Gigantes do Vale do Silício varreram Trump das redes sociais| Foto: Tomas Ulrich/Pixabay
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As Big Techs desencadearam uma ofensiva nunca antes vista contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seus apoiadores. Os desdobramentos das manifestações e da invasão ao Capitólio, na quarta-feira (6), provocaram mais do que o banimento de Trump no Twitter, sua histórica ferramenta de diálogo com seu eleitorado. Também resultou no fechamento de fórum de apoiadores trumpistas por incitação à violência e a remoção da rede social Parler — o chamado “Twitter dos conservadores” — de plataformas hospedeiras.

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A retaliação do Vale do Silício a Trump e seguidores é disseminada. Facebook e Instagram, do bilionário Mark Zuckerberg, bloquearam os perfis do presidente norte-americano. O Twitter removeu posts de Trump pela primeira vez na quarta-feira e baniu dois dias depois.

O Reddit, rede social baseada em fóruns de discussões, fechou o fórum r/donaldtrump, que foi utilizado por apoiadores para incentivar os protestos ao Capitólio. E a plataforma de streaming Twitch, da Amazon, também bloqueou seu canal por tempo indeterminado, pela segunda vez, na quinta-feira (7).

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As justificativas para as medidas adotadas pelas empresas são semelhantes em todos os casos: violações das políticas das plataformas. Além disso, as Big Techs também elencaram outro fator: o risco de mais incitação à violência. É consensual entre elas que Trump incentivou seus apoiadores no dia do protesto ao Capitólio. O episódio deixou cinco pessoas mortas na tentativa de invasão ao Parlamento norte-americano.

“Após uma revisão atenta dos tuítes recentes da conta [de Trump] e do contexto ao seu redor — especificamente como eles estão sendo recebidos e interpretados dentro e fora do Twitter — suspendemos permanentemente a conta devido ao risco de mais incitação à violência”, informou o Twitter. Após o banimento, o presidente norte-americano usou a conta presidencial da rede social para para escrever aos seguidores sobre uma plataforma alternativa.

Sem seu perfil pessoal, o presidente dos EUA usou a conta presidencial do Twitter para informar seus seguidores que migraria para plataformas alternativas e que ele e seus apoiadores não seriam calados. "Estamos negociando com vários outros sites e teremos um grande anúncio em breve. Enquanto também olhamos para as possibilidades de construir nossa própria plataforma em um futuro próximo. Não seremos silenciados", escreveu.

Parler é opção para Trump e seguidores… 

O “grande anúncio” de Trump é uma incógnita. A rede social especulada para sua migração é o Parler. É dito até que ele já migrou para a rede social. Contudo, embora Sean Hannity, da Fox News, tenha afirmado na quinta-feira que Trump migrou à mídia, a Newsweek informou que o presidente não tem uma conta ativa verificada na plataforma. A Reuters também confirmou isso. Nem Parler nem um representante da Casa Branca responderam a questionamentos do assunto ao Los Angeles Times.

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A única conta verificada atribuída a Trump é a de sua campanha nas eleições do último ano. Entre sábado (9) e este domingo (10), o perfil partiu para o contra-ataque. Publicou links que questionam o que Trump e seus apoiadores dizem se tratar de um tratamento desigual dado ao republicano em relação a opositores. Em um deles, o comentarista Andrew McCarthy, da Fox News, acusa as Big Techs de “discriminação” aos conservadores, alegando as “tendências políticas” das empresas do Vale do Silício.

Em outro link publicado, a campanha do presidente norte-americano cita que “enquanto censura Trump, [o Twitter] não tomou nenhuma atitude contra um tweet da embaixada chinesa nos Estados Unidos, que enquadrou a limpeza étnica dos uigures [uma das 56 etnias oficialmente reconhecidas pelo governo chinês] como uma forma de libertação reeducativa”, diz.

O referido tweet da embaixada chinesa nos EUA não se encontra mais no Twitter. Outro questionamento feito pelo perfil da campanha de Trump no Parler é sobre um comentário do ativista de direitos civis e jogador de futebol americano Colin Kaepernick. Após a morte de George Floyd, que desencadeou os protestos do Black Lives Matter, Kaepernick comentou que “quando a civilidade leva à morte, revoltar-se é a única reação lógica” e destacou: “temos o direito de revidar!”. Para a campanha de Trump, o comentário, presente até hoje no Twitter, foi uma incitação à violência.

Ainda no mesmo link que a campanha de Trump questiona o trato dado aos “desordeiros do BLM”, é dito que, “em vez de banir Kaepernick”, o presidente-executivo e fundador do Twitter, Jack Dorsey, anunciou a doação de US$ 3 milhões ao ativista negro para “promover a libertação e o bem-estar das comunidades negras e parda por meio da educação, auto-capacitação e mobilização em massa para elevar a próxima geração de líderes”.

… mas rede social vira alvo de Google, Apple e Amazon

A tentativa de Trump em transformar o Parler em sua nova plataforma de comunicação com seu eleitorado pode não ser uma tarefa simples. Afinal, entre sexta e sábado, o aplicativo foi suspenso de três das principais plataformas que o hospedavam: a Play Store, da Google, a principal loja para se baixar aplicativos em dispositivos Android; a App Store, da Apple, para downloads de aplicativos em dispositivos iOS; e a Amazon Appstore, voltado para dispositivos Android e Fire OS, da própria Amazon.

