Os israelenses irão às urnas na próxima terça-feira, 9 de abril, para eleger os membros do Knesset, o Parlamento de Israel. O atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que domina a política israelense há uma geração, está lutando pela sua sobrevivência política contra um partido recém-criado, liderado por figuras relativamente novas no cenário. E a luta não está sendo fácil para Bibi, como é conhecido no seu país, porque a sua campanha está sendo ofuscada por escândalos de corrupção.
Essas eleições estavam inicialmente programadas para novembro deste ano, mas foram adiantadas após uma disputa entre membros do governo atual que levou a um acordo para dissolver o Parlamento. O acordo foi fechado após a coalizão fracassar na busca por apoio para aprovar a legislação que convoca judeus ultraortodoxos para o serviço militar. Há décadas, esse grupo tem dispensa do serviço militar obrigatório, o que é uma questão muito controversa no país.
Quando os eleitores forem às urnas nesta terça-feira, eles escolherão um partido, e não um primeiro-ministro. Confira neste guia as principais questões para entender as eleições em Israel.
Quem vota?
Todos os israelenses com mais de 18 anos que estiverem em Israel podem votar - o voto não é obrigatório. E todos os maiores de 21 anos têm o direito de se candidatar. As eleições gerais acontecem a cada quatro anos. Na última, 67,78% dos eleitores compareceram às urnas.
Os eleitores devem comparecer ao seu local de votação e se identificar. Eles recebem então um envelope azul para a cédula e se dirigem para uma cabine isolada onde estão as cédulas para todos os partidos. Eles devem escolher uma delas, inserir no envelope e depositar o envelope selado na urna que fica na sala de votação.
Como funcionam as eleições?
Os ocupantes dos 120 assentos do Knesset são escolhidos por um sistema de representação proporcional de lista fechada. Ou seja, os eleitores votam em um partido, e não em um candidato individual. Antes das eleições, os partidos estabelecem uma lista de candidatos na ordem que ocuparão os assentos que conquistarem. Os partidos devem atingir um mínimo de 3,25% de votos para ter direito um ou mais assentos no Parlamento. Após a contagem dos votos válidos, os assentos são distribuídos de acordo com a porcentagem de votos recebidos. Por exemplo, se um partido receber 10% dos votos, terá então direito a 10% do Parlamento, ou 12 assentos.
Depois que os assentos forem distribuídos, Israel terá um Parlamento, mas ainda não um primeiro-ministro. Normalmente, o líder do maior partido no Knesset acaba sendo o premiê, mas não é sempre assim.
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, fará uma consulta aos líderes de todos os partidos com representantes no Parlamento e escolherá quem ele considerar que tem mais chances de formar uma coalizão – que precisa ter no mínimo 61 assentos. O nomeado tem até 42 dias para formar um governo, caso contrário, o presidente pedirá a outro político que forme a coalizão.
Para viabilizar um governo de coalizão, é preciso negociar com os outros partidos. Isso pode ser feito com o oferecimento de ministérios, abrindo mão de algumas políticas ou outras concessões.
Depois que o primeiro-ministro tiver formado um governo, a coalizão deve relatar ao Knesset quais são as suas políticas básicas, que partidos estão na coalizão e quem será responsável por cada pasta no gabinete, segundo o jornal diário israelense Haaretz.
Quem está à frente?
Existem 47 partidos competindo nestas eleições, segundo o jornal Times of Israel.
O atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ficou mais para trás do seu principal adversário na pesquisa de intenção de voto divulgada nesta sexta-feira (5), a última permitida antes das eleições. Ainda assim, ele teria menos dificuldades do que o seu oponente em formar um governo de coalizão nesse que pode ser o seu quinto mandato, um recorde no país. Netanyahu concorre pelo Likud, o partido tradicional da direita secular israelense.
Netanyahu é o primeiro premiê nascido em Israel, e se ele permanecer no cargo até meados de julho, será também o mais longevo no posto desde fundação de Israel, em 1948. Nesse caso, ele ultrapassaria até mesmo David Ben-Gurion, o primeiro chefe de governo de Israel.
