Público se reúne para manifestar na manhã desta segunda-feira (2), em Barcelona| Foto: PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP

A União Europeia não irá reconhecer o plebiscito na Catalunha e insiste que a votação violou as regras internas e a Constituição da Espanha. "Esse é um tempo de união e estabilidade", insistiu a Comissão Europeia, numa coletiva de imprensa em Bruxelas. "Apelamos aos atores implicados que se passe de confrontação para o diálogo", insistiu Margaritis Schinas, porta-voz do bloco europeu, que qualificou a votação como "um assunto interno". Segundo ele, uma Catalunha com uma independência unilateralmente declarada estaria fora da UE.

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No domingo, catalães foram às urnas num plebiscito considerado ilegal pela Justiça espanhola. Com cerca de 38% de eleitores, o governo catalão insiste que o apoio pela independência atingiu 90% dos votos.

Bruxelas deixou claro que a Comissão Europeia não pretende reconhecer uma declaração unilateral de independência e que "confia" no papel do premiê do governo espanhol, Mariano Rajoy, para solucionar a crise catalã, respeitando os direitos fundamentais.

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A UE reiterou ainda seu apoio à "ordem constitucional" na Espanha. "A Comissão acredita que são tempos de unidade e estabilidade, e não de divisões e fragmentação", disse.

"Segundo a Constituição espanhola, o voto de ontem na Catalunha não foi legal", disse. "Para a Comissão, esse é um assunto interno da Espanha que deve ser gerido de acordo com a ordem constitucional. Também reiteramos a posição legal mantida por essa Comissão: se um plebiscito não foi organizado de acordo com Constituição, ele implicaria que o território ficaria de fora da UE", explicou.

Violência

Tímida em condenar os incidentes em Barcelona, a UE se limitou a dizer que a "violência nunca pode ser um instrumento na política". Questionado de forma insistente por jornalistas de toda a Europa, o porta-voz se recusou a qualificar se o uso da força pelos policiais foi ou não desproporcional. "Não opinarei se a atuação da polícia é proporcional", disse.

Bruxelas se recusou ainda a dizer se condena ou não o que ocorreu em Barcelona e nem quantos feridos seriam necessários para que a UE possa reagir oficialmente contra um governo.

A violência da polícia espanhola gerou duras reações por parte de dezenas de eurodeputados e mesmo de governos na Europa, apelando para que tais medidas não fossem adotadas.

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Para a UE, cabe às "partes implicadas se colocar em um diálogo e começar o processo. A Comissão não tem esse papel nessa fase", disse. "Queremos que esse processo possa emergir, depois da confrontação", afirmou.

O porta-voz tampouco respondeu o motivo pelo qual a UE reconheceu a independência do Kosovo, e não da Catalunha. "Era um contexto específico", insistiu. "As situações não são comparáveis", completou.

Próximos passos  

Autoridades de Madri e Barcelona se reunem separadamente nesta segunda-feira (2) para avaliar seus próximos passos nesta crise territorial.  

O governo regional catalão, que convocou a consulta de domingo (1) pela separação de seu território, estuda enviar os resultados ao Parlamento para que declare sua independência de maneira unilateral na quarta-feira (4). 

Madri já tinha avisado, ademais, que o plebiscito era ilegal e sem valor algum. Não há a possibilidade de que o governo central reconheça a independência declarada após uma consulta sem garantias, e tampouco se espera que o restante do mundo dê o seu aval.  

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O governo em Madri, chefiado pelo conservador Mariano Rajoy, do Partido Popular, deve se reunir durante o dia com outras forças políticas e discutir a possibilidade de aplicar o chamado Artigo 155, que revogaria temporariamente a autonomia catalã e imporia eleições antecipadas. Há o apoio do partido de centro-direita Cidadãos, mas seria necessário convencer os socialistas do PSOE.  

A Catalunha já dispõe atualmente de uma série de liberdades excepcionais na Espanha, como seu próprio Parlamento e polícia (os chamados Mossos). Mas sua classe política tem mobilizado a população em torno do sonho de um Estado próprio - reivindicação feita em outros momentos, e reprimida, por exemplo, na ditadura de Francisco Franco (1939-1975).  

Um dos principais argumentos é econômico. A Catalunha produz 20% do PIB espanhol, que é hoje da ordem de US$ 1,2 trilhão. O território tem também sua própria língua, o catalão, aparentado do francês.