A Turquia está desafiando as crescentes críticas internacionais ao intensificar sua ofensiva contra militantes curdos no nordeste da Síria. Ao mesmo tempo, disparos de foguetes do interior da Síria ameaçam cidades turcas.
A crescente violência obrigou milhares de civis de ambos os lados da fronteira a fugir de suas casas, e agências de ajuda alertaram para uma crise humanitária. A Organização das Nações Unidas (ONU) relatou que mais de 70.000 pessoas já estão deslocadas no nordeste da Síria.
O Exército Nacional da Síria, um grupo de facções rebeldes apoiadas pela Turquia, afirmou ter tomado uma dúzia de aldeias no nordeste da Síria como parte da ofensiva terrestre.
As autoridades curdas no norte da Síria disseram que até dez civis foram mortos pelas forças turcas, enquanto os morteiros e foguetes da Síria deixaram seis pessoas mortas na Turquia, disseram autoridades locais.
Fugas e mortes
Residentes sírios descreveram o caos enquanto civis fugiam de confrontos na fronteira.
"Eu tive que sair apenas com as roupas que estava usando", disse Mikael Mohammad, dono de uma loja de roupas de Tal Abyad, que fica a 400 metros da fronteira com a Turquia. Mohammad e sua família deixaram a cidade assim que o bombardeio começou na noite de quarta-feira (9). Ele disse que eles dormiram ao ar livre em uma área rural a cerca de 40 quilômetros ao sul.
"O bombardeio é bárbaro e indiscriminado. Passamos a noite ao ar livre entre escorpiões e cobras", disse ele. "Tudo o que reconstruí nos últimos anos, posso ter perdido novamente".
Em Akcakale, uma cidade turca na fronteira com a Síria, dezenas de carros transportando civis saíram da cidade na quinta-feira, deixando a área quase vazia, enquanto ambulâncias transportando feridos passavam a toda velocidade. Lá, um ataque com morteiro, no centro, deixou dois civis mortos - um bebê de 9 meses chamado Muhammed Omar e Cihan Gunes, que trabalhava no escritório de impostos local, segundo autoridades.
Na sexta-feira (11), o Ministério da Defesa da Turquia anunciou que as forças turcas mataram 342 combatentes curdos, desde o início da operação. Mas não foi possível confirmar esse número de mortos, e as Forças Democráticas Sírias lideradas pelos curdos, que são aliadas aos Estados Unidos, disseram que não poderiam fornecer uma contagem própria.
Posição dos EUA
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta semana que retiraria as tropas americanas do norte da Síria diante da ofensiva turca, mas sofreu pressão crescente na quinta-feira para tomar medidas em resposta ao conflito crescente. Nesta quinta-feira ele tuitou: "Enviar milhares de soldados… Atingir com força a Turquia financeiramente… Ou mediar um acordo entre a Turquia e os curdos".
No Conselho de Segurança da ONU, a Turquia sofreu críticas intensas dos embaixadores europeus, que alertaram para uma crise humanitária como consequência e o ressurgimento de militantes do Estado Islâmico. Mas o conselho não concordou com uma declaração que condenasse a operação militar da Turquia.
Kelly Craft, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, disse que o governo Trump não endossa a ação militar da Turquia e alerta para "consequências" não especificadas, mas não chegou a condená-la.
Erdogan atacou os críticos da campanha militar, dizendo que a Turquia estabeleceria uma "zona segura" para onde milhões de refugiados sírios poderiam retornar. Na capital, Ankara, ele também disse que as forças turcas eliminariam a ameaça dos militantes do Estado Islâmico na região. Ainda existem preocupações urgentes sobre o que aconteceria a milhares de combatentes do Estado Islâmico mantidos em prisões administradas pelos curdos se as forças turcas invadissem a região.
"Faremos o que for necessário" para impedir o ressurgimento do Estado Islâmico, disse ele, acrescentando que a Turquia aprisionaria, deportaria ou reabilitaria os militantes e suas famílias.
Preocupação com terroristas presos
Dezenas de milhares de membros do Estado Islâmico e suas famílias foram detidos no nordeste da Síria depois que as FDS tomaram o último território do grupo militante neste ano. Diplomatas e especialistas militares alertaram que a ofensiva poderia prejudicar a segurança nas prisões e campos, permitindo que os militantes islâmicos escapem. As FDS disseram em comunicado na quinta-feira que os bombardeios turcos tinham como alvo uma prisão que mantém combatentes do Estado Islâmico na cidade de Qamishli, no nordeste do país.
A insistência de Erdogan de que a Turquia pode conter os militantes não tranquilizou muitos países. As forças armadas dos EUA estão tomando sob custódia dezenas de detidos do Estado Islâmico de "alto valor" para impedir que eles fujam ou sejam libertados durante a incursão turca, segundo autoridades dos EUA.
Enquanto isso, o Iraque está enviando unidades militares para reforçar sua fronteira com a Síria, a fim de evitar qualquer novo fluxo de combatentes do Estado Islâmico para seu território, de acordo com o major-general Tahseen al-Khafaji, porta-voz do comando das Operações Conjuntas do Iraque.
"Existe uma grande preocupação do lado iraquiano com a ofensiva terrestre na Síria", disse ele em entrevista por telefone. O Iraque estava em coordenação com os Estados Unidos, Rússia, Turquia e FDS, disse ele, "para proteger nossa segurança" e para impedir que se repitam os distúrbios causados pelo Estado Islâmico no Iraque que começaram no verão de 2014.
Turcos e curdos
Há muito tempo a Turquia promete atacar militantes curdos no nordeste da Síria. O país vê os combatentes curdos sírios como terroristas por causa de seus vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão da Turquia, ou PKK, que trava uma batalha no sudeste da Turquia por mais autonomia, que já dura uma década.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse que a Turquia pretende avançar 30 quilômetros para o território sírio, mas não mais do que isso. Esse foi o alcance de foguetes lançados da Síria para o território turco, segundo ele. Em alguns lugares, o exército turco pode passar um quilômetro além do limite, acrescentou. "O objetivo da operação é remover terroristas da área", disse ele.
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