O seu principal adversário é Benny Gantz, um ex-comandante das Forças de Defesa de Israel que é candidato pelo partido centrista Kahol Lavan, ou Azul e Branco, que foi fundado em fevereiro deste ano. Essa vitória representaria pela primeira vez na história um governo israelense que não é nem dos trabalhistas (em seus diversos partidos) e nem do Likud.
Coluna de Filipe Figueiredo: Corrupção e novidades no futuro de Israel (7 de março de 2019)
Gantz tem conquistado os eleitores da esquerda mais por se opor a Benjamin Netanyahu do que pelo que ele é. Depois de anos fazendo oposição a Bibi, os eleitores mais progressistas resolveram dar um voto de confiança em Gantz, que tem chances mais reais de vencer.
Durante um evento da campanha de Gantz nesta semana, uma eleitora que sempre votou nos partidos mais à esquerda e dessa vez votará no Azul e Branco disse ao jornal britânico The Guardian que "essa eleição é basicamente um referendo: Bibi sim, ou Bibi não", resumiu.
A pesquisa divulgada nesta sexta-feira, quatro dias antes da votação, estima que o partido centrista Azul e Branco deve ficar com 30 assentos, enquanto o Likud de Netanyahu ficaria com 26.
Mas a pesquisa também projeta um total de 63 assentos para os partidos no bloco direitista de Netanyahu, uma margem pequena para a maioria, mas favorável. Já o cálculo para a coalizão de Gantz parece muito mais difícil.
Gantz já declarou que rejeitará qualquer coalizão com Netanyahu após as eleições.
O cenário dos partidos em Israel é complexo. Enquanto na maioria dos países o espectro político tem o eixo principal de direita e esquerda, em Israel os movimentos políticos têm mais ingredientes. "Nós temos partidos de esquerda e direita, seculares e religiosos - e fanaticamente religiosos, judaicos e árabes, e ainda sionistas e antissionistas", disse à Gazeta do Povo o brasileiro residente em Israel Marcos Susskind, que é ativista comunitário e mantém um canal de notícias sobre Israel para brasileiros. "Você tem a salada e pode montá-la combinando os ingredientes do jeito que quiser", completou.
Quais são as acusações contra Netanyahu?
No início de março, o procurador-geral Avichai Mandelblit recomendou que o primeiro-ministro fosse indiciado por fraude, suborno e quebra de confiança. Netanyahu tem sido perseguido por escândalos durante grande parte da sua carreira.
Em Israel, os detalhes das investigações contra ele e seus aliados são conhecidos pelos números dos casos: 1000, 2000, 3000 e 4000. Os detalhes desses casos foram reproduzidos pelos jornais israelenses durante anos.
Mandelblit afirmou que a acusação se relacionaria com três dos quatro casos: 1000, 2000 e 4000.
O primeiro deles se concentra em presentes ilegais supostamente recebidos por Netanyahu e sua família, incluindo champanhe rosa, joias, charutos cubanos e ingressos para um show de Mariah Carey, em troca de favores políticos para bilionários. No segundo caso, o premiê é acusado de usar conexões com um magnata americano para pressionar o dono de um jornal para que ele fizesse uma cobertura mais favorável ao seu governo. No caso 4000, Netanyahu é acusado de oferecer favores regulatórios a uma das maiores empresas de telecomunicações de Israel em troca de uma cobertura positiva dele e de sua esposa em um popular site de notícias pertencente à empresa.
Netanyahu nega todas as acusações.
"Netanyahu está sendo investigado em três processos diferentes. Na pasta 4000 ele teve alguns ganhos importantes, já que a direção das investigações parece mostrar que não houve a corrupção da qual ele foi acusado nesse caso. As pastas 1000 e 2000 continuam bastante ativas em Israel", explicou Susskind.
Na segunda-feira (1º), uma reportagem no principal jornal diário israelense, Yediot Aharonot, afirmou que uma rede de perfis em mídias sociais, falsos e verdadeiros, estava sendo usada para promover a campanha de Netanyahu. A reportagem se baseou em um relatório de um grupo fiscalizador, que diz que a rede manipuladora de perfis em mídias sociais foi criada para “perturbar as eleições democráticas e influenciar a opinião pública usando meios impróprios”.
O primeiro-ministro e o seu partido rapidamente divulgaram um vídeo que ridiculariza o relatório.