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ESTADOS UNIDOS

Trump visita Pittsburgh após massacre e encontra hostilidade

Presidente Donald Trump e a primeira-dama Melania Trump visitam memorial em homenagem às vítimas do tiroteio na sinagoga Tree of Life, em Pittsburgh | SAUL LOEB/AFP
Presidente Donald Trump e a primeira-dama Melania Trump visitam memorial em homenagem às vítimas do tiroteio na sinagoga Tree of Life, em Pittsburgh (Foto: SAUL LOEB/AFP)

O presidente Donald Trump visitou a enlutada Pittsburgh nesta terça-feira (30) em uma viagem que tinha o objetivo de unificação após a tragédia, mas sua chegada provocou protestos de moradores e consternação de autoridades locais nesse momento após o tiroteio na sinagoga que deixou 11 pessoas mortas

A viagem de um dia planejada às pressas – que o prefeito da cidade pediu que Trump não fizesse – foi executada sem nenhum itinerário público antecipado e sem políticos do Congresso ou locais. Alguns se recusaram a acompanhar o presidente e outros não foram convidados. 

Trump não falou publicamente durante sua breve viagem, em vez disso prestou homenagem na sinagoga Tree of Life, colocando flores para as 11 vítimas, e foi a um hospital visitar policiais que foram feridos no tiroteio de sábado. Mas a viagem de Trump para a área logo após o ataque abriu as tensões políticas na cidade majoritariamente democrata, já que os moradores indignados com a chegada de Trump protestaram, mesmo enquanto o casal presidencial tentou se manter discreto durante a visita solene. 

“O sentimento na comunidade é o de que eles não acharam que era hora de uma sessão de fotos políticas”, disse o deputado democrata Mike Doyle, cujo distrito do Congresso cobre o bairro de Squirrel Hill, onde fica a sinagoga. “Há fortes sentimentos na comunidade sobre ele e a natureza desagregadora de sua retórica”. 

Trump enfrentou acusações nos últimos dias de que seu tom político duro e seus esforços para despertar temores públicos sobre os imigrantes fomentaram um crescente extremismo abraçado pelo homem acusado no massacre da sinagoga e pelo suspeito preso na semana passada depois que bombas foram enviadas para críticos proeminentes do presidente. Trump recuou, dizendo que a mídia é a responsável pelas crescentes tensões em todo o país. 

Quando o presidente pousou no sudoeste da Pensilvânia na terça-feira, quase 2.000 manifestantes estavam reunidos próximo ao local onde algumas das vítimas do tiroteio haviam sido enterradas naquele dia. Os parentes de pelo menos uma vítima se recusaram a se encontrar com Trump, apontando para suas declarações “inapropriadas” imediatamente após o tiroteio, quando o presidente sugeriu que o tiroteio poderia ter sido evitado se a sinagoga tivesse um guarda armado. 

As autoridades municipais disseram que estavam preocupadas com os protestos, que ocorreram no mesmo dia que os funerais de algumas das vítimas, e que não estavam envolvidas no planejamento da visita – as autoridades souberam da visita apenas quando a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, anunciou na segunda-feira. 

A Casa Branca também deixou de convidar dois congressistas democratas que representam a área – Doyle e o senador Robert Casey Jr. 

“Não recebemos nenhuma ligação ou qualquer tipo de correspondência”, disse Doyle. 

Um porta-voz do prefeito democrata da cidade, Bill Peduto, disse que foi convidado a aparecer com o presidente, mas recusou. Peduto pediu a Trump para não visitar Pittsburgh até depois dos funerais para as vítimas, dizendo que “toda a atenção [na terça-feira] deveria ser para as vítimas”. 

A família de uma dessas vítimas – Daniel Stein, 71 anos – recusou uma visita com Trump, em parte por causa dos comentários de Trump sobre ter guardas armados. 

“Todos sentem que eles foram inapropriados”, disse Stephen Halle, sobrinho de Stein. “Ele estava culpando a comunidade”. 

Alguns moradores disseram que receberam bem o presidente, mesmo que isso tenha irritado alguns de seus vizinhos. 

“Acho ótimo que ele tenha tirado tempo para dar conforto e paz às famílias que estão sofrendo”, disse Sandy DeFrancesco, que trabalha no Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, onde Trump visitou quatro policiais feridos, bem como seus familiares e amigos. 

“Ele é nosso presidente”, disse ela. “Ele merece o respeito que outros presidentes receberam”. 

Itinerário

Trump chegou pouco antes das 16h e foi recebido por duas pessoas no Aeroporto Internacional de Pittsburgh: o coronel da Guarda Aérea da Pensilvânia, Mark Goodwill, e sua esposa, Michele. Viajando com Trump estavam a primeira dama Melania Trump; a filha Ivanka Trump e o genro Jared Kushner, conselheiros seniores da Casa Branca que são judeus; o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin; o chefe de Gabinete John Kelly; e Ron Dermer, embaixador de Israel nos Estados Unidos. 

Dentro da sinagoga, Trump e sua esposa acenderam velas em homenagem a cada uma das 11 vítimas – mas não entraram na área da cena do crime, segundo a Casa Branca. O casal presidencial também colocou uma flor branca e uma pequena pedra nas estrelas do lado de fora da sinagoga que foram erguidas em memória das vítimas. 

Mais tarde, Trump e sua família dirigiram-se ao centro médico para visitar os policiais feridos. 

