A escalada de tensão entre Turquia e Síria ganhou ontem contornos de confronto militar, com ataques da artilharia turca contra o território sírio. A ofensiva foi uma retaliação aos morteiros disparados do território sírio horas antes, que deixaram cinco civis mortos na cidade turca de Akcakale. Os ataques reacenderam os temores de que a guerra civil na Síria cause um conflito regional.
Não ficou claro se os morteiros partiram de forças do governo sírio ou de rebeldes que lutam para derrubar o presidente Bashar al-Assad, mas a resposta turca foi rápida. "Nossas forças armadas na região da fronteira responderam imediatamente a esse ataque abominável", anunciou um comunicado do gabinete do premiê Recep Tayyip Erdogan. Segundo a nota, os disparos da artilharia atingiram alvos "identificados por radar". Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre os alvos atingidos em território sírio.
Os morteiros atingiram um bairro residencial de Akcakale, no Sudeste da Turquia. Entre as vítimas estão uma mulher e seus três filhos, um deles um menino de 6 anos. Pelo menos dez pessoas ficaram feridas. Akcakale fica nas imediações do posto fronteiriço sírio de Tall al-Abyad, recente cenário de combates entre as tropas sírias e rebeldes.
Reação
Os ataques levaram a Otan (aliança militar do Ocidente), da qual a Turquia faz parte, a convocar uma reunião de emergência. O artigo 5.º do estatuto da Otan estabelece que um ataque contra um membro é considerado um ataque a todos os integrantes. A reunião, porém, foi convocada sob o artigo 4.º, mais brando, que prevê apenas consultas. Após a reunião, a Otan pediu que a Síria "ponha fim as suas violações flagrantes do direito internacional". A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, também condenou o ataque e se disse "indignada" com a situação.
A Síria anunciou a abertura de uma investigação. O ministro sírio da Informação, Omran Zoabi, afirmou ainda que os dois países devem controlar juntos a fronteira a Síria acusa o governo turco de treinar e financiar grupos da oposição armada.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu à Turquia que mantenha abertos os canais de comunicação com o governo sírio. Em nota, Ban pediu ao governo sírio que respeite a integridade territorial dos seus vizinhos.
Síria e Turquia haviam ensaiado uma aproximação antes do início da revolta contra Assad, em março de 2011. Em 26 de junho, a Otan já havia se reunido após a derrubada de um caça turco pela defesa síria, que causou a morte dos dois pilotos da aeronave.