O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que "desenvolveu um elo muito especial" com o ditador norte-coreano Kim Jong-un durante a histórica cúpula desta terça-feira (12) e proclamou o início de uma nova era que poderá romper um ciclo de ameaças nucleares e evitar um confronto militar entre os dois países.
"O conflito de ontem não precisa ser a guerra de amanhã", disse Trump em entrevista coletiva em Cingapura após mais de quatro horas de negociações com Kim Jong-un.
Trump disse que Kim "reafirmou" seu compromisso com a desnuclearização da Península Coreana e também concordou em destruir um centro de mísseis no país.
"Estamos prontos para escrever um novo capítulo entre nossas nações", disse Trump.
Segundo ele, o governo americano segue atento aos passos da Coreia do Norte, mas o acordo é um esforço válido para buscar a paz. Trump ainda comentou que a Guerra da Coreia "em breve será encerrada". O confronto entre as Coreias, que foi de 1950 a 1953, terminou em um armistício, não com um acordo de paz formal, o que o presidente americano sugeriu que pode agora conseguir.
Trump soava triunfante após a reunião, expressando confiança de que o líder norte-coreano levava a sério o abandono de seu programa nuclear e a transformação da Coreia do Norte de um regime isolado para um respeitado membro da comunidade mundial. Mas presidente norte-americano forneceu poucos detalhes sobre as medidas que Kim tomará para cumprir sua promessa de desnuclearizar seu país e como os Estados Unidos verificarão que a Coreia do Norte está abandonando suas armas nucleares. Segundo Trump, isso será resolvido em conversas futuras.
"Vamos fazê-lo o mais rápido possível", disse ele sobre o processo de livrar a Coreia do Norte das armas nucleares.
Fim dos exercícios militares conjuntos entre EUA e Coreia do Sul
Trump anunciou que ordenará o fim dos "jogos de guerra", referindo-se aos exercícios militares conjuntos que os Estados Unidos realizam com a Coreia do Sul e que desagradam profundamente a Coreia do Norte.
Trump chamou os exercícios de "muito provocativos" e "inapropriados" à luz da abertura otimista que ele vê com a Coreia do Norte. Acabar com os exercícios também economizaria dinheiro, segundo Trump.
Os Estados Unidos realizaram esses exercícios durante décadas como um símbolo de unidade com Seul, e anteriormente rejeitaram as queixas norte-coreanas como ilegítimas. Acabar com as manobras militares seria um benefício político significativo para Kim, mas Trump insistiu que ele não havia dado vantagem ao ditador.
"Acho que o encontro foi tão bom para os Estados Unidos quanto para a Coreia do Norte", disse Trump, se colocando como um líder que pode garantir um acordo que escapou aos ex-presidentes norte-americanos.
O gabinete do presidente sul-coreano não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários sobre o anúncio de Trump de que ele cancelaria os exercícios militares.
O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Song Young-moo, disse, no início deste mês, que as atividades dos militares americanos na Coreia do Sul eram "uma questão separada da questão nuclear da Coreia do Norte".
"As forças dos EUA permanecem na Península Coreana para manter a estabilidade e a paz na Península Coreana e no nordeste da Ásia", disse ele.
Direitos humanos
Durante coletiva de imprensa, Trump disse que Kim, um ditador acusado de violações dos direitos humanos, é um líder transformacional de seu país.
"Hoje é o começo de um processo árduo. Nossos olhos estão bem abertos. Mas a paz vale sempre o esforço", declarou Trump.
O presidente dos EUA disse ainda que questões de direitos humanos também estiveram sobre a mesa de negociações, mas não deu detalhes. O estudante universitário americano Otto Warmbier, que morreu no ano passado após a libertação de uma prisão norte-coreana, "não morreu em vão", ele afirmou.
Desnuclearização
Após uma série de reuniões no resort da ilha de Sentosa, em Cingapura, os dois líderes se sentaram um ao lado do outro e assinaram o que Trump chamou de acordo "muito abrangente", que definirá o caminho para as negociações a partir de agora.
O documento não foi imediatamente lançado, mas Trump permitiu que fosse fotografado. Imagens mostram que o acordo inclui uma promessa de Trump de "fornecer garantias de segurança" para a Coreia do Norte, enquanto "o presidente Kim Jong-un reafirmou seu compromisso com a completa desnuclearização da Península Coreana".
