Paraná tem baixo número de doadores cadáveres
Curitiba Em comparação com a média nacional, o Paraná sofre com um baixo número de transplantes de rim de doadores cadáveres. Em 2006, em todo o Brasil, 45,8% dos 3.281 transplantes de rim realizados foram com o órgão de uma pessoa já morta. No Paraná, dos 208 transplantes de rim feitos no mesmo período, apenas 18% (39) partiram de doadores cadáveres.
De acordo com o médico Celso de Lima Reis, assessor técnico da Central Estadual de Transplantes do Paraná, o sistema de comunicação entre os hospitais e a central é eficiente, mas o número de famílias dispostas a autorizar o transplante de um parente morto é baixo. "Nós estamos ligados a todo o tempo com os hospitais em todas as regiões do estado. Existem comissões intra-hospitalares em cada hospital apenas para cuidar dos doadores em potencial. Mas o número de doadores é baixo. É importante ressaltar que as pessoas devem conversar com a família para que, em caso de morte, ela saiba qual era a vontade do morto. De acordo com a lei brasileira, é a informação dos familiares que vale para decidir se a pessoa será ou não doadora de órgãos", diz Reis.
Segundo o médico, o objetivo da Central Estadual é aumentar o número de doações de doadores cadáveres. "A doação do doador vivo ainda expõe o doador a algum risco. O nosso objetivo é atingir o doador cadáver. Um único doador cadáver pode melhorar a condição de saúde de até 8 ou 10 pessoas", diz.
Curitiba A disparidade entre a oferta e a demanda de órgãos humanos para transplantes está fortalecendo o chamado "turismo-transplante", especialmente para países em desenvolvimento, acredita a Organização Mundial da Saúde. Dos cerca de 66 mil transplantes de rim realizados em todo o mundo em 2005, pelo menos 6 mil envolveram viagem ao exterior do doador ou do receptor.
No último mês, especialistas e representantes da OMS se reuniram duas vezes na Europa para discutir uma maneira de aumentar o número de doações e reduzir o mercado negro de transplantes. O problema, no entanto, é complicado de combater, porque alia interesses suficientemente grandes para motivar as partes envolvidas a realizar o ato ilegal e, não raro, de alto risco. De um lado, uma pessoa que depende de um novo órgão para continuar viva. Do outro, doadores em potencial que precisam de dinheiro, às vezes para sair da miséria.
Ao invés de esperarem nas listas nacionais por um órgão que pode não chegar apenas 10% da demanda é atendida anualmente no mundo cidadãos de países mais ricos estão partindo em busca de um doador em regiões mais pobres, como Paquistão, Colômbia, Filipinas e China os quatro países mais procurados, segundo a OMS. Para a instituição, o medo de serem punidos em seus países de origem e a relativa impunidade do "turismo-transplante" é também um fator que contribui para o crescimento do fenômeno.
Mercado legal
Arthur Matas, da Universidade do Minnesota, nos EUA, e um dos médicos que participou do evento da OMS, acha que a solução está na criação de um mercado controlado de órgãos. Em todo o mundo, apenas o Irã possui um programa do tipo. Duas agências ligadas ao governo fazem a ponte entre o doador e o receptor. O preço médio de um rim fica entre U$2 mil e US$ 4 mil. Segundo o governo, a fila de transplantes do órgão se reduziu a zero.
O argumento de Matas, que também é presidente da Sociedade Americana de Cirurgiões de Transplantes, baseia-se em três pontos: 1) o número de transplantes tem aumentado, mas não na mesma proporção em que cresce a demanda por rins, ou seja, cada vez mais pacientes precisam se submeter a diálise e mais morrem na fila de espera de um órgão; 2) as pessoas já vendem espermas e sangue, então rim e outros órgãos também poderiam ser comercializados; 3) como o custo de um transplante desonera muito o Estado no longo termo, empresas de seguro de saúde e o próprio governo poderia pagar um preço fixo para cada doador.
As idéias de Matas ganham mais respaldo entre economistas do que entre os médicos. O professor de Bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, José Roberto Goldim, é "totalmente contrário" a comercialização de órgãos. "No momento que se começa a fazer a negociação de uma parte do corpo humano, estaremos indo na contramão daquilo que a gente defende, que é a dignidade humana. Quando se atribui um valor monetário a uma parte do corpo, está se coisificando o homem", defende ele. Sobre a venda de espermas e sangue, Goldim faz uma diferenciação. "A venda de órgãos e a venda de espermas ou sangue são coisas diferentes. A retirada de um órgão acarreta uma mutilação. No outro caso, há uma reposição fisiológica. Não dá para comparar", diz.
Brasil
Como aumentar o número de doadores, então? Para Goldim, pelo menos no Brasil, o segredo não está nessa pergunta. "A questão não é aumentar o número de doadores. É preciso aumentar as notificações de pacientes que estão claramente caminhando para a morte encefálica. Hoje, há uma falha na comunicação no próprio sistema de saúde, a informação sobre doadores cadáveres é reduzida e muitas vezes não chega nas centrais de transplantes," diz.
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