Durante toda sua carreira empresarial e, mais recentemente, política, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se vendeu como um homem que fez fortuna por conta própria, o famoso ícone americano do self-made man, o sujeito que sobe na vida sem ajuda de ninguém.
Mas, segundo reportagem do jornal The New York Times publicada nesta terça-feira (2), o republicano recebeu o equivalente a pelo menos US$ 413 milhões (cerca de R$ 1,62 bilhão) em valores atualizados do império imobiliário criado pelo pai, Fred, disfarçados de doações para uma empresas de fachada criada por ele e pelos irmãos.
Durante a campanha presidencial de 2016, o agora líder americano afirmou ter obtido quase nenhuma ajuda financeira do pai, famoso magnata imobiliário de Nova York. Mas, afirma o New York Times, o dinheiro começou a fluir para o presidente quando ele ainda era criança e seguiu até os dias atuais.
O avanço da fortuna
O Times diz que, aos 3, Trump já ganhava US$ 200 mil (R$ 786 mil) ao ano, em valores correntes, do pai. Cinco anos depois, já era milionário, e, aos 17, Fred deu a ele uma fatia de propriedade de um prédio com 52 apartamentos.
Pouco depois que Trump se formou na universidade, estava recebendo US$ 1 milhão (R$ 3,93 milhões) por ano do pai, valor que só aumentou e chegou a mais de US$ 5 milhões (R$ 19,7 milhões) ao ano quando ele estava na faixa dos 40 e 50 anos -o presidente tem hoje 72 anos.
Ao longo da vida, o pai de Trump transformou o filho em funcionário assalariado e em administrador de propriedades, banqueiro e consultor. Ele concedia empréstimos ao republicano, muitos não pagos de volta.
Fred Trump também dava dinheiro para que o filho cuidasse do carro, pagasse seus funcionários, comprasse ações e para seus primeiros escritórios em Manhattan, afirma o Times.
A investigação conduzida por três repórteres do jornal indica que Trump participou de esquemas fiscais questionáveis nos anos 1990, incluindo exemplos de fraudes evidentes, que aumentaram a fortuna que ele recebeu de seus pais.
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As conclusões foram baseadas em entrevistas com ex-funcionários de Fred Trump e assessores, e em mais de 100 mil páginas de documentos que descrevem a estrutura do lucrativo império. Entre os documentos, muitos foram obtidos de fontes públicas, como hipotecas, relatórios financeiros e processos em tribunais civis.
Segundo o jornal, muito do dinheiro foi parar nas mãos do republicano porque ele ajudou os pais a evitar o pagamento de impostos. O Times diz que Trump e seus irmãos criaram uma empresa de fachada para encobrir o recebimento de milhões de dólares em doações de seus pais, conforme mostram entrevistas e registros, parte dos quais foram anexados à reportagem.
O atual presidente americano teria ajudado o pai a deduzir indevidamente da declaração de renda milhões de dólares. Ele também teria contribuído na formulação de uma estratégia para desvalorizar os bens imobiliários de seus pais em centenas de milhões de dólares, reduzindo drasticamente o valor do imposto incidente quando essas propriedades foram transferidas a eles e seus irmãos.
O jornal diz que as manobras não encontraram resistência dentro da Receita Federal americana. Fred e a mãe de Trump, Mary, transferiram mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,93 bilhões) de sua fortuna para os filhos.
Isso deveria ter gerado um imposto a pagar de ao menos US$ 550 milhões (R$ 2,16 bilhões), conforme alíquota de 55% imposta em doações e heranças, afirma o Times. Os Trump pagaram um total de US$ 52,2 milhões (R$ 205,1 milhões), ou uma alíquota de 5%, de acordo com registros.
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O jornal identificou 295 fontes de receita que Fred Trump criou ao longo de cinco décadas para enriquecer o filho. Na maioria dos casos, os outros quatro irmãos de Donald Trump se beneficiaram igualmente. O dinheiro do pai ajudou a construir a Trump Tower, um dos ícones associado a Trump. Mas o jornal ressalta que, apesar do apoio financeiro do pai, boa parte da publicidade que o republicano criou em torno do empreendimento foi fruto de esforço próprio.
Depois da morte do pai, Trump e os irmãos venderam o império que Fred construiu ao longo de 70 anos. Donald Trump teria recebido US$ 177,3 milhões (R$ 696,8 milhões), ou US$ 236,2 milhões (R$ 928,3 milhões), em valores correntes.
O jornal calcula que, se Trump não tivesse feito nada e apenas investido o dinheiro que o pai deu para ele em um fundo que acompanha o índice S&P 500, referência na Bolsa de Nova York, ele teria o equivalente a US$ 1,96 bilhão (R$ 7,7 bilhões) hoje.
Outro lado
Segundo o jornal, Trump negou repetidos pedidos de comentários sobre a reportagem. Um dos advogados do republicano, Charles J. Harder, enviou um comunicado na última segunda, um dia após o NYT enviar uma descrição detalhada das descobertas. Harder afirma que as alegações do New York Times sobre fraude e evasão fiscal são "100% falsas e altamente difamatórias".
"Não houve fraude ou evasão fiscal [cometida] por ninguém. Os fatos sobre os quais o Times baseia suas falsas alegações são extremamente imprecisos."
O advogado buscou ainda distanciar Trump das estratégias fiscais empregadas, afirmando que o republicano delegou essas tarefas a parentes e especialistas em tributação. "O presidente Trump não teve virtualmente nenhum envolvimento com qualquer desses assuntos", afirmou.
Robert Trump, irmão do presidente, emitiu uma declaração em nome da família em que afirma que todas as doações e impostos imobiliários derivados foram pagos. "Nossa família não tem outro comentário nesses assuntos que aconteceram 20 anos atrás, e gostaria que respeitassem a privacidade de nossos pais falecidos, que Deus guarde suas almas."
O jornal indica que é pouco provável que Trump seja submetido a um processo criminal por ajudar os pais a evadir impostos, porque as ações ocorreram muitos anos atrás e prescreveram. Mas não há prescrição para multas civis envolvendo fraude fiscal.
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