Familiar
O EI parece ávido para se anunciar como um lugar familiar. Um vídeo promocional mostra combatentes islâmicos segurando os filhos, na "capital" do califado, Raqqa, tendo ao fundo um playground. Um homem, identificado como um norte-americano chamado Abu Abdurahman al-Trinidai, segura uma criança pequena com uma metralhadora de brinquedo presa às costas.
6 anos atrás, Svetlana Hasanova se converteu ao Islã após se casar com Sahin Aktan, adotando então o nome Ummi Abdullah. Em junho, os dois se divorciaram. No mês seguinte, ela pegou o filho e foi para uma cidade turca perto da fronteira com a Síria, antes de partir em direção ao território do Estado Islâmico.
Asiya Ummi Abdullah não compartilha a visão de que o grupo Estado Islâmico (EI) governa uma distopia terrorista e não está assustada com os bombardeios norte-americanas contra Raqqa, o centro de poder dos militantes na Síria. Para ela, trata-se do lugar ideal para criar a família. Em entrevistas, a muçulmana convertida de 24 anos explicou a decisão de se mudar, com o filho, para o território controlado pelo grupo militante, afirmando que ele oferece aos dois proteção contra sexo, drogas e álcool que ela enxerga como algo desenfreado na Turquia, país de forte tradição laica.
"As crianças daquele país veem tudo isso e se tornarão assassinos, delinquentes, homossexuais ou ladrões", escreveu Umi Abdullah em uma das várias mensagens em sua página no Facebook. Viver sob a sharia, o código legal islâmico, significa que a vida espiritual de seu filho de 3 anos está garantida, afirma ela. "Ele vai conhecer Deus e viver sob as leis Dele", disse.
A experiência de Ummi Abdullah ilustra a força do Estado Islâmico, grupo que estabeleceu um califado em um território que se estende da Síria até o Iraque. Mostra também como, mesmo na Turquia moderna, famílias inteiras estão deixando tudo para trás para encontrar a "salvação".
O Estado Islâmico, que apresenta seus domínios como um lugar familiar, na verdade deslocou centenas de milhares de "famílias inimigas" e massacrou centenas de soldados e civis que defendiam as próprias casas numa onda de assassinatos que inclui crucificações e decapitações.
Estatísticas
Ummi Abdullah, originária do Quirguistão, chegou ao território do EI apenas em agosto. O desaparecimento dela virou manchete nos jornais da Turquia depois que o ex-marido, um vendedor de carros chamado Sahin Aktan, divulgou o fato aos meios de comunicação. Mas muitas outras pessoas na Turquia foram com as famílias para o território dominado pelo EI sem tanta atenção do público. No início deste mês, mais de 50 famílias atravessaram a fronteira, segundo o deputado opositor Atilla Kart.
Os dados de Kart parecem altos, mas o relato é amparado por um morador da vila de Cumra, região central da Turquia, que disse que o filho e a nora fazem parte desse grupo de imigrantes. A movimentação dos combatentes estrangeiros que se juntam ao EI tem recebido grande cobertura dos meios de comunicação, mas a chegada de famílias inteiras, muitas provenientes da Turquia, recebeu menos atenção.