O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse nesta segunda-feira (29) que a Rússia se aproveita de um momento de distração de potências ocidentais para aumentar a pressão sobre seu país, pediu a ajuda da comunidade internacional contra essa ameaça e negou que Kiev planeja uma ofensiva militar na região de Donbass, uma das desculpas de Moscou para concentrar tropas na fronteira.
“O que vemos agora é muito sério. A Rússia implantou uma grande força militar em regiões próximas à fronteira com a Ucrânia. Isso inclui tanques, artilharia, sistemas de guerra eletrônicos, força aérea e naval. Existem mais de 40 grupos táticos de batalhões que somam 115 mil militares na direção da Ucrânia, incluindo as forças presentes nos territórios ocupados da Crimeia e de Donbass”, afirmou Kuleba em entrevista coletiva.
O chanceler destacou que forças russas estão amplamente presentes na região da fronteira com a Ucrânia desde o ano passado – com toda a infraestrutura transportada durante a última primavera europeia, uma ofensiva poderia ser feita de um dia para o outro – e por enquanto Moscou se recusa a explicar suas ações e seus movimentos militares de forma transparente e confiável.
Também ressaltou que o governo russo ignora convites para retomar os diálogos do formato Normandia, cúpula diplomática entre Ucrânia, Rússia, Alemanha e França para discutir o confronto na região de Donbass, onde forças ucranianas e separatistas apoiados por Moscou se enfrentam desde 2014.
Na opinião de Kuleba, o governo de Vladimir Putin dobra a aposta neste momento porque “vê uma oportunidade”. “Nossos principais aliados europeus, Alemanha e França, estão focados em seus assuntos domésticos. A Alemanha realizou eleições recentemente e a França terá uma em breve. O projeto de gasoduto geopolítico da Rússia, Nord Stream 2, está em fase de certificação. Vladimir Putin acha que o Ocidente está fraco e indeciso, especialmente agora”, argumentou.
“Ele pode estar confiante de que este é o momento certo para mudar o equilíbrio de poder na região para seu próprio benefício”, complementou, rebatendo a acusação da Rússia de que a Ucrânia estaria preparando um ataque militar na região de Donbass: “Estamos empenhados em buscar soluções políticas e diplomáticas para o conflito”.
“É claro que não se trata apenas da Ucrânia, mas dos interesses da Rússia na Europa como um todo. Vimos como a Rússia usa o gás natural como arma para agravar a crise energética na Europa. Como usa os imigrantes como armas para aumentar as tensões na fronteira de Belarus com a Lituânia e a Polônia e, a propósito, também nos obriga a alocar mais recursos e mais poder de guarda de fronteira para a fronteira com Belarus, que tem mil km de extensão”, disse Kuleba.
“Na pior das hipóteses, a Rússia pode tentar minar toda a arquitetura de segurança pós-Guerra Fria na Europa e redesenhar as fronteiras à força novamente, como já fez em 2008 na Geórgia e em 2014 na Ucrânia, quando ocupou a Crimeia e iniciou uma guerra em Donbass”, alertou.
Ucrânia propõe dissuasão política, econômica e militar
Para frear a escalada russa, a Ucrânia propôs aos seus parceiros no Ocidente um pacote de dissuasão em três níveis: político, com declarações enfáticas de apoio à Ucrânia; econômica, com sanções à Rússia; e militar, aprofundando a cooperação com Kiev nos setores de segurança e defesa.
“Esta semana, vou participar da reunião ministerial da Otan (aliança militar do Ocidente) em Riga e da reunião da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) em Estocolmo”, relatou Kuleba. “Irei informar nossos parceiros sobre a situação de segurança na região, mobilizar mais apoio à Ucrânia e discutir medidas muito concretas que podem ser tomadas para dissuadir a Rússia.”
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou que recebeu a informação de que está sendo preparada uma tentativa de golpe de Estado no país, com participação de russos, que seria deflagrada esta semana. A Rússia nega.
Nesta segunda-feira, Kuleba apontou que, quando se fala de guerra híbrida, a pressão militar externa é acompanhada de desestabilização doméstica do país. Por isso, a Ucrânia está “vigilante” sobre uma possível tentativa de golpe.
“Se a Rússia decidir recorrer à última medida de uma operação militar ofensiva, ela será sem dúvida precedida ou acompanhada por tentativas ousadas e sistemáticas de desestabilizar a Ucrânia por todos os meios disponíveis”, argumentou o chanceler.