Na última semana, a Ucrânia realizou um de seus ataques mais importantes desde o início da guerra contra a Rússia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022.
No dia 30 de agosto, drones explosivos atingiram seis cidades russas a mais de 600 quilômetros de Kiev: Kaluga, Ryazan, Bryansk, Orlov, Moscou e Pskov, onde ao menos dois aviões cargueiros raros, modelo soviético IL-76, e outras aeronaves menores, usadas para transporte militar, foram destruídos.
Além de aviões, um depósito de combustível e uma fábrica de equipamentos eletrônicos também sofreram perdas na região próxima a Moscou.
A inteligência militar da Ucrânia, chefiada por Kyrylo Budanov, assumiu a responsabilidade pelo ataque ao campo de aviação militar de Pskov, contudo disse que os drones utilizados na investida partiram de dentro do próprio território russo, informação que ainda não foi comentada pelo Ministério da Defesa da Rússia.
Confirmada ou não a origem do lançamento dos equipamentos bélicos, o ataque mostra um avanço da contraofensiva do governo de Volodymyr Zelensky contra Vladimir Putin, um ano e seis meses após o início do conflito no Leste Europeu.
Diferentemente da população ucraniana, que desde os primeiros meses acompanhou de perto a capacidade de destruição do país vizinho, esta é a primeira vez que os russos veem com clareza a guerra se aproximando de suas casas.
Avanço na linha de defesa
Apesar do avanço ainda ser pequeno em comparação à destruição causada pela Rússia, generais de Kiev afirmaram à BBC que acreditam em uma aceleração no ritmo da contraofensiva nos próximos meses.
Uma das provas disso é que a defesa ucraniana iniciou um movimento de retomada dos territórios anexados pelo Exército de Putin em junho deste ano, começando por regiões ao sul como Rivnopil e Urojaine, cidades consideradas já perdidas por Moscou.
No final de julho, as Forças Armadas da Ucrânia afirmaram que libertaram o assentamento de Staromaiorske, na região de Donetsk, localizada na fronteira leste ucraniana. Kiev conseguiu chegar até os “Dentes de Dragão”, como é chamada a região onde a Rússia criou barreiras em torno das áreas ocupadas.
Apesar do progresso, o sucesso mais significativo da Ucrânia ocorreu recentemente no sul do país, onde o Exército afirmou ter retomado a vila Robotynena, em Zaporizhzhia, na qual a Rússia dedicou muitos recursos para controlar.
Segundo informações obtidas pela CNN, agora a Ucrânia busca avançar até o Mar de Azov, um alvo importante para Kiev devido à construção de uma ponte pela Rússia que liga a Crimeia (território tomado em 2014 por Putin) e Donetsk.
O governo de Zelensky tem concentrado sua campanha principalmente nos territórios do leste e sul do país, no entanto, mesmo com os pequenos avanços, a Rússia não tem facilitado o caminho e continua bombardeando a região, que precisou ser evacuada.
Na última quarta-feira (6), a ofensiva russa também atingiu a região de Kostiantynivka, onde ao menos 17 civis foram mortos. “Esse mal russo precisa ser derrotado o mais rápido possível” disse Zelensky em pronunciamento na ocasião.
As armas que ajudam a Ucrânia
A Ucrânia utiliza diferentes tipos de equipamentos para atacar a Rússia e se proteger das investidas que atingem seu território, entre eles aeronaves, drones, tanques e armas financiadas pelo Ocidente, representado principalmente pelos Estados Unidos e a União Europeia.
O que tem chamado a atenção nos últimos meses do conflito são os drones, sendo o mais importante o Bayraktar TB2, produzido na Turquia.
Ele é um equipamento bélico pequeno, barato, de média altitude, que tem causado enormes estragos, inclusive em tanques russos, desde o início da guerra.
