A política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de separar crianças imigrantes de pais que cruzam ilegalmente a fronteira mexicana está sendo amplamente criticada e é questionada até mesmo pela sua esposa, Melania Trump.
A primeira-dama, ela mesma imigrante, fez uma incursão rara em questões políticas neste domingo (17) com uma declaração de que os EUA devem ser um país que "governa com coração". Por meio de sua porta-voz Stephanie Grisham, ela afirmou que “detesta ver crianças separadas de suas famílias e espera que ambos os lados [republicanos e democratas] possam finalmente se unir para alcançar uma reforma imigratória bem-sucedida”.
A ex-primeira-dama Laura Bush também foi a público criticar a política migratória. Em uma artigo publicado pelo jornal Washington Post neste final de semana ela escreveu que "essa política de tolerância zero é cruel. É imoral. E isso parte meu coração". “Nosso governo não deve estar no negócio de armazenar crianças em lojas convertidas em abrigos ou fazer planos para colocá-las em barracas no deserto”.
"Essas imagens estranhamente lembram os campos de internação nipo-americanos da Segunda Guerra Mundial, agora considerados como um dos episódios mais vergonhosos da história dos EUA", acrescentou Bush.
As declarações das primeiras-damas ocorrem em um momento em que há uma crescente preocupação quanto ao impacto da política de imigração adotada pela administração Trump. Nesta segunda-feira, em uma declaração publicada nesta segunda-feira (18), o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, disse que está profundamente preocupado com a situação. “O pensamento de que qualquer Estado poderia dissuadir os pais [de imigrar ilegalmente aos EUA] ao infligir tais abusos às crianças é inconcebível”, escreveu.
Em seis semanas, entre abril e maio, quase duas mil crianças foram separadas à força de seus pais, de acordo com o Departamento de Segurança Nacional.
A explicação do governo
Kirstjen Nielsen, a secretária de Segurança Nacional, foi ao Twitter no final do domingo para tentar esclarecer como a administração está lidando com as crianças imigrantes que não possuem documentação.
"Não temos uma política de separar as famílias na fronteira. Ponto", tuitou Nielsen - uma declaração que contradiz o presidente. Trump reconheceu que a política existe, mas se recusou a aceitar a responsabilidade por ela, colocando a culpa nos democratas.
“Como eu já disse muitas vezes antes, se você está procurando asilo para sua família, não há razão para infringir a lei e cruzar ilegalmente os portos de entrada", disse ela em uma postagem. Em seguida complementou: "Para aqueles que buscam asilo nos portos de entrada, continuamos a política das administrações anteriores e só separaremos se a criança estiver em perigo, não houver relação de custódia entre membros da ‘família’ ou se o adulto violar uma lei".
Funcionários do governo Trump dizem que a política visa impedir que os imigrantes sem documentação façam a jornada para a fronteira dos EUA com seus filhos. Mas o próprio presidente tem repetidamente culpado os democratas, citando uma lei, sem especificá-la, que ele diz que exige que as crianças sejam tiradas de pais que cruzam a fronteira ilegalmente.
Porém, na Casa Branca ninguém pode citar qual é a lei norte-americana que dita as separações, iniciadas em abril, depois que o procurador-geral Jeff Sessions anunciou "tolerância zero" para travessias ilegais de fronteira. Os adultos detidos depois de atravessarem a fronteira fora de um posto oficial de entrada devem ser presos e processados, de acordo com o decreto de Sessions. Como as crianças não respondem pelo crime, elas não podem ficar junto de seus pais, o que faz com que elas sejam colocadas sob a custódia do governo norte-americano.
Antes desta política ser adotada, famílias que cruzavam a fronteira dos EUA ilegalmente eram submetidas a procedimentos de deportação, que não requerem separação.
A política migratória ‘mais dura’ tem funcionado?
O número de famílias que tentam entrar nos EUA sem documentação diminuiu ligeiramente entre abril e maio, mas em comparação com maio de 2017, houve um aumento de 435%. O número de crianças desacompanhadas apreendidas passou de 4.302 em abril para 6.405 no mês passado, de acordo com dados alfandegários do Departamento de Segurança Nacional.
Nas duas primeiras semanas da politica de “zero tolerância”, 658 menores - incluindo muitos bebês e menores de três anos - foram separados dos adultos com quem viajavam. Segundo a BBC, em muitos casos as famílias são reunidas depois que os pais são liberados da prisão, entretanto, há relatos de famílias que ficaram separadas por semanas e até meses.
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Até o momento os dados são insuficientes para que seja possível alegar consistentemente que a política mais dura esteja diminuindo a imigração ilegal. E também não está claro se isso vai ocorrer porque muitas dessas pessoas vão em direção aos Estados Unidos para tentar escapar de uma realidade muito cruel, de pobreza e violência.
A situação das crianças que ficam separadas de seus pais
Quando seus pais ou adultos que as acompanham são presos, as crianças ficam sob a custódia do Departamento de Saúde e Serviços Humanos e são enviados a parentes, lares adotivos ou abrigos - que estão ficando lotados.
Há cerca de um ano, uma loja do Walmart no Texas foi transformada em abrigo para crianças imigrantes. A Casa Padre, como foi batizada, abriga quase 1.500 crianças sob custódia do governo federal. Críticos da política de Trump temem que os abrigos, incluindo a Casa Padre, não tenham número suficiente de funcionários ou a experiência para ajudar tantas crianças pequenas em circunstâncias tão difíceis.
Segundo a psicóloga da Universidade de Minnesota Megan Gunnar, separar as crianças de seus pais ou cuidadores poderia ter efeitos devastadores a longo prazo em crianças pequenas, que provavelmente desenvolverão o que é chamado de estresse tóxico em seus cérebros, uma vez separadas das pessoas em quem confiam. Esse tipo de trauma emocional pode levar a problemas de saúde, como doenças cardíacas e transtornos por abuso de substâncias.
Cerca de 4.600 profissionais de saúde mental e 90 organizações assinaram uma petição para que o presidente Donald Trump, o procurador-geral Jeff Sessions e vários oficiais eleitos parem com a política de separar as crianças de seus pais. A petição diz:
"Essas crianças são empurradas para centros de detenção muitas vezes sem um advogado ou advogada e, possivelmente, sem a presença de qualquer adulto que fale sua língua. Queremos que você imagine por um momento como isso seria para uma criança: fugir do lugar que você chamou de casa porque não é seguro e, em seguida, embarcar em uma perigosa viagem para um destino desconhecido, apenas para ser levado para longe daqueles que lhe transmitem segurança, sem entender o que acabou de acontecer com você ou se você vai ver sua família novamente. E que a única coisa que você fez para merecer isso é fazer o que as crianças fazem: ficar perto dos adultos por segurança".
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