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Um ano difícil

Ucrânia vive ano de conflitos e incertezas que afundaram o país na crise

Rebelde pró-Rússia em caminhão que se dirige ao Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev para lutar contra forças leais ao governo ucraniano | REUTERS/Shamil Zhumatov
Rebelde pró-Rússia em caminhão que se dirige ao Aeroporto Internacional Sergey Prokofiev para lutar contra forças leais ao governo ucraniano (Foto: REUTERS/Shamil Zhumatov)

Ucrânia viveu o ano mais conturbado de sua história pós-soviética, com a revolta popular que derrubou o presidente, a perda da península da Crimeia, anexada pela Rússia, e uma insurreição armada separatista no leste do país que põe em perigo sua existência como Estado.Desde sua independência da União Soviética, a Ucrânia se debatia entre olhar para a Europa ou para a Rússia, sem tomar uma decisão definitiva, em um longo flerte com Bruxelas e Moscou, dependendo da conveniência do momento.

Esta dualidade, ditada não só pela vontade política de seus governantes, mas também pela fratura étnico-linguística entre o leste nacionalista ucraniano e o oeste de fala russa, foi o caldo de cultivo da crise ucraniana, que degenerou em uma ameaça para a segurança internacional.

A súbita decisão de Viktor Yanukovich, tomada em novembro de 2013 de renunciar, no último momento e sob a pressão da Rússia para a assinatura do Acordo de Associação com a União Europeia, provocou em Kiev uma onda de protestos que em fevereiro deste ano evoluiu para sua queda e exílio na Rússia.

Mais de uma centena de pessoas, entre manifestantes e policiais, morreram nos confrontos anteriores à fuga de Yanukovich, em que os nacionalistas ucranianos foram os grandes protagonistas.

Em 27 de fevereiro, cinco dias depois da queda de Yanukovich, homens armados tomaram as sedes do Governo e do Parlamento da República Autônoma da Crimeia, povoada majoritariamente por russos, e içaram a bandeira da Rússia.

Três semanas depois, a Crimeia, onde a Rússia tinha um contingente militar de mais de 25 mil homens, realizou um referendo de independência e reunificação com Moscou, declarado ilegal pelas nova autoridades de Kiev, em que o "sim" obteve 96,7%.

Em 21 de março o presidente russo, Vladimir Putin, assinou o decreto de incorporação da Crimeia e do porto de Sebastopol à Federação Russa, enquanto Kiev decidiu evacuar suas tropas e entregar a estratégica península no Mar Negro sem resistência.

A reação do Ocidente não demorou: o Grupo dos Oito virou Grupo dos Sete (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Japão) com a suspensão de reuniões com a Rússia, passo que marcou o começo da imposição de sanções contra Moscou, que foram se intensificando com o agravamento da crise.

Encorajados pelo sucesso na Crimeia, os manifestantes pró-Rússia das regiões orientais de Donetsk e Lugansk, na fronteira com a Rússia, pegaram em armas contra as novas autoridades de Kiev, que desta vez responderam ao desafio com o lançamento de uma "operação antiterrorista", com o uso do Exército e destacamentos de voluntários.

As novas autoridades ucranianas, apoiadas pelo Ocidente, acusaram a Rússia não só de apoiar os separatistas, mas também de participar diretamente, com soldados, do conflito nas regiões orientais do país, que causou mais de 4.300 mortos e provocou o êxodo de centenas de milhares de refugiados.

No meio das ações militares no leste do país, a Ucrânia elegeu seu novo presidente, Petro Poroshenko, e o novo Legislativo, de marcante vocação europeísta, além de ter assinado um acordo de associação com a União Europeia, o mesmo que Yanukovich tinha decidido adiar.

A queda em 17 de julho, supostamente por causa de um míssil terra-ar, de um Boeing 777 da Malaysia Airlines com 298 pessoas a bordo, sobre o território controlado pelos separatistas pró-Rússia causou a indignação da comunidade internacional.

Em um primeiro momento, quando achavam que o avião era um aparelho de transporte das Forças Aéreas ucranianas, chefes militares dos pró-Rússia assumiram a ação nas redes sociais, mas logo após ser descoberto que se tratava de uma aeronave de passageiros, se retrataram.

A tragédia e a intensificação das ações militares em agosto, com um aumento considerável do número de mortos, tanto de combatentes como civis, levou as partes em conflito a se sentarem à mesa de negociações.

Em 5 de setembro, com a mediação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce) e da Rússia, as autoridades ucranianas e os separatistas anunciaram em Minsk um acordo de cessar-fogo, e duas semanas mais tarde assinam um plano de solução para o conflito.

No entanto, as hostilidades continuam e a cada dia fazem novas vítimas.

A situação nas frentes se estabilizou: as forças ucranianas recuperaram mais da metade do território das regiões de Donetsk e Lugansk, cujas capitais homônimas continuam em poder dos pró-russos, que controlam, além disso, centenas de quilômetros da fronteira com a Rússia.

A chegada do inverno, com temperaturas vários graus abaixo de zero, levará, na opinião de muitos analistas, a uma diminuição da intensidade do conflito, e se os acordos para sua solução não forem cumpridos, florescerá com força renovada na chegada da primavera europeia.

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