O ex-presidente Donald Trump declarou guerra ao senador republicano Mitch McConnell, depois que o líder da minoria do Senado disse, na tribuna da Câmara Alta, que Trump incitou seus seguidores a invadir o Capitólio em 6 de janeiro. Em um longo comunicado divulgado pelo seu comitê de ação política nesta terça-feira (16), o ex-presidente o acusou de “destruir o lado republicano” do Senado, chamando-o de político de terceira categoria, interesseiro e mal-encarado.
“O Partido Republicano nunca mais poderá ser respeitado ou ser forte com ‘líderes’ políticos como o senador Mitch McConnell no comando. A dedicação de McConnell ao usual, a políticas de status quo, juntamente com sua falta de visão política, sabedoria, habilidade e personalidade, rapidamente o levou de líder da maioria a líder da minoria [no Senado], e isso só vai piorar”, escreveu Trump, acrescentando que “se os senadores republicanos ficarem ao lado dele, eles não vão vencer de novo”.
McConnell votou pela absolvição de Trump no julgamento do impeachment neste sábado (14), mas despertou a raiva do ex-presidente quando, ao justificar seu voto, disse que considerava Trump culpado pela invasão do Capitólio e sugeriu que só não votaria pela condenação porque acredita ser inconstitucional a votação de impeachment de um ex-presidente.
“Eles [invasores] fizeram isso porque foram alimentados com falsidades ditas pelo homem mais poderoso da terra, porque ele estava com raiva por ter perdido uma eleição”, disse McConnell. “As ações do presidente Trump que precederam o motim foram uma negligência vergonhosa do dever”.
Alguns senadores republicanos já se distanciaram das declarações de McConnell, afirmando que elas não representam o posicionamento da bancada republicana. O senador Lindsey Graham disse que as declarações de McConnell aparecerão nas campanhas eleitorais dos democratas em 2022, a fim de prejudicar os candidatos republicanos. “Eu acho que ele tirou um peso do peito [ao criticar o comportamento de Trump], obviamente, mas infelizmente ele colocou um peso nas costas dos republicanos”.
O senador Ron Johnson seguiu a mesma linha de Graham, afirmando que as críticas ao ex-presidente colocaram McConnell em descompasso com o bloco que ele lidera. "Neste caso, não acredito que ele fale pela bancada [republicana], e acho que ele precisa ser um pouco cuidadoso. Sabe, quando eu falo, eu realmente tento e tenho em mente como isso pode refletir no partido", ponderou.
Divisão e futuro
Se os democratas não tiveram sucesso em aprovar o impeachment de Trump no Senado, o processo ao menos serviu para escancarar desentendimentos entre trumpistas e não-trumpistas dentro do Partido Republicano.
Ambos os lados tentam justificar a perda de assentos republicanos no Senado, que custou ao partido o controle da Câmara Alta pelos próximos dois anos. Trump coloca a culpa na inaptidão do governador republicano da Geórgia, Brian Kemp, e seu secretário de Estado, Brad Raffensperger, “por não fazerem seu trabalho em integridade eleitoral durante a corrida presidencial de 2020”. McConnell, por sua vez, acredita que os ataques de Trump a membros republicanos na Geórgia e as constantes alegações não comprovadas de fraudes nas eleições de 3 de novembro fizeram com que os dois candidatos do partido perdessem o segundo turno ao Senado, realizado no estado em 5 de janeiro. “Georgia foi um fiasco. Nós todos sabemos por quê”, disse o líder da minoria no Senado.
Por enquanto, as críticas mais fortes a Trump tendem a ficar restritas a um grupo menor de republicanos eleitos, devido ao amplo apoio que ele goza entre os eleitores do partido. Uma pesquisa de opinião da Morning Consult, divulgada nesta terça-feira, mostrou que 59% dos republicanos entrevistados acreditam que o ex-presidente deveria ter um “papel importante” no futuro do Partido Republicano e 54% disseram que apoiariam a candidatura de Trump à presidência em 2024. A sondagem também mostrou que diminuiu o percentual de republicanos que consideram Trump culpado pela invasão do Capitólio em 6 de janeiro – de 41% para 26% no intervalo de um mês, embora 64% do eleitorado geral (republicanos, democratas e independentes) o considerem culpado.
Impossível saber se esta tendência continuará até as eleições legislativas de meio de mandato, em 2022. Mas analistas consideram que os republicanos devem manter os apoiadores de Trump engajados ao mesmo tempo em que mudam o foco de sua atenção para outras questões, importantes para o partido, sem o protagonismo do ex-presidente. O combate à agenda progressista do presidente Joe Biden pode ter o efeito de reunificar o partido nos próximos dois anos, trazendo para os holofotes outros políticos republicanos – a exemplo da retomada do controle da Câmara pelos republicanos durante o mandato do ex-presidente democrata Barack Obama.
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