Os agentes de fronteira dos EUA deixarão, por ora, de recomendar a denúncia criminal de imigrantes acompanhados de menores que cruzem a fronteira ilegalmente -o que, na prática, interrompe a política de tolerância zero anunciada pelo governo de Donald Trump. A informação foi confirmada pelo chefe da Patrulha da Fronteira Americana (CBP, na sigla em inglês), Kevin McAleenan, nesta segunda-feira (25).
A Casa Branca informou que esta é uma solução "temporária", que se deve à absoluta "falta de recursos" do Estado para processar e abrigar todos os imigrantes, segundo a secretária de imprensa, Sarah Sanders. "Nós estamos simplesmente sem recursos, sem espaço", afirmou. Atualmente, cerca de 40 mil pessoas são detidas por mês, ao tentarem entrar ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira com o México.
O alto fluxo de estrangeiros, somado à política de tolerância zero da administração Trump - que passou a processar criminalmente todos os adultos pela travessia ilegal -, causou caos nas cortes federais americanas e lotou os centros de detenção de imigrantes.
No mês de abril, quando passou a valer a nova estratégia, cerca de 8.000 pessoas foram processadas e encaminhadas a prisões federais. Foi também essa estratégia que levou à separação de centenas de crianças de seus pais, que atravessavam a fronteira em família. Por lei, menores de 18 anos não podem permanecer em presídios federais, e ficavam sob a guarda de abrigos mantidos pelo governo.
Com a medida anunciada nesta segunda-feira, os imigrantes que atravessam a fronteira com menores voltarão a ter seus casos tratados em cortes de imigração, e não em ações criminais, como vinha ocorrendo. Só serão denunciados estrangeiros que viajem sozinhos ou que cometam outros crimes, somados à travessia ilegal (como tráfico de drogas, de pessoas ou reentrada ilegal no país).
Divergências
O anúncio não foi endossado pelo Departamento de Justiça, que estabeleceu a política de tolerância zero. O secretário de Justiça, Jeff Sessions, em pronunciamento nesta segunda, voltou a afirmar que todos os adultos que cruzarem a fronteira sem documentos serão denunciados.
Mas o governo estava próximo de atingir a capacidade máxima do sistema de detenção de imigrantes, e já havia solicitado até mesmo ao Pentágono a cessão de bases militares para abrigar as famílias -que o governo promete reunificar.
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Nesta segunda, o secretário de Defesa, James Mattis, informou que duas bases militares no estado do Texas, um dos que fazem divisa com o México, foram escolhidas para abrigar imigrantes que atravessam a divisa ilegalmente. Eles serão acolhidos em tendas temporárias, semelhantes às que foram usadas para receber crianças e adolescentes em abrigos improvisados em cidades próximas à fronteira sul do país.
Mattis comparou a medida ao trabalho das Forças Armadas durante crises humanitárias. "Isso é algo que podemos fazer", declarou o secretário. Para ele, prover esse tipo de abrigo a pessoas em risco, sejam "refugiados em barcos do Vietnã ou pessoas que deixaram suas casas devido a um furacão", é um papel logístico apropriado para os militares.
Os locais das bases escolhidas não foram revelados. Mas, de acordo com a agência Associated Press, a escolha recaiu sobre as unidades de Fort Bliss, na cidade fronteiriça de El Paso, e Goodfellow, em San Angelo, oeste do Texas.
Menores separados
Pelo menos 2.300 menores que atravessaram a fronteira com os pais foram separados desde abril. Cerca de 50 deles eram brasileiros. A maioria, porém, vem de países da América Central , como Honduras, El Salvador e Guatemala, afetados pela violência de gangues que recrutam crianças à força.
O Departamento de Defesa não confirmou oficialmente quantas pessoas serão acolhidas nesses locais. O pedido do governo é que o Pentágono contribua com 20 mil vagas -o que triplicaria a capacidade do sistema de abrigos para menores imigrantes.
Depois de ser alvo de duras críticas pela prática de afastar crianças de seus parentes, Trump determinou na semana passada que o expediente fosse suspenso. Até agora, 522 menores reencontraram suas famílias, segundo o Departamento de Segurança Interna. Cerca de 1.800 continuam longe dos pais.