Quando a equipe avançada da Casa Branca partiu para Pittsburgh na noite de segunda-feira, havia poucas informações sobre o cronograma de Trump na terça-feira. As autoridades municipais e locais não receberam nenhum aviso antecipado sobre os planos da Casa Branca e ficaram preocupados com o fato de a visita poder prejudicar a viagem das famílias enlutadas. 

Ainda assim, alguns dos aliados do Congresso mais próximos de Trump defenderam a decisão do presidente de viajar para Pittsburgh – uma viagem que vem antes de uma série de comícios de campanha que colocarão o presidente na estrada até o dia da eleição. E autoridades da Casa Branca disseram que seria uma viagem considerada por muitos como respeitosa. 

“Estou contente que o presidente esteja indo”, disse o republicano Steve Scalise, na terça-feira para a Fox News. “Acho que é uma demonstração importante que ele vá até lá para mostrar que somos todos americanos nesse tipo de tragédia, e que vamos permanecer uns com os outros”. 

A Casa Branca pediu aos quatro principais líderes do Congresso – o presidente da Câmara Paul Ryan, (republicano de Wisconsin), a líder da Minoria na Câmara dos Representantes Nancy Pelosi (democrata da Califórnia), o líder da Maioria no Senado Mitch McConnell (republicano de Kentucky), e o líder da Minoria no Senado Charles Schumer (democrata de Nova York) –que acompanhassem Trump a Pittsburgh, mas todos recusaram, de acordo com três autoridades familiarizadas com os convites. 

Um assessor de McConnell, que na segunda-feira denunciou os tiroteios como “crimes de ódio”, disse que ele “não podia comparecer”. Uma porta-voz de Ryan disse que ele não poderia fazer uma viagem em curto prazo. Ao contrário de Casey, o senador Patrick Toomey, republicano da Pensilvânia, foi convidado para se juntar a Trump em Pittsburgh, mas um porta-voz disse que Toomey – que havia participado de uma vigília e se reunido com policiais e líderes judeus em Pittsburgh após o tiroteio – havia compromissos agendados em outros locais.

A visita de Trump aconteceu enquanto Pittsburgh passava para o ritual sombrio que segue os tiroteios em massa: uma processão de funerais, um após o outro, oferecendo a chance de celebrar a vida das vítimas e lamentar o que foi perdido no sábado. 

Os comentários e a retórica incendiária de Trump contribuíram para as objeções que sua visita recebeu antes de o Air Force One pousar. Dezenas de milhares de pessoas assinaram uma carta aberta de um grupo judeu progressista baseado em Pittsburgh dizendo que ele não seria bem-vindo “até que você denuncie totalmente o nacionalismo branco” e “cesse seu ataque a imigrantes e refugiados”. 

Cerca de uma hora antes de Trump chegar, mais de cem manifestantes lotaram uma esquina em Squirrel Hill, o bairro predominantemente judeu onde a sinagoga está localizada e muitas das vítimas viviam. 

“Isso não aconteceu em um vácuo”, disse Ardon Shorr. “Há uma tendência crescente de nacionalismo branco. E isso foi permitido por Trump, que trafega no tipo de teorias de conspiração que sabemos que foram as mais importantes na mente do atirador no último sábado”. 

O caso

Autoridades dizem que Robert Bowers, o acusado do massacre, de 46 anos, matou 11 pessoas na sinagoga e depois feriu policiais que atenderam o caso dizendo: “Eu só quero matar judeus”. 

Essas declarações continuaram quando ele chegou ao Hospital Geral de Allegheny, segundo o diretor do hospital, que contou a repórteres locais que pelo menos três dos médicos e enfermeiros que cuidaram do suspeito eram judeus. Bowers foi baleado várias vezes durante a batalha com a polícia. 

“Estamos aqui para cuidar de pessoas doentes”, disse Jeffrey Cohen, diretor do hospital e membro da sinagoga, à afiliada da WTAE. “Não estamos aqui para julgar você... Estamos aqui para cuidar de pessoas que precisam da nossa ajuda”. 

Bowers, que enfrenta dezenas de acusações federais e estaduais, incluindo acusações de crimes de ódio e homicídio, foi liberado do hospital na manhã de segunda-feira, pouco tempo antes de fazer sua primeira aparição no tribunal para as acusações federais que ele enfrenta. 

O escritório do procurador distrital do Condado de Ellegheny Stephen Zappala Jr. disse que as autoridades federais negaram sua tentativa de fazer acusações estaduais a Bowers. Zappala preferia que os moradores locais julgassem Bowers, mas disse que deixaria o caso federal prosseguir e colocar as acusações do estado em espera. 

Os investigadores se debruçaram sobre o passado e a vida de Bowers desde o tiroteio. Ele tem sido descrito por pessoas que o conheciam como um solitário comum, até esquecível, na vida real, enquanto suas postagens nas mídias sociais estavam repletas de discursos cheios de ódio dirigidos ao povo judeu e outros. 

Autoridades federais concluíram que Bowers adquiriu legalmente e possuía todas as armas recuperadas na sinagoga Tree of Life e na sua casa, afirmou na terça-feira o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos. 

Os jornalistas do Washington Post Moriah Balingit, Kyle Swenson, Kayla Epstein e Gabriel Pogrund em Pittsburgh e Avi Selk, Alice Crites e Eli Rosenberg em Washington contribuíram para esta reportagem.

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