“Nós pagamos cerca de 100% da Otan”, disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de embarcar para o Japão, onde participou do encontro das 20 maiores economias mundiais neste fim de semana.
A declaração, repetida em ocasiões anteriores, tinha um interlocutor específico: a Alemanha de Angela Merkel.
“As pessoas não sabem disso. Pagamos perto disso porque a Alemanha não paga o que deve pagar e, dos 28 países, só sete pagam o que devem”, continuou o presidente.
Dados divulgados pela própria Organização do Tratado do Atlântico Norte na última semana mostram que Trump, no mínimo, exagera em suas colocações. Os financiamentos diretos à Otan, usados para custear os sistemas de defesa aérea e o comando de controle, são coletivos. Cada país-membro paga um percentual referente ao PIB nacional. Desta maneira, os EUA contribuem com 22% do orçamento de US$ 2,4 bilhões da Otan (veja a participação da Alemanha e outros países no gráfico abaixo).
Como a número é muito diferente do que disse Trump, pode-se imaginar que o presidente americano se referia aos investimentos em defesa de cada país-membro. A diferença entre o que os EUA gastam e os demais países da aliança é gigantesca, ou seja, há uma profunda dependência das forças armadas americanas. Com base na previsão orçamentária de 2019, as despesas do país serão de US$ 750 bilhões, 70% de todo o investimento dos aliados - e não "cerca de 100%".
A Alemanha é o segundo país mais rico da organização, mas investe menos do que o Reino Unido. Há um comprometimento entre os países-membros de destinar ao menos 2% do PIB nacional à defesa até 2024, uma diretriz que serve principalmente como um indicador da vontade política de um país de contribuir para os esforços comuns de defesa da aliança. A Alemanha, contudo, investe apenas 1,36% e aí está um dos motivos da pressão de Trump à Merkel - em 2018, os alemães haviam investido ainda menos: 1,24%.
O presidente Trump está correto quando diz que apenas 7 países cumprem essa disposição: EUA, Grécia, Estônia, Reino Unido, Romênia, Polônia e Letônia (veja na lista abaixo qual é a proporção de investimento em defesa em relação ao PIB dos países-membros).
Há décadas os Estados Unidos estão pressionando os aliados europeus a investirem mais em defesa. Trump, porém, está fazendo isso de uma forma mais incisiva. Como resultado, as estimativas de investimentos em defesa dos membros europeus para 2018 e 2019 são as mais altas dos últimos 8 anos, assim como o total das despesas de todos os aliados, que deve ultrapassar US$ 1 trilhão neste ano.
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