A decisão do Twitter da semana passada de suspender permanentemente a conta da deputada americana Marjorie Taylor Greene chama atenção para a atitude permissiva da empresa em relação às contas mantidas por regimes autoritários.
Independentemente de o Twitter estar certo ou não ao banir Greene por violar sua política de desinformação sobre a Covid-19, a plataforma de mídia social faz vista grossa para as descaradas e vergonhosas campanhas de desinformação antivacina promovidas por contas ligadas aos governos russo e chinês.
O último exemplo disso ocorreu na semana passada, quando o Global Times, um tabloide do Partido Comunista Chinês com 1,8 milhão de seguidores no Twitter, utilizou a notícia da morte de um editor do New York Times vencedor do Prêmio Pulitzer para sugerir que a vacina de reforço da Moderna não é segura.
“Carlos Tejada, editor de Internacional do New York Times, morreu um dia depois de receber uma dose de reforço da Moderna. Isso levanta questões sobre a segurança da vacina”, apontava o tweet.
Tejada, que foi editor-adjunto do Times para a Ásia, havia atuado anteriormente em projetos que lançavam luz sobre as ações de Pequim para encobrir o surgimento do coronavírus no início de 2020. De acordo com o obituário do New York Times, ele morreu de ataque cardíaco, mas vários blogs e sites céticos quanto à vacinação destacaram que ele havia postado uma foto no Instagram mostrando que havia recebido uma dose de reforço no dia anterior ao seu falecimento, vinculando os dois eventos.
O Global Times amplificou essas afirmações para lançar dúvidas sobre a segurança da vacina da Moderna, embora não haja nenhum indício de que a morte de Tejada esteja ligada ao recebimento da dose de reforço. A agência estatal ainda tripudiou: “Estamos ansiosos para que o New York Times informe mais detalhes. Será uma bela homenagem a Tejada, que ganhou um Pulitzer por criticar a resposta da China à Covid-19”.
Até esta quarta-feira (5), a postagem não havia sido removida pela equipe de moderação de conteúdo da rede social. A política de conteúdo do Twitter proíbe os usuários de compartilhar conteúdo “que seja comprovadamente falso ou enganoso e possa levar a um risco significativo de danos” (como maior exposição ao vírus ou efeitos adversos nos sistemas de saúde pública).
O Twitter tem um histórico duvidoso quando se trata de ações de moderação de conteúdo relacionadas à desinformação pró-Pequim. Embora tenha retirado do ar redes que promovem as narrativas do PCC e uma pequena quantidade de tweets particularmente odiosos de entidades do governo chinês, o Twitter verifica (certifica como autênticas) contas vinculadas ao governo chinês que frequentemente se envolvem na negação de genocídio. A plataforma também puniu, de forma suspeita, críticos do partido com inexplicáveis suspensões temporárias de contas.
Enquanto isso, a Sputnik V, vacina desenvolvida por um instituto médico do governo russo, tem sua própria conta no Twitter, na qual afirma com frequência que a vacina desenvolvida pela Pfizer é menos eficaz contra a nova variante ômicron do que o seu imunizante.
Mas a afirmação do governo russo é desmentida por um estudo independente que descobriu que a Sputnik V não é capaz de neutralizar a variante. De acordo com o estudo prévio, publicado no mês passado pela Universidade de Washington e pela Humabs Biomed SA, nenhum dos 11 participantes vacinados com a Sputnik desenvolveu anticorpos capazes de neutralizar a ômicron.
Questionado sobre os esforços chineses e russos para desacreditar no Twitter as vacinas produzidas nos Estados Unidos, um porta-voz da empresa se limitou a comentar sobre a decisão de banir Greene “por violações repetidas de nossa política de desinformação sobre a Covid-19”. E acrescentou: “Deixamos claro que, de acordo com nosso sistema de strikes para esta política, suspenderemos permanentemente contas devido a violações seguidas”.
Mas a conta da Sputnik V com frequência espalha informações enganosas sobre a vacina da Pfizer, assim como o Global Times espalha desinformação sobre as origens da Covid. Quantas vezes as contas verificadas pelo Twitter administradas por ditaduras precisarão entrar em conflito com a política de desinformação sobre a Covid-19 para que a empresa aja?
© 2021 The National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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