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Cúpula da otan

Trump volta a atacar aliados e pede que eles dupliquem gastos com defesa

Líderes dos países-membro da Otan posam para foto, antes de um jantar de trabalho, em Bruxelas | BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
Líderes dos países-membro da Otan posam para foto, antes de um jantar de trabalho, em Bruxelas (Foto: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP)

O presidente americano, Donald Trump, fez na quarta-feira, um pedido ambicioso por um forte aumento dos gastos com defesa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pressionando para que duplique o compromisso com gastos com defesa. A solicitação foi depois que ele discursou contra a Alemanha e outros aliados.

A demanda, pedida durante uma reunião a portas fechadas dos líderes da OTAN, aumentaria radicalmente a quantidade de dinheiro canalizado para fins militares na aliança ocidental.

Apesar de Trump ter se juntado a outros líderes da OTAN na aprovação de um amplo conjunto de planos para reforçar as defesas contra a Rússia e o terrorismo, o presidente dos EUA reclamou que a Europa está tirando vantagem do apoio militar dos EUA ao continente. Ele pediu seus colegas para que aumentem substancialmente as metas que ainda não foram alcançadas. 

A medida garantiria bilhões para defesa. Mas, nem mesmo os Estados Unidos - que gastam mais dinheiro em defesa do que qualquer outra nação no mundo - atendem à nova meta de Trump de gastar anualmente 4% do produto interno bruto (PIB). Washington gastou 3,6% no ano passado. 

"Durante os comentários feitos pelo presidente na cúpula da Otan, ele sugeriu que os países não só cumpram seu compromisso de gastar de 2% do PIB com defesa, mas aumentem para 4%. O presidente levantou essa mesma questão quando esteve na Otan no ano passado", disse Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, disse, por meio de um comunicado. 

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"O presidente Trump quer ver nossos aliados compartilharem mais este peso e que, no mínimo, cumpram suas obrigações já estabelecidas", disse ela. 

Questionado sobre as demandas de Trump por mais gastos com a defesa, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, sugere que o foco deveria se concentrar ser conseguir que todos os países-membros atinjam a meta atual de 2%. Apenas oito dos 29 países da Aliança Atlântica, como também é conhecida a Otan, estão no caminho para atingir a meta de 2% neste ano. 

Apesar da postura belicosa e da retórica de Trump, os aliados procuraram projetar uma unidade na conclusão das reuniões em Bruxelas. "Temos desentendimentos, mas o mais importante é que temos decisões que impulsionando e fortalecendo esta aliança", disse Stoltenberg. "No final do dia, concordamos que a América do Norte e a Europa estão mais seguras juntas." 

A decisão de assinar os planos de defesa da OTAN sugere que Trump está retardando a possibilidade de reduzir o apoio à aliança, apesar de sua raiva ao dizer que a Europa está tirando proveito do guarda-chuva de segurança dos EUA. Os líderes da Otan, entretanto, estão preocupados que ele fará concessões ao presidente russo, Vladimir Putin, quando os dois se encontrarem na segunda-feira em Helsinque, na Finlândia. 

Pesadas críticas 

 No início do dia, Trump não perdeu tempo em passar à ofensiva, quando iniciou uma semana de diplomacia de alto nível nos dois lados da antiga divisão da Guerra Fria.  A série de reuniões - começando com a Otan e culminando por uma cúpula com Putin - foi amplamente estruturada em torno das alegações de Trump de que Washington tem uma carga injusta para ajudar a proteger seus aliados. 

"Até onde eu sei, a Alemanha é refém da Rússia porque recebe grande parte de sua energia daquele país", disse Trump ao secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em uma das mais duras conversas, a portas fechadas, na história da aliança. "Precisamos falar sobre os bilhões e bilhões de dólares que estão sendo pagos ao país do qual se supõe que devemos proteger", afirmou o presidente, referindo-se às importações europeias de gás natural russo. 

Trump reclamou amargamente sobre os gastos de defesa da Europa, dizendo que as nações da Otan estavam aproveitando a generosidade militar dos EUA ao mesmo tempo em que ofereciam condições comerciais injustas às empresas americanas. 

Um alvo favorito de sua ira tem sido a Alemanha, que não cumpriu seus compromissos de gastos com a Otan e está iniciando a construção de um segundo gasoduto em direção à Rússia. A Alemanha e outros parceiros europeus da Aliança Atlântica argumentam, no entanto, que aumentaram as contribuições para a aliança militar e planejam dar um passo adiante nos próximos anos. 

A liderança da Alemanha tem dito que o gasoduto é uma decisão comercial privada. Ela reluta em interferir nos planos. 

A acusação de influência russa pode ter sido particularmente feita sob medida para a chanceler alemã Angela Merkel, que cresceu na Alemanha Oriental controlada pelos comunistas. "Eu mesmo experimentei uma parte da Alemanha controlada pela União Soviética, e hoje estou muito feliz por estarmos unidos em liberdade como a República Federal da Alemanha", disse Merkel. "Decidimos nossas próprias políticas e tomamos nossas próprias decisões." 