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A “Apple e o Google fabricam os sistemas operacionais que sustentam quase todos os smartphones do mundo e praticamente dividem o mercado nos Estados Unidos”, destaca o The New York Times. O veículo ainda sustenta que as pessoas que já haviam baixado o aplicativo Parler para iPhone ainda podem usá-lo, mas a empresa não será capaz de atualizar o aplicativo, o que significa que, eventualmente, pode se tornar obsoleto quando a Apple atualizar o software do iPhone.

A suspensão do Google é outro problema para o Parler, mas pessoas com dispositivos Android ainda poderão obter o aplicativo. O Google permite outros mercados de aplicativos no Android, e sua decisão se aplica apenas à sua principal Play Store. Caso Trump e seguidores decidam permanecer no Parler, a opção seria usar a rede social por meio de navegadores da web em smartphones ou computadores.

O Parler foi baixado mais de 10 milhões de vezes em iPhones e dispositivos Android, cita o The New York Times, “com mais de 80% dos downloads nos Estados Unidos, de acordo com a Sensor Tower, uma empresa de dados de aplicativos”. O veículo ainda destaca que, na quinta-feira, um dia após o tumulto em Washington, “as pessoas baixaram o Parler 39 mil vezes, mais do que o dobro do dia anterior.”

Complacência com conteúdos violentos joga contra o Parler

A liberdade que o Parler dá a seus usuários foi, justamente, seu “calcanhar de aquiles”. Ao explicar suas decisões de suspensão da rede social, Apple e Google, que cobram do Parler intensificação do policiamento dos conteúdos publicados, compartilharam imagens de postagens na mídia que, segundo as gigantes do Vale do Silício, “ultrapassaram os limites”, informa o The New York Times.

As duas empresas destacaram uma postagem de Lin Wood, advogado pró-Trump, que dizia que o vice-presidente Mike Pence deveria ser executado por não ajudar na luta para derrubar os resultados eleitorais. O comentário de Wood foi compartilhado milhares de vezes na rede social. Outro post citado pelas gigantes da tecnologia disse que “20 assassinatos coordenados” seria o “necessário para retomar nosso país”. A postagem foi compartilhada quase 200 vezes e permaneceu ativa por, pelo menos, dois dias.

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Contas conectadas a apoiadores de Trump, teoristas da conspiração do QAnon e demais grupos de extrema direita “explicitamente ou implicitamente clamam por violência” no Parler, com alguns anunciando “guerra” na mídia social no dia da invasão ao Capitólio, aponta o USA Today. “Milhares de mensagens em Parler falavam de uma segunda guerra civil”.

No fórum r/donaldtrump, do Reddit, os apelos à violência estavam entre os cinco principais comentários em mais da metade das postagens que discutiam a contagem dos votos eleitorais do Congresso, informa o USA Today. “12% endossaram explicitamente a violência, de acordo com o Advance Democracy [uma organização de pesquisa que estuda desinformação e extremismo]”, acrescenta.

O presidente-executivo do Parler, John Matze, disse, em entrevista ao The Times, que “não se sentia responsável por nada disso [protestos e invasão ao Capitólio] e nem deveria a plataforma, considerando que somos uma plataforma neutra que apenas cumpre a lei”. Matze disse que a rede social atuaria para coibir excessos, embora acredite que, “na maior parte do tempo” não tenha visto “muitas atividades ilegais”. “Se as pessoas estão infringindo a lei, violando nossos termos de serviço ou fazendo algo ilegal, nós definitivamente nos envolveremos”, declarou.

Especialista questiona banimento de Trump no Twitter

A decisão do Twitter em banir o Trump foi amplamente comemorada por opositores de Trump, criticada por seus aliados, e analisada com sobriedade por especialistas. Professor de Inovação e Jornalismo do Insper, Pedro Burgos diz que a rede social tem todo o direito de banir Trump, mas faz ponderações. “Agora, fazer isso usando argumentos técnicos, citando uma espécie de ‘constituição’ da plataforma, é bobagem. A decisão ‘editorial’ foi tomada porque o Twitter achou que era a hora”, comentou pelo Twitter.

Em 2012, antes de ser presidente, em crítica à reeleição do ex-presidente Barack Obama, Trump disse que “ele perdeu o voto popular de lavada e venceu a eleição” e sugeriu uma “revolução” nos Estados Unidos. O O Globo aponta que aquela foi a primeira mensagem com uma incitação à violência feita por Trump no Twitter, segundo Angelo Carusone, presidente do observatório de mídia Media Matters. Desde então, o norte-americano permaneceu por oito anos na rede social.

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Para Burgos, se as regras da política de uso do Twitter fossem “consistentes de fato”, “ou Trump teria sido banido há muito mais tempo e/ou um monte de gente deveria ter sido abolida do Twitter também''. “O Twitter fez um cálculo subjetivo e achou que o dano de Trump é comparativamente maior. Tudo certo, mas não é uma ‘regra’”, observou o especialista.