O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perguntou ao presidente Michel Temer se ele tinha certeza que não queria uma solução militar para a crise da Venezuela. Foi num jantar ocorrido em setembro de 2017, em Nova York, na véspera da assembleia-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Além de Temer, outros convidados eram o então presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, e a vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti. A mesma pergunta foi feita a todos, segundo relatou ao jornal O Estado de S. Paulo uma pessoa que estava presente. De todos, Trump ouviu que a opção militar estava totalmente fora de cogitação.
Entenda: Trump considerou invadir a Venezuela, afirma agência de notícias
Segundo a fonte, a pergunta foi feita num momento em que a conversa seguia muito descontraída. Por isso, os convidados ficaram sem saber se ele estava falando sério ou brincando. Mesmo assim, os líderes latino-americanos foram muito claros ao rejeitar a ideia.
Oficialmente, o governo brasileiro nega que a abordagem tenha sido feita. "(Trump)Nunca falou com o presidente Temer sobre isso", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Ele acrescentou que o tema tampouco foi levantado pelo vice-presidente dos EUA, Mike Pence, nas reuniões que manteve no Palácio do Planalto e no Itamaraty no dia 26, quando esteve no Brasil. "E isso, para nós, está absolutamente fora de questão", afirmou o chanceler. "Zero."
Um mês antes do jantar em Nova York, Trump havia causado grande preocupação na região ao declarar publicamente que não descartava a possibilidade de adotar a "opção militar" para a Venezuela. Na ocasião, o governo brasileiro reagiu com dureza. "O tempo do big stick já passou", disse Aloysio à época.
O Mercosul, que na ocasião havia acabado de suspender a Venezuela, emitiu uma nota rechaçando o uso da força. Embora não tenha falado abertamente em uma ação militar quando esteve aqui no mês passado, Pence afirmou que o "colapso" na Venezuela é um problema de segurança coletiva da região. Isso foi dito ao lado de Temer, após uma referência à parceria entre o Brasil e os Estados Unidos na área de defesa e ao fato de que o Brasil possuir a segunda maior Força Armada do Hemisfério Ocidental.
Confira também: 3 motivos pelos quais Trump não deveria considerar uma ação militar na Venezuela
As autoridades brasileiras não viram essa fala como um sinal na direção de uma intervenção militar conjunta. Até porque, segundo relatam, o tema não foi levantado nas reuniões a portas fechadas. Para o governo brasileiro, não se trata de um problema de segurança e sim de um caso de ruptura com a ordem democrática. Daí as ações para suspender a Venezuela do Mercosul e da Organização dos Estados Americanos (OEA), em ambos os casos com base na cláusula democrática.