um padrão de tentativa de obstrução da justiça, de acordo com pessoas próximas à investigação.
No início deste ano, a equipe de Mueller questionou testemunhas sobre os comentários privados de Trump e o seu estado de ânimo no final de julho e início de agosto do ano passado, na época em que ele menosprezou seu procurador no Twitter, disseram essas fontes. As perguntas procuraram determinar se o objetivo do presidente era derrubar Sessions para que ele pudesse substituí-lo por alguém que assumisse o controle da investigação, disseram essas pessoas.
A investigação de Mueller é supervisionada pelo vice-procurador-geral Rod Rosenstein, que também teve relações tensas com Trump, mas sua posição é considerada segura neste momento.
Sessions geralmente não responde às críticas do presidente, mas às vezes ele retrucou.
Depois de um tweet particularmente intenso em fevereiro, no qual o presidente disse que as ações de Sessions foram "VERGONHOSAS!" ele emitiu uma declaração: "Enquanto eu for o procurador-geral, continuarei cumprindo meus deveres com integridade e honra, e este Departamento continuará a fazer seu trabalho de maneira justa e imparcial, de acordo com a lei e a Constituição".