Ouça este conteúdo
Cerca de 667 pessoas foram presas na madrugada da quinta-feira (29) para esta sexta-feira (30) na França, durante o terceiro dia de tumultos após a morte de um adolescente em Nanterre, que foi baleado quando tentava fugir de uma blitz policial.
O ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, divulgou esse número em uma mensagem através de sua conta no Twitter e o vinculou às instruções "firmes" que havia dado.
Darmanin, que ordenou a mobilização de 40.000 agentes para tentar evitar que os tumultos se repetissem, enfatizou que policiais e bombeiros tiveram que "enfrentar uma violência incomum".
Segundo seu departamento, nos confrontos com os jovens protagonistas dos protestos - boa parte dos detidos têm entre 14 e 18 anos -, 249 agentes das forças de segurança ficaram feridos, embora nenhum com gravidade.
Mais uma vez, o epicentro dos protestos foi a cidade de Nanterre, na periferia de Paris. Na cidade, uma agência bancária foi incendiada e vários prédios públicos, como escolas e um centro tributário sofreram sérios danos.
Também foram queimados 13 ônibus da rede metropolitana de Paris que estavam estacionados em um depósito na cidade do norte chamada Aubervilliers, e foram atacados por vários indivíduos com coquetéis molotovs. A terceira noite de distúrbios no país deixou um saldo de 500 edifícios públicos danificados e 1.900 veículos incendiados.
Em reação à situação de risco nos transportes públicos, o vice-presidente da região de Ile-de-France, onde está localizada Paris, Frédéric Péchenard, anunciou em declarações à emissora de rádio France Info que os ônibus e bondes deixarão de circular nesta sexta a partir das 21h (hora local, 16h de Brasília).
A onda de violência não se limitou a bairros sensíveis da região parisiense, mas também chegou à capital, onde houve saques a lojas no bairro Les Halles, no centro da cidade.
Em várias cidades da Ile-de-France, os prefeitos decretaram toque de recolher que vigorará até o final da semana.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, que esteve nesta manhã em Evry para verificar os estragos causados nesta cidade da periferia de Paris junto com o ministro Darmanin, comentou que os autores destes atos são "indivíduos muito violentos" e "muito jovens" que "não são representantes dos moradores".
O policial responsável pelo tiro que matou o adolescente Nahel M., que tinha antecedentes criminais e tentou fugir de uma blitz no carro que dirigia sem habilitação em Nanterre na terça-feira (27), passou sua primeira noite na prisão de Santé, em Paris, sob a acusação de homicídio culposo, da qual seu advogado já anunciou que pretende recorrer.
Em declarações à France Info, o advogado, Laurent-Franck Liénard, declarou que o policial se desculpou com a família de Nahel, mas também que “considerou que o que fez foi necessário naquele momento”
Protestos alcançam a Bélgica
Na Bélgica, a polícia de Bruxelas, capital do país, deteve nesta sexta 64 pessoas, a maioria menores de idade, durante tumultos ocorridos na cidade devido à morte do adolescente Nahel M.
Dos 64 detidos, 48 são menores, segundo informou a polícia de Bruxelas na manhã desta sexta-feira, destacando em declarações recolhidas pelo jornal Le Soir que "foram tomadas medidas imediatas para estabelecer a ordem".
Durante a quinta-feira, após duas noites de tumultos em França, circularam pelas redes sociais as convocações de manifestações e protestos em Bruxelas em resposta à morte do adolescente francês, que acabaram resultando em motins, pequenos incêndios e desvios de transporte público em vários bairros.
Macron pede "responsabilidade" aos pais
Nesta sexta-feira também o presidente da França, Emmanuel Macron, pediu "responsabilidade" aos pais para que seus filhos não participem nos distúrbios que afetam as várias cidades do país.
"Peço responsabilidade aos pais para que os filhos fiquem em casa", afirmou Macron ao final de uma reunião da célula de crise interministerial criada para responder aos tumultos que sacodem a França há três noites.
O presidente francês, no entanto, não anunciou a declaração de estado de emergência que o governo vinha cogitando.
Macron justificou seu apelo aos pais argumentando que um terço das pessoas detidas nos distúrbios são menores e também instou as plataformas que gerem as redes sociais a assumirem sua cota de responsabilidade.
"As redes sociais têm um papel considerável. Vimos que ali foram organizados motins (...) Nas próximas horas vamos organizar-nos com as plataformas para controlar os conteúdos mais sensíveis", destacou.
Macron também anunciou que os departamentos franceses "mais afetados" pela violência cancelarão seus eventos festivos até novo aviso.
“Há uma instrumentalização inaceitável da morte de um adolescente”, lamentou o chefe de Estado, que garantiu que a resposta do governo “tem sido reativa e adaptada” em todo o território.
Nesta terceira noite de manifestações violentas, quase 900 pessoas foram detidas e cerca de 300 agentes das forças de segurança ficaram feridos.