Os candidatos à presidência dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris, chegam à reta final de campanha nesta semana, com agendas bastante diferentes. No entanto, há um ponto no qual ambos convergem: a relação com a China, que deve permanecer turbulenta.
Em seu primeiro mandato presidencial, Trump (2017-2021) iniciou uma verdadeira guerra comercial com Pequim, com a aplicação de tarifas sobre produtos chineses e sua campanha contra a gigante de telecomunicações Huawei.
Em resposta às medidas aplicadas pela administração republicana, Pequim revidou com suas próprias tarifas, visando principalmente produtos agrícolas dos EUA, como a soja.
Em uma entrevista recente ao jornal Wall Street Journal, o ex-presidente anunciou novos planos de tarifas que podem chegar a 20% sobre praticamente todas as importações, bem como tarifas de 60% ou mais sobre produtos chineses que entram no país. Segundo Trump, desta forma, seu governo impulsionaria a indústria nacional.
Ainda, durante sua nova campanha presidencial, Trump ameaçou impor tarifas que poderiam atingir 200% sobre produtos chineses se o gigante asiático "entrasse em Taiwan".
Por outro lado, a democrata Kamala Harris não se posicionou claramente até o momento sobre como seria a relação com a China, apesar de analistas apontarem que ela deve seguir com a agenda de Joe Biden na política externa, se vencer as eleições no dia 5.
Um sinal dessa indefinição em assuntos exteriores foi observado durante entrevista à emissora americana CBS, neste mês, quando ela foi questionada sobre a reação dos Estados Unidos em uma hipotética invasão chinesa em Taiwan, durante sua gestão. Ao contrário de Biden, que disse em quatro oportunidades que defenderia a ilha durante sua presidência, Harris fugiu da questão ao dizer: “não vou entrar em hipóteses”.
Apesar disso, uma das poucas pistas da política externa da democrata, que assumiu a campanha presidencial em julho, veio de uma declaração de que "a América, não a China, deveria vencer a competição pelo século XXI".
Após o mandato de Trump, a administração Biden buscou reduzir as tensões com a China a partir de algum diálogo. No entanto, nos últimos anos, as decisões da Casa Branca seguiram na mesma direção da gestão republicana anterior, adotando uma postura mais dura em relação a Pequim, principalmente no campo comercial, com políticas voltadas para exportações chinesas e, no caso mais recente, a proibição de acesso a tecnologias críticas devido à "ameaças à segurança nacional".
O comentarista político independente chinês e ex-professor da Universidade Tsinghua, em Pequim, Wu Qiang, disse à emissora alemã DW que uma vitória de Trump poderia ser mais vantajosa para a China.
"O retorno de Trump à Casa Branca seria uma grande vantagem para a China, pois significaria divisões mais profundas dentro da democracia americana", apontou o analista.
"Em meio à divisão com a Europa e os aliados globais da América, os Estados Unidos retornarão a uma nova forma de isolacionismo, que já era evidente durante o mandato anterior de Trump", acrescentou. "Ao promover uma política de 'América em Primeiro Lugar' e se retirar de vários acordos internacionais, o ex-presidente ficou conhecido por adotar o isolacionismo", concluiu Qiang à DW.
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