O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer facilitar a vida das empresas americanas na economia global, mas a sua postura tem desestabilizado o planejamento dos negócios nos Estados Unidos.
Das fazendas de cereja do Noroeste dos Estados Unidos, passando pela indústria química do Meio-oeste aos fabricantes de armadilhas para a captura de lagosta no Nordeste do país, o risco de uma guerra comercial está deixando mais ansiosos os executivos de empresas que dependem do mercado externo ou que contam com ele para manter baixos os custos de seus produtos.
Na sexta, Trump anunciou o estabelecimento de tarifas sobre US$ 50 bilhões em produtos importados da China. Ela se soma às impostas ao aço e alumínio importados da União Europeia e do Canadá, o que provocou raiva e indignação na cúpula do G-7, realizada no início do mês em Quebec, no Canadá.
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A China respondeu a medida com suas próprias ameaças: prometeu impor tarifas em igual escala e igual intensidade às importações dos Estados Unidos. E disse em um comunicado na internet que todos os compromissos comerciais anteriores do país estão sendo reavaliados. A União Europeia está mirando em produtos icônicos, como as motocicletas Harley Davidson e os jeans Levi’s. As tarifas da UE sobre US$ 3,2 bilhões em produtos americanos devem entrar em vigor nesta sexta-feira (22).
À medida que Trump rompe com as regras que regiram o comércio internacional durante décadas, a perspectiva de um enfrentamento se propaga por todas as regiões, indústrias e setores americanos dos Estados Unidos, atingindo todos os aspectos dos negócios.
Ameaça aos negócios
No condado de Clinton, Nova York, uma decisão tomada há 25 anos para valorizar sua proximidade com Montreal, uma das principais cidades do Canadá, começa a despertar preocupações. Cerca de 15% da população de 80 mil pessoas trabalha para empresas canadenses ou que tem negócios na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá. O impacto econômico direto do comércio na fronteira supera os US$ 2 bilhões por ano. As tarifas representam uma ameaça.
“A maioria tem a esperança de que tudo isso sejam apenas táticas e de que tudo se resolverá”, disse Garry Douglas, presidente da North Country Chamber of Commerce. “A incerteza, entretanto, já está tendo um efeito inibidor sobre as decisões das empresas em relação a investimentos e negócios na região da fronteira.”
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O temor também surge na Flórida, que está ligada à América Latina e ao Canadá por meio de 14 portos marítimos de águas profundas. A Câmara de Comércio estima que um quarto da economia do estado tenha alguma relação com o comércio internacional.
Mas em Granite City (Meio-oeste), o som dos altos fornos rugindo novamente é a esperança da região. A US Steel planeja contratar cerca de 300 pessoas para colocar em operação um segundo alto forno e satisfazer à demanda por aço fabricado nos Estados Unidos. Ela retomou as operações em março após Trump anunciar as tarifas, baseado em motivos de segurança nacional.
A cidade de cerca de 30 mil habitantes surgiu devido à indústria do aço, disse James Amos, seu diretor de desenvolvimento econômico. “Mais trabalhadores na siderúrgica significa mais gente comprando gás ou almoços.”
Incerteza não é boa
Mas, mesmo nas áreas mais industrializadas dos Estados Unidos, as empresas estão preocupadas. Muitas montaram cadeias de suprimentos internacionais e obtêm partes de todo o mundo. “A incerteza em relação ao comércio internacional não é nada boa”, disse Blake Moret, executivo da Rockwell Automation, um fabricante de sistemas industriais.
Muitas empresas estão adiando projetos. A elevação das tarifas está turvando decisões de investimentos e aumentando custos de construção, disse A.B. Ghosh, presidente da indústria química Akzo Nobel nos Estados Unidos.
A empresa holandesa vai continuar um investimento de US$ 100 milhões na renovação de uma fábrica. “Mas o aumento das tarifas pode impedir a realização de outros investimentos”, disse o executivo.
