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Conflito no leste europeu

Ucrânia inicia ano cercada de incertezas sobre rumos da guerra

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mudou seu discurso após a vitória de Trump na eleição americana (Foto: EFE/EPA/OLIVIER MATTHYS)

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A Ucrânia vai começar 2025 mergulhada em incertezas a respeito do conflito no qual enfrenta a Rússia há dois anos e dez meses, devido a derrotas no campo de batalha em 2024 e mudanças políticas em países aliados que colocam em xeque sua capacidade de seguir respondendo à invasão russa.

O ano que está chegando ao fim foi marcado por fatores que deram esperança aos ucranianos, como a surpreende incursão na região russa de Kursk, iniciada em agosto; a chegada dos primeiros caças F-16, de fabricação americana (embora a maioria esteja prometida por aliados apenas para 2025); a autorização dos Estados Unidos e do Reino Unido para utilizar armas de longo alcance fornecidas pelos dois países contra alvos distantes dentro do território russo; e ações ousadas, como a morte do tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química da Rússia, numa explosão em Moscou no último dia 17, e um ataque com drones à região de Kazan.

Entretanto, analistas ponderam que a chegada dos F-16s e a autorização para o uso de armas de longo alcance vieram tarde demais e não são capazes por si sós de mudar os rumos da guerra, que estão nitidamente favoráveis aos russos.

A Rússia reverteu grande parte dos avanços ucranianos em Kursk (com a ajuda de militares norte-coreanos), “estreou” um novo míssil balístico hipersônico de médio alcance, capaz de transportar ogivas nucleares, e realizou ataques devastadores contra a infraestrutura de energia da Ucrânia, um deles no dia de Natal.

Até recentemente, a Ucrânia falava que só aceitaria negociar com os russos se estes deixassem as áreas que ocupam no leste do país. Porém, nas últimas semanas, esse discurso vem mudando.

Após a vitória de Donald Trump na eleição americana, em novembro, o presidente Volodymyr Zelensky disse que “é certo que a guerra terminará mais cedo com as políticas da equipe que agora liderará a Casa Branca”. “Esta é a abordagem deles, a promessa deles aos seus cidadãos”, afirmou, numa entrevista à emissora ucraniana Suspilne.

Depois, admitiu ceder, ao menos temporariamente, as áreas hoje ocupadas pela Rússia, sob a condição de que a Otan proteja regiões ucranianas sob domínio de Kiev, ainda que o país não integre a aliança.

“Se quisermos parar o estágio quente da guerra, devemos proteger sob o guarda-chuva da Otan o território da Ucrânia que temos sob nosso controle”, disse, em entrevista à emissora britânica Sky News no fim de novembro.

“É isso que precisamos fazer rapidamente, e então a Ucrânia pode recuperar a outra parte de seu território diplomaticamente”, acrescentou.

Já em dezembro, afirmou que, em conversas com Trump e o presidente francês, Emmanuel Macron, discutiu o “congelamento” das atuais frentes de batalha, nas quais a Rússia domina total ou parcialmente as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia. Desde 2014, já controlava a península da Crimeia.

A mudança de discurso de Zelensky não ocorre apenas devido aos ganhos russos em 2024, mas porque Alemanha e França, as duas maiores potências militares da União Europeia, vivem crises políticas que colocaram o apoio aos ucranianos em segundo plano e porque não se sabe ainda qual será a postura de Trump sobre o conflito.

O republicano sempre criticou os gastos do governo americano com a ajuda à Ucrânia e prometeu durante a campanha presidencial que chegaria a um acordo para dar fim à guerra antes da sua posse, em 20 de janeiro, compromisso que renovou após a eleição.

Entretanto, a cerca de três semanas dele voltar à Casa Branca, nenhuma proposta oficial surgiu. O tenente-general reformado Keith Kellogg, que foi chefe de gabinete do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), apresentou durante a campanha um plano que bloquearia a assistência militar dos Estados Unidos caso Kiev se recuse a iniciar negociações de paz com a Rússia.

A proposta estabelece um cessar-fogo durante as negociações de paz baseado nas linhas de batalha que estão prevalecendo atualmente no conflito – ou seja, com Moscou mantendo as áreas invadidas no leste ucraniano.

A equipe de Trump não confirmou que este é o plano oficial do republicano para que haja paz no leste europeu, mas no final de novembro ele indicou Kellogg como enviado especial para Ucrânia e Rússia com a missão de acabar com a guerra.

Em artigo publicado este mês no site The Conversation, Stefan Wolff, professor da área de segurança internacional da Universidade de Birmingham, escreveu que a Ucrânia inicia 2025 “sem boas opções e com poucos aliados confiáveis”. Por ora, a maior preocupação é impedir um prejuízo ainda maior.

“O melhor que a Ucrânia pode esperar é ganhar tempo. Zelensky precisará acalmar Trump. Ele precisará estar aberto à ideia de negociações com a Rússia, ao mesmo tempo evitando um colapso das linhas de frente antes que um cessar-fogo possa ser alcançado”, disse Wolff.

“Se a Europa, nesse meio tempo, levar a sério sua própria defesa, isso pode finalmente levar a UE e os aliados europeus de Kiev na Otan a se manterem por conta própria e fornecerem ao continente, e à Ucrânia, uma dissuasão confiável contra a Rússia. Até agora, eles falaram bonito. Em 2025, precisarão provar que podem cumprir o que falam”, acrescentou.

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