Ocidente ficará em situação difícil se Ucrânia e Rússia entrarem em guerra
Se a Rússia e a Ucrânia entrarem em guerra franca, os Estados Unidos e seus aliados terão difíceis escolhas pela frente sobre como ajudar um país amigo, mas que eles não querem dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Se Moscou tomar alguma ação contra os membros da Otan, isso inevitavelmente acionaria a cláusula 5, de defesa mútua da aliança, levando a uma guerra. A Ucrânia, contudo, não é um país-membro, e autoridades do Ocidente dizem que nem está perto de ser.
Os EUA e outras nações passaram os últimos cinco meses criticando as ações do governo russo, comandado por Vladimir Putin e descrevendo suas ações como inaceitáveis. Eles acusam Moscou de armar os rebeldes, algo negado pelo Kremlin.
A realidade, no entanto, é que EUA e países europeus querem evitar um confronto potencialmente nuclear com os russos.
Uma ação direta dos países da Otan permanece fora de cogitação, dizem autoridades atuais e antigas.
"O Ocidente já está pressionando até o limite e fazendo o que julga possível sem entrar em um confronto sério com a Rússia", afirmou Samuel Charap, ex-autoridade do Departamento de Estado norte-americano e agora membro sênior do International Institute for Strategic Studies.
"Podem haver mais sanções. Pode haver mais apoio aos ucranianos, mas além disso eu realmente não vejo os EUA fazendo muito mais."
As batalhas entre forças ucranianas e separatistas pró-Rússia foram diminutas neste sábado e não há sinais de que o conflito tenha aumentado, depois de Kiev ter dito que destruiu parcialmente um comboio armado que cruzou a fronteira vindo da Rússia.
A informação da ocorrência do ataque na sexta-feira causou agitação no câmbio e nas bolsas europeias, com os mercados temendo de que o ataque pudesse mudar o conflito, transformando-o em uma guerra aberta entre Moscou e Kiev, que é apoiada pelo Ocidente.
Mas Moscou não deu sinais de retaliação, dizendo ser uma "fantasia" relatar que seus veículos tinham cruzado a fronteira. Em Washington, a Casa Branca disse que não podia confirmar se os veículos russos foram atacados.
Em solo, os conflitos voltaram neste sábado ao padrão que vêm seguindo nas últimas semanas. Kiev afirmou que equipamentos militares estão entrando na Ucrânia a partir da Rússia, e rebeldes disseram ter atacado tropas ucranianas.
Um repórter da Reuters em Donetsk, um dos dois redutos rebeldes no leste do país, afirmou que o som de explosões era audível no centro da cidade. O presidente finlandês, Sauli Niinisto, chegará neste sábado a Kiev para conversas com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, com o objetivo de encontrar uma solução negociada para o conflito.
Niinisto se encontrou com Putin no sul da Rússia na sexta-feira e, depois, falou sobre a possibilidade de uma trégua, embora não tenha ficado claro como isso seria possível.
Guerra Verbal
O conflito na Ucrânia fez as relações entre Rússia e o Ocidente atingirem o pior patamar desde a Guerra Fria, e causou uma série de restrições comerciais que estão prejudicando as economias russa e da Europa.
A Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta semana que cerca de 2.086 pessoas morreram no conflito, e quase 5.000 ficaram feridas.
Um site de notícias dos rebeldes afirmou neste sábado que osseparatistas mataram 30 membros de um batalhão do governo ucraniano na província de Luhansk, uma região controlada pelos rebeldes e adjacente à Fronteira com a Rússia.
Rebeldes também afirmaram que dois vilarejos ao sul de Donetsk, outro reduto do grupo, foram bombardeados durante a noite com disparos de morteiros. O site rebelde Novorossiya também informou que dois bairros da própria cidade foram atingidos.
Andriy Lysenko, um porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, contradisse as afirmações dos rebeldes. Ele afirmou que três ucranianos foram mortos nas últimas 24 horas, e negou que Kiev tenha bombardeado Donetsk.
Nas últimas horas, forças ucranianas avistaram aviões não tripulados e um helicóptero russo cruzando ilegalmente o espaço aéreo ucraniano, disse Lysenko.
Ele não quis mais dar detalhes sobre os incidentes de sexta-feira, quando Kiev afirmou ter atacado o comboio de blindados. A Ucrânia não discriminou se os veículos estariam ocupados por soldados russos ou separatistas.