Entre os republicanos, o tabu do voto em favor da democrata Hillary Clinton na eleição presidencial americana se quebrou, com várias personalidades da direita rejeitando publicamente Donald Trump, que parece estar vivendo uma “tempestade perfeita” desde o fim das convenções dos partidos, na semana passada.
Mergulhado em uma das mais severas polêmicas de sua campanha - ao criticar a família de um soldado americano e muçulmano morto em combate -, o candidato republicano à Casa Branca foi alvo de um ataque duplo na terça-feira (2): viu o primeiro congressista do partido desertar e anunciar o apoio à democrata Hillary Clinton e foi duramente criticado pelo presidente Barack Obama, que pediu para que os republicanos abandonem seu candidato.
O congressista republicano de Nova York Richard Hanna denunciou a hipocrisia de seus colegas que criticam as declarações de Donald Trump sem, contudo, rejeitá-lo completamente.
“Eu considero que não é o suficiente denunciar suas palavras: ele não é capaz de representar o nosso partido e não pode liderar o nosso país”, escreveu Richard Hanna, que irá votar em Hillary Clinton.
“Trump se comporta como se ainda estivesse nas primárias, quando havia 17 candidatos”, lamentou seu aliado Newt Gingrich à rede Fox Business. “É necessário que faça a transição e se converta em um potencial presidente dos Estados Unidos, o que é um nível muito mais difícil”.
O líder do Partido Republicano, Reince Priebus, está, segundo o canal ABC, furioso como esta nova polêmica, ao passo que na semana passada a campanha do bilionário já havia sido dominada pelo pedido, supostamente “sarcástico”, de Donald Trump à Rússia para recuperar algumas mensagens privadas apagadas de Hillary Clinton.
De acordo com a NBC, um grupo de peso dos republicanos, incluindo o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, pretende pressionar diretamente Donald Trump para que entre na linha.
Desertores
Muitas vezes, a frágil trégua entre Donald Trump e os tenores do seu partido chegou à beira do abismo desde sua vitória nas primárias em maio. Mas, manteve-se, a duras penas, apesar das dissensões da convenção de investidura em Cleveland há duas semanas.
Até à data, a maioria dos líderes republicanos do Congresso, e do partido, diziam que apoiariam Donald Trump ou que não votariam nem no bilionário nem em Hillary Clinton.
Mas, depois das fortes polêmicas, as coisas começaram a mudar.
Nesta quarta (3), veio à tona que uma proeminente ativista republicana e captadora de fundos anunciou que apoiará a democrata Hillary Clinton nas presidenciais americanas e fornecerá dinheiro a sua campanha para tentar impedir que Donald Trump, a quem classificou de perigoso demagogo, vença as eleições.
“Votarei em Hillary, falarei com meus amigos republicanos para que a apoiem, doarei para sua campanha e tentarei arrecadar dinheiro para ela”, disse Meg Whitman ao jornal The New York Times.
As deserções aceleraram após o fim das primárias, em junho: Brent Scowcroft, ex-conselheiro de segurança nacional do presidente George H. W. Bush; Richard Armitage, ex-vice-secretário de Estado do presidente Bush filho; Hank Paulson, ex-secretário do Tesouro do mesmo presidente; e vários ex-deputados anunciaram que votariam em Hillary Clinton.
Na convenção democrata, até mesmo alguns republicanos tomaram a palavra, entre eles Michael Bloomberg, ex-republicano que virou independente quando prefeito de Nova York.
Hillary Clinton, que prometeu em seu discurso de investidura na Filadélfia de ser “a presidente dos democratas, republicanos, independentes”, tenta ativamente atrair republicanas para o seu lado.
Confrontado a estes ataques, Donald Trump segue em diante. Longe de representar o papel dos homens de Estado magnânimos, ele prometeu retaliação.
Em uma entrevista ao Washington Post, prometeu financiar no futuro um comitê político para lutar contra os candidatos, democratas como republicanos. Incluindo Ted Cruz, seu ex-rival nas primárias que continua a enfrentá-lo? “Talvez”, respondeu Donald Trump.
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