Preocupação quanto ao México
Companhias com ligações com o México estão preocupadas. O país foi atingido com tarifas sobre o aço e Trump ameaça retirar os Estados Unidos do Nafta, o acordo de livre comércio dos países da América do Norte.
12% do volume transportado pela ferrovia Union Pacific tem o México como origem ou destino. Ela também tem uma participação de 26% na Ferromex, uma ferrovia no país latino-americano. “O pior medo seria uma guerra comercial geral”, disse Rob Knight, diretor financeiro da ferrovia. “Será que o México virá com uma ação retaliatória?”, questionou.
Produtores de maçãs, peras e cerejas do Noroeste dos Estados Unidos estão correndo para descobrir o que podem fazer com essas frutas perecíveis, que agora são alvo de tarifas de retaliação em mercados como China, Índia e México. Mark Powers, presidente do Conselho de Horticultores do Noroeste, afirmou que 4,7 mil produtores exportam cerca de US$ 1 bilhão em frutas a cada ano. Encontrar novos mercados livres de tarifas requer longas negociações entre os países.
“Quantificar os resultados disto tudo é um jogo de adivinhação”, disse ele. “Estamos vendo clientes voltando e pedindo descontos e compensações.”
As cerejas são uma preocupação urgente, particularmente porque a colheita é boa. A fruta dura só sete dias após colhida. A maioria das exportações é enviada por via aérea à Ásia. “Se a China, o maior mercado, fechar as portas, será difícil redirecionar a produção.”
Empregos e vendas ameaçadas
Jim Knott, presidente da Riverdale Mills, no Nordeste dos EUA, diz que sua empresa fornece, nos Estados Unidos, 85% da malha de aço que reveste as armadilhas para as lagostas. O preço do aço, boa parte importado do Canadá, dobrou desde o início do ano. Ele diz que o motivo é o estabelecimento de tarifas por parte de Trump.
Cerca de 45% do que a companhia de Knott produz é exportado. Ele diz que as tarifas impostas ao aço ameaçam a subsistência de seus 200 empregados. “Trabalhamos muito para trazer empregos que estavam na China e embarcamos produtos para todo mundo. Mas essas tarifas acabaram nos deixando de mãos atadas.”
Mas ameaças podem ser alvo de negociações. O deputado Bill Keating representa cidades do Nordeste dos EUA que produzem cranberries. A safra chega a US$ 100 milhões, mas foi alvo da União Europeia, após Trump anunciar tarifas sobre o aço e o alumínio europeus.
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Com 6,9 mil empregos em jogo, Keating assinalou a autoridade americanas que a tarifa também ameaçaria empregos ligados ao processamento da fruta na União Europeia. Funcionou. A imposição de tarifas foi adiada para 2021.
Tarifas são ameaças naturais para commodities. Enquanto altos preços do algodão, causados por uma seca no Texas, beneficiaram o fazendeiro Trey Davis, potenciais tarifas chinesas complicam seu planejamento. Suas fazendas estão sujeitas a furacões que podem acabar com a sua safra. “Estamos em uma terra de ninguém: à espera de uma resposta dos chineses e do tempo.”
Na Costa Oeste, fazendeiros cansados de lutar contra falta de água e de trabalhadores tem uma nova dor de cabeça. A Índia colocou uma tarifa de 80% sobre as maçãs como medida retaliatória.
Produtos como amoras, nozes e laranjas enfrentam tarifas de 15% na China. Estes impostos podem deprimir ainda mais um setor que não está nada bem na quinta maior economia do mundo: a agricultura perdeu 15% de seu valor nos últimos dois anos, segundo o Departamento de Alimentos e Agricultura.
As receitas com exportação, no entanto, permaneceram estáveis em US$ 20 bilhões durante o período. Mas isto pode mudar. Os produtores irão agregar o novo regime tarifário ao seu custo, disse Tom Nassif, presidente de uma associação de produtores rurais. “Cada vez maios pessoas cultivarão seus produtos no exterior e os venderão a países que deixarão de receber nossos produtos.”
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