Quando perguntado sobre o compromisso de Kim com o processo de se livrar das armas nucleares da Coreia do Norte, Trump disse: "Estamos iniciando esse processo muito rapidamente. Muito, muito rapidamente".
Mas o documento é um esboço, sem detalhes ou prazos. Questões importantes, como a forma como os Estados Unidos verificará que a Coreia do Norte desistiu realmente de seu programa nuclear, ficaram para conversas futuras. A declaração conjunta compromete os dois líderes a acompanhar as reuniões e iniciar um novo relacionamento entre as nações, mas não diz que as relações diplomáticas seriam abertas.
Nenhum dos líderes foi específico sobre quais seriam os próximos passos, embora Trump tenha dito que "convidaria" Kim para um encontro na Casa Branca.
Mas por trás dos apertos de mão e sorrisos estava uma realidade mais espinhosa: os dois lados permaneciam divididos quanto a um plano de desnuclearização, que poderia levar anos para ser concluído e provavelmente enfrentaria obstáculos significativos ao longo do caminho.
Os EUA exigiram "desnuclearização completa, verificável e irreversível", conhecida como CVID - considerada o padrão ouro entre os especialistas em controle de armas. A Coreia do Norte queria "desnuclearização completa", que também envolve os Estados Unidos desistindo de sua dissuasão nuclear no Japão e na Coreia do Sul. No final, a declaração assinada entre os dois lideres usou a linguagem da Coreia do Norte. Quando perguntado por que ele não conseguiu um CVID, Trump disse que não teve tempo suficiente.
A respeito do futuro da Coreia do Norte, Trump afirmou após a cúpula que caberá aos norte-coreanos decidir que modelo pretendem seguir, citando que o país tem praias e poderia construir hotéis e receber clientes da região. "Pense nisso da perspectiva imobiliária", comentou ele, que fez sua carreira nos negócios como empresário no setor.
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Cúpula histórica
"Estamos muito orgulhosos do que aconteceu hoje", disse Trump antes de ele e Kim apertarem as mãos pela última vez. "Eu acho que toda a nossa relação com a Coreia do Norte e com a Península Coreana vai ser muito diferente do que foi no passado. Nós dois queremos fazer algo, nós dois vamos fazer alguma coisa".
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Trump acrescentou: "Vamos cuidar de um problema muito grande e muito perigoso para o mundo".
Kim agradeceu Trump por fazer a cúpula acontecer.
"Hoje nós tivemos uma reunião histórica e decidimos deixar o passado para trás", disse Kim através de um intérprete. "O mundo inteiro vai ver uma grande mudança".
O aperto de mão entre os dois líderes teria sido considerado quase inimaginável há apenas alguns meses, quando Trump e Kim trocaram ameaças e insultos pessoais. Nunca antes um presidente americano em exercício havia se reunido com um patriarca da família Kim, já que as administrações anteriores dos EUA recusaram-se a validar o regime em meio a provocações nucleares e abusos dos direitos humanos.
Enquanto isso, na principal estação de trem de Seul, os passageiros aplaudiram o aperto de mão entre Kim e Trump ao assistirem à cena em uma grande tela de TV.
"Estou esperançoso agora que as hostilidades vão diminuir", disse Lim Sung-gyu, um estudante universitário de 24 anos que está esperando para servir o exército da Coreia do Sul.
Repercussão no Irã
O Irã alertou a Coreia do Norte de que o presidente norte-americano pode anular qualquer acordo nuclear que tenha assinado com o ditador Kim Jong-un em Cingapura.
"Estamos diante de um homem que revoga sua assinatura quando está no exterior", disse nesta terça-feira (12) o porta-voz do governo iraniano, Mohammad Bagher Nobakht.
"Nós não sabemos com que tipo de pessoa o líder norte-coreano está negociando. Não está claro se ele [Trump] não vai cancelar o acordo antes de voltar para casa", afirmou Nobakht, segundo a agência estatal iraniana IRNA.
No mês passado, Trump retirou os EUA do acordo nuclear assinado com o Irã ainda no governo Barack Obama e restaurou sanções contra a economia de Teerã. O acerto firmado em 2015 entre EUA, Irã, França, Alemanha, Reino Unido, China e Rússia impôs limites ao programa nuclear de Teerã. Como contrapartida, sanções econômicas impostas ao país foram aliviadas, rompendo um isolamento do país persa.
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