O nome dele não consta nas cédulas de votação de 2.890 municípios da Turquia. Mas o premiê islamita Recep Tayyip Erdogan fez campanha como se estivesse na disputa pelas eleições locais deste domingo. De certa forma está. O pleito é o primeiro depois de um amplo movimento popular de contestação ao premiê, no ano passado, na Praça Gezi, em Istambul.
Ocorre, ainda, no auge de um escândalo de corrupção que já derrubou quatro ministros e respingou em Erdogan e seu filho. Além disso, num momento de ultraje por medidas como o bloqueio do Twitter e do site de vídeos Youtube.
Para Erdogan, a turbulência faz dos votos de 53 milhões de eleitores uma necessidade. E a votação é quase um referendo para acalmar as elites, consolidar o poder do governista Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) e tranquilizar parceiros internacionais desconfiados das acusações de autoritarismo num país até bem pouco tempo atrás considerado um modelo de democracia islâmica a ser exportada.
Apesar da revolta diante das denúncias de corrupção e de medidas impopulares, como a censura às redes sociais, Erdogan ainda tem uma ampla base de apoio, sobretudo, nas áreas mais pobres e conservadoras da Turquia, o que deve lhe garantir a hegemonia do AKP nas urnas. "Ele perdeu prestígio apenas entre a elite liberal", disse o jornalista turco Ilhan Tanir, do diário Vatan.