Caso se confirme que a Turquia está sendo tomada por um golpe militar nesta sexta-feira (15), será a quarta vez na história do país que esse tipo de medida foi adotada. Quem conta é Daniel Dall´Agnol, formado em relações internacionais e que fez mestrado naquele país, de 2004 a 2006, justamente para pesquisar os golpes militares. Ele relata que a motivação de todas as tomadas de poder foi a mesma: a aproximação entre política e religião. É que apesar da forte presença islâmica no país, a Turquia é um estado laico, que não aceita a influência religiosa nas decisões políticas.
Em 1960, 1971 e 1980 os militares destituíram o poder na Turquia. Mas Dall´Agnol destaca que em nada lembra o que aconteceu no Brasil na década de 60. “Lá a população tem muita confiança nos militares. Até porque não teme que se transforme em uma ditadura, tendo em vista que das outras vezes eles destituíram o governo e organizaram eleições assim que foi possível”, comenta.
A ação recente de militares teria relação com as atitudes do atual presidente, Recep Tayyip Erdogan. Muçulmano, ele foi primeiro-ministro na década passada e teria manobrado para conseguir o direito a se candidatar para a presidência. Num primeiro momento, agiu de forma discreta, mas a partir de 2007 começou a implantar algumas políticas com viés islamista. A insatisfação com o governo ganhou notoriedade a partir de 2013, quando a Turquia experimentou uma situação semelhante aos protestos que ganharam as ruas no Brasil.
Erdogan tentou evitar o golpe, prendendo alguns militares influentes e enfraquecendo as forças armadas. Também professores e jornalistas assumidamente contra o governo foram presos. Há um embate local sobre os que flertam com as práticas ocidentais e os conservadores, numa faixa menos abastada da população, que defendem a forma de atuação do presidente.
Dall´Agnol destaca também que em todos os golpes havia também uma situação de insatisfação econômica e social. Há um clima de insegurança entre os turcos, sempre associados com a ineficiência do governo diante de ameaças internas e externas. E nesse cenário que surgem os militares, que aparecem como guardiões do estado laico e ainda capazes de trazer segurança, no entendimento de grande parte da população turca, aponta o pesquisador.