Em depoimento de cerca de seis horas e marcado por embates com congressistas republicanos, Michael Cohen, ex-advogado de Donald Trump, acusou o presidente americano de mentir sobre negócios na Rússia durante as eleições e sobre pagamentos para silenciar mulheres com quem teria tido um caso.
Ele disse ainda que os procuradores federais de Nova York investigam atividades criminais envolvendo o republicano e analisam conversas que Cohen teve com o presidente ou seus aliados dois meses após o FBI (polícia federal) revistar propriedades ligadas ao ex-advogado, em abril de 2018.
“Pediram para não discutir e não falar sobre esses assuntos”, afirmou Cohen à comissão de supervisão e reforma da Câmara dos Deputados.
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Se Cohen não deu mais detalhes sobre esse caso, ele compensou em outros assuntos de interesse dos congressistas, especialmente democratas, que buscam coletar evidências de que Trump cometeu crimes que podem embasar um pedido de impeachment.
Negócios na Rússia
Por exemplo, Cohen afirmou que, durante a campanha de 2016, Trump sabia e comandou as negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou.
“Ele mentiu sobre isso porque nunca esperou ganhar as eleições. Mentiu porque queria fazer centenas de milhões de dólares no projeto imobiliário em Moscou”.
Cohen disse que, ao menos seis vezes entre o cáucus – assembleia de eleitores – de Iowa, em janeiro de 2016, e o fim de junho, o presidente perguntou “como está indo a Rússia”, em referência ao projeto da torre em Moscou. Na primeira vez que depôs no Congresso, o ex-advogado havia dito que as conversas sobre o projeto tinham cessado em janeiro de 2016.
O ex-advogado afirmou que Ivanka e Donald Jr., filhos de Donald Trump, e Jared Kushner, genro do republicano, estavam envolvidos nas negociações para construir a Trump Tower em Moscou.
Cohen foi questionado pela deputada Debbie Wasserman Schultz, democrata da Flórida, sobre o envolvimento dos filhos e do genro de Trump nas negociações sobre a Trump Tower antes das eleições.
“A companhia estava envolvida no negócio, o que significava que a família estava envolvida no negócio”, afirmou Cohen. O presidente americano nega que tivesse interesse em negócios com a Rússia durante a eleição.
Na sequência, Schultz perguntou se era possível que a família inteira estivesse “comprometida com um adversário estrangeiro” nos meses que antecederam as eleições. “Sim”, respondeu Cohen.
A congressista questionou se Cohen achava que Trump estava tão desesperado para vencer que poderia conspirar e coordenar ações com a Rússia ou com uma potência estrangeira. “É muita especulação”, respondeu, antes de complementar que Trump faria tudo o que fosse necessário para vencer.
“Eu não usaria a palavra 'conspirando'. Havia algo de estranho sobre os elogios trocados com o presidente [Vladimir] Putin? Sim. Mas eu não sei se posso responder a essa questão em termos de conspiração. Eu não fiz parte da campanha. Eu não sei de outras conversas que Trump teve com outros indivíduos.”
Compra de silêncio
Ele disse ainda que o presidente mentiu sobre pagamentos feitos à ex-atriz pornô Stormy Daniels, que diz ter tido um caso com Trump. O objetivo seria comprar seu silêncio e evitar que ela revelasse a relação durante a campanha.
Cohen apresentou cópia de um cheque de US$ 35 mil preenchido por Trump e da conta bancária pessoal do presidente. O cheque é datado de agosto de 2017, quando ele já era presidente, e teria como finalidade reembolsar o ex-advogado pelo pagamento de US$ 130 mil a Daniels. Seriam 11 cheques pagos durante o ano.
Em abril de 2018, Trump disse que não sabia onde Cohen tinha conseguido o dinheiro para silenciar Daniels ou a ex-modelo da Playboy Karen McDougal, que também diz ter tido um caso com ele.
Esse pagamento pode ser considerado uma contribuição ilegal de Cohen à campanha, já que excede os limites de doação e não foi declarado nos relatórios de campanha de Trump.
“Racista e trapaceiro”
Cohen afirmou ainda que o presidente sabia que Roger Stone, seu conselheiro político, estava conversando com Julian Assange sobre a publicação de emails do Comitê Nacional Democrata que prejudicaram Hillary Clinton, adversária de Trump em 2016. Advogado de Assange nega que a ligação tenha ocorrido.
Em documento que leu perante os congressistas, Cohen também chamou Trump de “racista” e “trapaceiro”.
Congressistas republicanos tentaram atacar a credibilidade de Cohen, lembrando que, em maio, ele começa a cumprir pena de três anos por mentir ao Congresso. Já o ex-advogado acusou os republicanos de não terem feito perguntas sobre o presidente.
“Eu só acho interessante que entre você [Jim Jordan, congressista republicano] e seus colegas nenhuma questão até agora foi sobre o presidente Trump”, afirmou.
Uma porta-voz da campanha de Trump à reeleição chamou Cohen de criminoso que mentiu de forma “deliberada e premeditada”.
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