Além de ataques aéreos, a Ucrânia também começou a investir em ataques marítimos, principalmente no Mar Negro, onde alvos foram atingidos em uma dezena de ações militares, entre eles bases navais e a ponte da Crimeia, tomada em 2014 pela nação inimiga.
O maior ataque pelo mar aconteceu no dia 25 de agosto, quando ao menos 40 drones kamikazes atingiram uma base militar russa na região. Apesar de indícios de autoria, o governo ucraniano não assumiu a responsabilidade sobre as ocorrências.
Segundo reportagem da BBC, os drones navais usados pela Ucrânia são pequenas embarcações não tripuladas que podem ser operadas pela superfície ou imersas na água.
Recentemente, o governo ucraniano anunciou um protótipo de um drone submarino chamado TLK-150. O equipamento possui um explosivo e uma câmera para guiar o “piloto” que realiza as manobras militares.
A indústria bélica da Ucrânia também produziu equipamentos bastante modernos, como o R18, um drone que, segundo as estimativas da empresa Aerorozvidka, já causou um prejuízo de aproximadamente R$ 600 mil à Rússia e consegue “voar de Kiev a Moscou”, cidades com mais de 800 quilômetros de distância.
Um levantamento da emissora americana CNN mostra que, até o momento, cerca de 11 ataques marítimos foram realizados pelo lado ucraniano contra a base militar russa em Sevastopol e o porto de Novorossiysk.
O Ocidente tem sido o principal patrocinador da Ucrânia no conflito, fornecendo armas, munições, dinheiro e equipamentos de proteção.
No entanto, a parceria pode se estremecer no momento em que Kiev começar a atacar a Rússia, visto que as concessões dos países pertencentes à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) são para combater a entrada russa e não para atacar o inimigo dentro de seu território.
Outra questão que coloca o apoio em risco são os recentes casos de corrupção no governo de Zelensky, que tem sido pressionado a trocar as lideranças dos ministérios.
O caso mais recente foi a demissão do ministro da Defesa, Oleksyi Reznikov, na última segunda-feira (4). Ele chefiava a pasta havia mais de 550 dias, antes mesmo da guerra iniciar.
O presidente nomeou o ex-deputado Rustem Umerov para liderar a pasta e pediu apoio do Parlamento, que aprovou a decisão nesta quarta-feira (6).
Enfraquecimento pelo lado russo
Enquanto a Ucrânia ganha espaço na guerra, a Rússia tem demonstrado enfraquecimento, apesar dos contínuos ataques aéreos, sendo o mais recente nas instalações portuárias ucranianas no rio Danúbio.
Houve tentativas sem sucesso do Exército russo de recuperar a região leste de Donetsk, afirmou a Defesa de Kiev, que declarou “êxito significativo” na reconquista do território.
De acordo com a CNN, a Rússia também tentou nova ofensiva perto de Kupiansk, cidade que havia sido tomada pelos russos e recuperada no outono passado por Kiev, mas não teve vitória.
Além das perdas externas com o conflito e os ataques que chegaram no território russo, o Kremlin precisa enfrentar uma nova dor de cabeça: o desmoronamento da economia.
O rublo, moeda oficial do país, chegou a valer US$ 0,009 no último mês, sua maior desvalorização dos últimos tempos. Associado a isso, houve o aumento das taxas de juros (atualmente em 12% ao ano) e queda no preço do petróleo produzido pelo país e das exportações em geral.
A Reuters teve acesso a estatísticas do governo, que mostraram um gasto de 9,7 trilhões de rublos (US$ 101 bilhões) neste ano com a guerra. Em comparação com 2021, que antecedeu o conflito, as despesas militares foram quase três vezes maiores em 2023.
Desde o início do conflito, o governo de Putin tem estimulado eventos patrióticos pelo país, aumentado a propaganda de guerra nas ruas e na televisão estatal, onde mostra “força e sucesso” nas investidas militares, no entanto a realidade se mostra bem diferente disso.
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