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Chocolate com formato do presidente russo Vladmir Putin | Roman Baluk/Reuters
Chocolate com formato do presidente russo Vladmir Putin| Foto: Roman Baluk/Reuters

Referendo

Ativistas das regiões de Donetsk e Lugansk realizaram um referendo no último domingo para declarar a separação da Ucrânia, num primeiro passo para se juntar à Rússia – como ocorreu recentemente com a península da Crimeia. A consulta não foi reconhecida por Kiev nem por EUA ou União Europeia.

O governo interino da Ucrâ­­nia iniciou na última quarta-feira um movimento de aproximação com outras lideranças políticas para tentar estancar a crise separatista no leste do país.

Houve uma série de reuniões, mas sem os militantes pró-Rússia, principal lado do impasse que tomou conta do país.

"Nós vamos conduzir o diálogo com aqueles que não atiram nem matam nossos cidadãos", disse o premiê Arseni Yatseniuk.

O dirigente afirmou que as negociações buscam aprimorar as propostas de descentralização do poder regional da Ucrânia, atendendo outros grupos políticos.

O governo interino quer também o apoio de grandes empresários não interessados na divisão do ­­país. Estão sendo ouvidos ainda membros do parlamento e figuras locais estratégicas no cenário político. O movimento de Kiev conta com o apoio de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa(OSCE), que devem ficar de prontidão no país pelo menos até o dia 25, quando haverá eleições presidenciais, convocadas em fevereiro após a queda de Viktor Yanukovich, aliado dos russos. A chamada "federalização" da Ucrânia, provável consequência dessa descentralização de poder, é também um pedido da própria Rússia, a quem Kiev acusa de estar por trás dos movimentos separatistas.

Opinião

Putin precisa de uma definição em Kiev

Vladmir Pires Ferreira, doutorando em Ciências Jurídico-Internacionais e Europeias pela Universidade de Lisboa

Apesar do otimismo internacional verificado após o fim da Segunda Guerra Mundial, a ordem internacional pós-1945 continuaria, de certo modo, a estar fundada sobre os antigos pilares da soberania e do "equilíbrio de poder" nas relações entre Estados, revelando uma dissincronia entre os objetivos constantes na Carta da ONU e o jogo diplomático moderno, que continuaria a ser pautado pelas regras estabelecidas na segunda metade do século 19.

Embora inúmeras lideranças tenham, nas últimas sete décadas, se destacado no jogo do realismo político, hodiernamente, nenhum outro líder mundial parece ter mais habilidade neste campo do que o atual presidente russo Vladimir Putin. Nos últimos anos, ele obteve vitórias importantes: na Síria, ao solucionar pacificamente uma controvérsia que, envolvendo o suposto uso de armas químicas, quase culminou em uma operação militar americana; e, mais recentemente, ao consolidar, no âmbito da crise ucraniana, um ponto crucial da sua política externa e que consiste em garantir que países como a Geórgia e a Ucrânia não ingressem, em um futuro próximo, nos quadros da Otan.

O prolongamento da situação ucraniana, contudo, ameaça fazer ruir a posição de vantagem até agora mantida por Moscou. Por um lado, Putin encontra-se moralmente vinculado à prestação de auxílio para as populações russas na Ucrânia, caso o governo interino insista em sufocar os movimentos separatistas através do emprego de força armada. Nesse sentido, é especialmente preocupante a atuação de grupos ultranacionalistas ucranianos.

Por outro lado, a Rússia sabe que qualquer ação contundente poderá romper as já tênues relações que mantém com os países ocidentais. Tal quadro implicaria não apenas em novas e violentas sanções comerciais impostas pelos EUA e pela UE, como, também, em um aumento da presença militar da Otan na região.

Putin, mais do que nunca, aspira a uma decisão para a crise ucraniana, desde que isso não signifique o comprometimento de interesses geoestratégicos. Todavia, no interior de um Estado em vias de colapso, esses interesses podem ser facilmente violados pelas ações de organizações paramilitares, sobre cujas ações o governo interino simplesmente não exerce qualquer controle ou, simplesmente, escolhe ignorar.

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