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O jogo de xadrez está em andamento e a expectativa é de qual movimento o Ocidente irá tomar em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Um dos principais temores da Rússia, a entrada dos ucranianos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está descartada com a invasão.
“O que Putin quer é a formação de uma barreira de estados para se proteger de um eventual ataque do Ocidente”, diz a analista política da XP Investimentos, Sol Azcune. Regiões que foram integrantes da antiga União Soviética ou que estavam em seu bloco de influência, como a Estônia, a Letônia, a Lituânia, a República Tcheca, a Eslováquia e a Polônia aderiram à Otan.
A analista aponta que vai ser muito importante a resposta do Ocidente em relação ao movimento russo. Ela aponta que as sanções adotadas no início desta semana, quando a Rússia reconheceu a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, foram muito leves.
Bancos e indivíduos ligados ao movimento separatista foram atingidos e a Alemanha estabeleceu restrições ao gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia a um porto no Nordeste da Alemanha. “Mas as principais instituições financeiras não foram atingidas”, diz ela.
A expectativa é de que as sanções atinjam bancos importantes para a Rússia e que também abranjam os oligarcas russos, figuras próximas a Putin e que controlam parte da economia do país.
A especialista da XP acredita que o conflito militar é algo que deve ser resolvido no curto prazo. Ela descarta a entrada de tropas da Otan, o que poderia aumentar ainda mais a escalada das tensões.
Ela descarta que haja punições muito drásticas como a retirada da Rússia do Swift, o mecanismo que regula as transações internacionais e que reúne bancos, pois colocaria o dólar em uma posição mais delicada. Isto poderia impactar na oferta mundial de petróleo, já que a Rússia está entre os três maiores produtores mundiais e cujos preços ultrapassaram a barreira dos US$ 100.
“Temos de cuidar para que o feitiço [as sanções] não vire contra o feiticeiro”, diz o economista-chefe da XP, Caio Megale.
Mas mesmo assim, eventuais sanções contra a Rússia terão alcance limitado, por causa da aliança estratégica do país com a China, a segunda maior economia global, aponta a analista de política.
Megale aponta que este novo componente chega em um momento crítico para a economia mundial. “Não estamos em um cenário equilibrado. Temos uma pressão inflacionária de demanda, disrupção nas cadeias produtivas e commodities ainda em alta.”
Economistas do TC Matrix apontam que em 2022 a inflação será triplamente afetada pelo prolongamento dos problemas logísticos e da cadeia global de suprimentos e repique do custo dos fretes; choque nos preços das commodities, sobretudo as energéticas e agrícolas e desabastecimento e escassez de produtos.
Megale, da XP, avalia que a tendência é de que principais bancos centrais do mundo desacelerem o ritmo da alta nos juros, já que a invasão representou um choque adicional à economia mundial e deve frear o seu crescimento. Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava uma expansão de 4,4% para o PIB global em 2022.
“As sanções dos países ocidentais à Rússia, a paralisação de indústrias e comércios e a queda nas exportações e importações afetará o ímpeto do crescimento da economia global”, aponta o TC Matrix.
Não está descartada a entrada da economia mundial em um cenário de estagflação, ou seja, crescimento baixo com inflação persistente. “Mal o mundo entrou nos trilhos da recuperação pós Covid-19 e já terá novos desafios para frente”, apontam as economistas Fernanda Mansano e Lorena Dourado, da TC Matrix.
Elas ressaltam que o ambiente de guerra fará a economia sofrer por diferentes frentes. A regra será instabilidade e incerteza. “Veremos maior inflação, menor crescimento econômico, fuga de capital dos países emergentes, dólar forte e queda generalizada nos ativos de riscos.”