Em comentários dentro da reunião a portas fechadas, ela foi ainda mais longe em suas duras críticas contra Trump, segundo dois funcionários que estavam presentes e pediram para não serem identificados. Em linguagem firme e sem emoção, Merkel disse aos outros 28 líderes como Putin, uma vez, serviu como agente da KGB e espião em seu próprio país, deixando claro que tinha pouca tolerância porque lhe disseram que seu país era controlado pelo Kremlin. 

O líder americano viajou para a Europa dizendo que a cúpula de segunda-feira com Putin será a mais fácil de sua semana diplomática - uma afirmação incomum que derrubou a crença dos líderes da OTAN de que a aliança deveria projetar uma frente forte e unida contra um rival estratégico. 

Aliados na mira 

Trump preferiu mirar nos aliados. Mesmo Stoltenberg, um ex-primeiro-ministro norueguês que cultivou uma relação positiva com o presidente americano, ficou na mira dele. O dirigente da OTAN foi interrompido por Trump depois de ter começado a explicar que os aliados negociavam com os russos mesmo durante a Guerra Fria. 

Antes, o presidente americano exigiu crédito de Stoltenberg por forçar um aumento dos orçamentos de defesa da OTAN. "Também foi por causa de sua liderança", disse Stoltenberg a Trump. Os aumentos orçamentários começaram após a anexação da península da Criméia na Ucrânia em 2014, e eles se aceleraram na era Trump, em resposta às críticas do presidente dos EUA. 

"Se supõe que devemos proteger a Alemanha, mas eles estão recebendo sua energia da Rússia", disse Trump a Stoltenberg, enquanto os auxiliares do lado americano e da OTAN se acomodavam em seus assentos e sentavam-calados. O chefe de gabinete, John Kelly, sacudiu a cabeça enquanto o embaixador dos Estados Unidos na ONU, Kay Bailey Hutchison, olhava para o teto. "Então explique isso", disse Trump. "E isso não pode ser explicado, e você sabe disso." 

A crítica de Trump gerou ansiedade imediata na Alemanha. O jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique, mancheteou: "Não é apenas ruim, é catastrófico". 

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As relações energéticas da Alemanha com a Rússia há muito preocupam Washington e a Europa Oriental, que temem que o gasoduto Nord Stream 2, que passa pelas nações bálticas e a Polônia, possa ser utilizado para impedi-los de receber energia. O ex-chanceler alemão Gerhard Schroeder é um dos principais executivos da empresa controlada pelo governo russo que administra o gasoduto. 

Trump tem promovido as exportações de gás natural americano para a Europa, como uma alternativa à Rússia como fonte de suprimento. O combustível americano é mais caro, por causa das despesas para enviá-lo. 

O enfoque cirúrgico de Trump em relação à Alemanha incomodou Berlim, que se acostumou a um sólido relacionamento com o presidente Barack Obama. 

Lista de esforços 

Os membros da OTAN concordaram com uma longa lista de esforços que acreditam que, segundo acreditam, fortalecerão a aliança contra a Rússia e outros rivais. 

Os líderes planejam revelar duas novas sedes militares, uma que ajudaria a proteger o Oceano Atlântico em tempos de conflito e a outra para acelerar mobilizações militares n a Europa. Eles reforçarão as missões da OTAN no Iraque e no Afeganistão. E se espera que reconfirmem uma posição mais dura na anexação da Criméia pela Rússia, em 2014, e mantenham a promessa de de pressionar o Kremlin por meio de sanções e diplomacia. 

Medo em relação a Trump 

Alguns diplomatas temem que Trump possa retirar sua assinatura do acordo que já foi aprovado pelo conselheiro de segurança nacional, John Bolton, repetindo um movimento que o presidente fez no mês passado, na cúpula do G-7 no Canadá. 

Isto deixaria a aliança em parafuso, ao levantar a questão sobre se o membro mais poderoso da aliança ainda estaria disposto a defender seus aliados se um deles fosse atacado. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, acredita que uma OTAN mais fraca poderia aumentar as tensões globais e poderia ser mais cara em longo prazo, afirmou um funcionário de seu gabinete. 

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Os líderes da OTAN também temem sobre as concessões que Trump possa fazer a Putin. 

Trump levantou a possibilidade de retiraras tropas americanas da Alemanha. Na cúpula do G-7, disse aos líderes dos demais países que acreditava que a Crimeia deveria pertencer à Rússia, porque a maioria de seus habitantes fala russo. Este é outro posicionamento que derrubaria grande parte das medidas de segurança tomadas pelo Ocidente contra a Rússia desde 2014. 

Depois de se encontrar com Trump, Stoltenberg tentou minimizar as diferenças, dizendo que a conclusão é de que a OTAN está se fortalecendo.  "O presidente Trump fala claramente, às vezes de maneira muito direta, direcionando-se a aliados específicos. Mas todos concordam que a Aliança Atlântica deve compatilhar o fardo de maneira justa", afirmou Stoltenberg . "Minha principal tarefa é manter todos os nossos aliados juntos", acrescentou.

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