O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (23) que o Sudão concordou em normalizar relações com Israel. O anúncio foi feito a jornalistas na Casa Branca enquanto Trump conversava por telefone com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, e o general Abdel Fattah al-Burhan, líder do governo militar transitório do Sudão.
O Sudão é o terceiro país árabe que concordou em reconhecer Israel nos últimos dois meses, após os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein assinarem acordos com o Estado judeu. "Estamos expandindo o círculo de paz tão rapidamente com sua liderança", disse Netanyahu a Trump na chamada telefônica, segundo o jornal Times of Isarel. Trump respondeu dizendo que muitos outros acordos devem ser anunciados.
Segundo um comunicado conjunto divulgado pelos três países na sexta-feira, os líderes concordaram com "a normalização das relações entre o Sudão e Israel e com o fim do estado de beligerância entre suas nações". Os primeiros passos para essa normalização vão se dar na área econômica e de comércio e posteriormente na esfera diplomática.
O entendimento entre as partes só foi possível depois que Trump anunciou, no início da semana, a retirada do Sudão da lista de países patrocinadores do terrorismo, permitindo que o país africano volte a ter acesso a empréstimos internacionais. Em contrapartida, o Sudão se comprometeu a pagar US$ 335 milhões em compensação a vítimas norte-americanas e suas famílias por ataques às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998, e pelo atentado ao USS Cole, destroier da Marinha americana, em 2000. Na época, o Sudão acobertava atividades terroristas de grupos ligados à al-Qaeda.
O reconhecimento de Israel por parte do Sudão tem um peso simbólico importante porque foi na capital do país, Cartum, que em 1967 os países da Liga Árabe (Egito, Sudão, Síria, Jordânia, Líbano, Iraque, Argélia e Kuwait) assinaram uma resolução comprometendo-se a não reconhecer, não negociar e não fazer as pazes com Israel – um documento que ficou conhecido como "o pacto dos três nãos".
Sobre essa perspectiva histórica, o embaixador de Israel nos Estados Unidos tuitou: "De 3 NÃOS a 3 SINS: Em 1967, o mundo árabe declarou de forma infame, na capital do Sudão, que não haveria nenhum reconhecimento, nenhuma negociação e nenhuma paz com Israel. Hoje, o Sudão se junta aos Emirados Árabes Unidos e Bahrein como o terceiro país árabe a fazer a paz com Israel em 2020".
Com o acordo, o Sudão, além de estar apto para aumentar seus laços comerciais com o Ocidente, deve receber investimentos e ajuda israelenses, especialmente nas áreas de tecnologia e agricultura. Netayahu afirmou, em um vídeo, que seu governo vai se encontrar em breve com representantes do governo sudanês para iniciar as negociações.
O Sudão está vivendo um momento delicado. Depois da deposição do ditador Omar Hassan al-Bashir, em 2019, um governo militar transitório assumiu o país, mas a população continua insatisfeita com a economia - em crise - e exige novas eleições, marcadas só para 2022.