O jornalista americano Matt Taibbi publicou nesta sexta-feira (2) uma série de mensagens no Twitter que indicam que a rede social teria atuado para beneficiar os democratas na eleição presidencial de 2020 nos Estados Unidos. As mensagens foram retwittadas pelo bilionário Elon Musk, que comprou a empresa em outubro.
As postagens de Taibbi, chamadas de Twitter Files (Arquivos do Twitter), mostram mensagens internas da plataforma que indicam tratamento diferenciado para o democrata Joe Biden, que em novembro do ano retrasado venceria o então presidente republicano Donald Trump na disputa pela Casa Branca.
Em 14 de outubro daquele ano, o jornal New York Post publicou uma reportagem baseada em conteúdo de um laptop de Hunter Biden, filho do hoje presidente americano, que apontava que Hunter apresentou o pai, na época em que este era vice-presidente de Barack Obama, a um alto executivo de uma empresa de energia ucraniana.
Cerca de um ano depois, Joe Biden pressionou o governo da Ucrânia a afastar um promotor que estava investigando a empresa, segundo o New York Post.
“O Twitter tomou medidas extraordinárias para suprimir a história, removendo links e postando avisos de que poderiam ser ‘inseguros’. Eles até bloquearam sua transmissão por mensagem direta, uma ferramenta até então reservada para casos extremos, como, por exemplo, pornografia infantil”, escreveu Taibbi.
O jornalista informou que a então porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, teve sua conta bloqueada por twittar a respeito da reportagem do New York Post. Em resposta, um funcionário da campanha de reeleição de Trump, Mike Hahn, enviou uma carta furiosa ao Twitter, na qual afirmou: “Pelo menos finjam que se importam [com a imparcialidade] pelos próximos 20 dias”.
Taibbi destacou que pedidos para retirada de conteúdo do Twitter eram comuns, mas havia preferência para as solicitações dos democratas.
“[...] pedidos da Casa Branca de Trump e da campanha de Biden foram recebidos e atendidos. No entanto, este sistema não era equilibrado. Ele era baseado em contatos. Como a equipe do Twitter era e é predominantemente composta na sua maioria por pessoas de uma determinada orientação política, havia mais canais, mais maneiras de reclamar, abertos para a esquerda (bem, os democratas) do que para a direita”, disse o jornalista.
A então diretora de políticas públicas da rede social, Caroline Strom, questionou a equipe a respeito da situação, e, segundo os Twitter Files, recebeu a resposta de que menções à reportagem sobre o laptop de Hunter Biden haviam sido removidas devido a uma violação da política da empresa de não publicar “materiais hackeados”.
“Embora várias fontes se lembrem de ter ouvido sobre um aviso ‘geral’ das forças de segurança federais naquela época sobre possíveis hackeamentos de fora dos Estados Unidos, não há evidências - que eu tenha visto - de qualquer envolvimento do governo na história do laptop. Na verdade, pode ter sido esse o problema...”, apontou Taibbi.
O jornalista apontou que um ex-funcionário destacou que “hackeamento foi a desculpa, mas em poucas horas, praticamente todo mundo percebeu que isso não se sustentaria”, porém, “ninguém teve coragem de reverter isso”.
Segundo um ex-funcionário (que Taibbi não deixa claro se seria o mesmo) e mensagens internas do Twitter, embora houvesse dúvidas na cúpula da empresa sobre se o caso realmente configuraria uma violação das políticas da plataforma, a decisão foi manter a retirada de conteúdos com menção à reportagem sobre Hunter Biden.
Elon Musk escreveu no Twitter que um “episódio 2” dos Twitter Files deve ser publicado neste sábado (3). Embora ele não tenha adiantado o tema dessas novas mensagens, ele sugeriu que as eleições realizadas no Brasil em outubro podem receber atenção da nova gerência da plataforma no futuro.
“Tenho visto muitos tweets preocupantes sobre as recentes eleições no Brasil. Se esses tweets estiverem corretos, é possível que o pessoal do Twitter tenha dado preferência a candidatos de esquerda [nas eleições brasileiras]”, escreveu.