Durante um telefonema em julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou repetidamente o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a investigar o filho do ex-vice-presidente Joe Biden. Trump disse cerca de oito vezes que trabalhasse com o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani em uma investigação que poderia prejudicar as pretensões do democrata que pode vir a concorrer com o atual presidente na eleição de 2020.
Giuliani já sugeriu que a pressão de Biden sobre a Ucrânia para combater a corrupção tinha a ver com uma investigação de uma companhia de gás de que seu filho era um diretor. Uma autoridade ucraniana disse neste ano que não havia evidência de qualquer irregularidade de Biden ou de seu filho, Hunter Biden.
No telefonema, Trump não mencionou uma provisão de ajuda americana à Ucrânia, disse uma das fontes, que não acredita que o presidente tenha oferecido qualquer contrapartida pela cooperação no caso. Congressistas investigam qualquer conexão entre a revisão da ajuda externa à Ucrânia e os esforços para pressionar Kiev a investigar Biden.
A Casa Branca não quis comentar o episódio. Em comunicado nesta sexta-feira, Biden pediu que o Executivo americano divulgue a transcrição do diálogo entre Trump e Zelensky. O presidente disse que a ligação foi "totalmente apropriada", mas não quis comentar se teria pedido ajuda na investigação sobre Biden. Ao mesmo tempo, reiterou seu pedido por uma investigação do esforço de Biden como vice-presidente para demitir o procurador-geral ucraniano. "Alguém tem que apurar isso", disse.
O que Trump supostamente "prometeu", e qual é o problema?
As principais perguntas que ainda estão sem resposta são essencialmente: O presidente Trump fez algum tipo de promessa a um governo estrangeiro (aparentemente a Ucrânia) que envolveria o uso de recursos oficiais do governo para ganho pessoal? E se ele não fez uma promessa, quão persistentes foram seus esforços para obter assistência estrangeira?
Um denunciante da comunidade de inteligência dos EUA apresentou uma queixa em 12 de agosto, alegando algum tipo de irregularidade em altos níveis do governo americano. Mas a queixa não foi divulgada nem compartilhada com o Congresso.
Uma reportagem do Washington Post descobriu nesta semana que a denúncia deste funcionário envolve Trump e alega que ele fez algum tipo de "promessa" a um líder estrangeiro. A imprensa soube então que a denúncia envolve a Ucrânia. Nesta sexta-feira à tarde, veio à tona que Trump havia pressionado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em uma ligação de 25 de julho para iniciar uma investigação envolvendo os Bidens. A informação foi dada pela primeira vez pelo Wall Street Journal, que disse que Trump pressionou Zelensky sobre o assunto cerca de oito vezes.
O inspetor-geral da comunidade de inteligência Michael Atkinson analisou a denúncia e determinou que ela era credível. Geralmente, isso significa que há confirmação além de apenas a fonte original. Atkinson também determinou que era uma questão "urgente", que é um limiar legal que requer a notificação das comissões parlamentares relevantes. Nesse caso, os comitês de inteligência.
Como isso envolve a Ucrânia?
A equipe de Trump, especificamente o seu advogado, Rudy Giuliani, já falou publicamente sobre o seu desejo de convencer o governo ucraniano a realizar certas investigações que podem trazer benefícios políticos para Trump. Isso inclui questões envolvendo o ex-presidente da campanha de Trump em 2016, Paul Manafort, que foi condenado à prisão, e a família Biden.
Giuliani neste verão chegou a planejar uma viagem à Ucrânia, que ele prontamente admitiu que pretendia beneficiar Trump, pressionando por investigações específicas. "Estou pedindo que eles façam uma investigação que já estão fazendo e que outras pessoas estão pedindo que eles parem", disse Giuliani ao New York Times em maio. "E eu vou lhes dar razões para eles não encerrarem [a investigação], porque essas informações serão muito, muito úteis para o meu cliente e podem ser úteis para o meu governo". Giuliani acabou cancelando a viagem em meio a reação negativa.
Também se sabe que Trump conversou com Zelensky, o presidente ucraniano, em 25 de julho - duas semanas e meia antes de o denunciante apresentar a queixa - e que o governo estava retendo US$ 250 milhões em ajuda militar para a Ucrânia no final de agosto, antes de pressão dos dois partidos para liberar os fundos.
Quanto isso pode prejudicar Trump e sua presidência?
Essa é a outra grande questão no momento. É muito cedo para saber se será provado que Trump fez algo errado. Mesmo que a denúncia seja divulgada, não é certeza que as coisas tenham acontecido exatamente como o denunciante disse. E apenas porque Trump pressionou por uma investigação dos Bidens não significa que haja uma contrapartida que possa ser comprovada.
Quaisquer violações legais específicas dependerão desses detalhes. Pedir ajuda estrangeira é problemático por si só, mas este é o mesmo presidente que pediu publicamente à Rússia que obtivesse os e-mails de Hillary Clinton em 2016 e indicou repetidamente que estava aberto à ajuda estrangeira. A possibilidade mais preocupante (levantada especificamente pela alegação de que houve uma "promessa") é que isso possa envolver corrupção flagrante do governo - a troca de favores para ganho pessoal.
No entanto, mesmo que Trump tenha violado a lei, as diretrizes do Departamento de Justiça dizem que um presidente não pode ser indiciado; portanto, qualquer remediação seria responsabilidade do Congresso, via possíveis processos de impeachment.
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