A menos de quatro dias para o fim do prazo, a reta final das negociações por um acordo sobre o polêmico programa nuclear do Irã começou neste sábado em Viena em clima de otimismo moderado.
O secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu duas vezes hoje com seu colega iraniano, Mohammed Javad Zarif, em uma nova tentativa de superar os últimos obstáculos.
“Acho que é justo dizer que temos esperanças. Temos muito trabalho a fazer. Temos alguns assuntos difíceis, mas todos queremos fazer o esforço final para ver se um acordo é possível ou não”, declarou Kerry antes de sua reunião com Zarif.
Ao chegar à capital austríaca, o ministro iraniano afirmou que há “um bom acordo ao alcance das mãos, com o qual todos podem se beneficiar se houver vontade”.
O chamado grupo 5+1, composto por Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, tenta firmar até terça-feira um acordo que ponha fim a 13 anos de disputa nuclear com o Irã.
Ambas as partes continuam em desacordo sobre como verificar um possível acordo e suspender as sanções internacionais impostas ao país.
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, expôs à imprensa em Viena o que classificou como “condições indispensáveis” para um acordo: inspecionar todas as instalações iranianas, uma limitação duradoura da pesquisa e da produção nuclear e um retorno automático às sanções caso o Irã não cumpra o combinado.
Segundo o ministro francês, essas três condições “respeitam a soberania do Irã”, mas reconheceu que nem todos os interlocutores as aceitam ainda. Em todo caso, afirmou que essas exigências “constituem a base indispensável para o acordo que a França busca”.
“O que queremos é um acordo que conceda ao Irã o direito a um programa nuclear civil, mas que garanta que o país renuncie efetiva e definitivamente às armas nucleares”, concluiu o ministro francês, cujo país mantém a linha mais dura e intransigente com o Irã.
À espera da chegada dos demais ministros das Relações Exteriores a Viena, Zarif, Kerry e Fabius tinham previsto para hoje reuniões bilaterais no hotel Palais Coburg, no centro de Viena.
Centenas de jornalistas de todo o mundo, incluindo dezenas de equipes de televisão, acompanham de perto os eventos das negociações que já duram quase dois anos.
Os demais ministros do G5+1 devem chegar à capital austríaca entre domingo e segunda-feira. Para amanhã está anunciada a chegada da alta representante da União Europeia (UE), Federica Mogherini, que atua como coordenadora do grupo internacional.
Além disso, deve comparecer a Viena o ministro alemão, Frank-Walter Steinmeier, enquanto o representante russo, Sergei Lavrov, chegaria à capital austríaca na segunda-feira.
A data limite para se fechar um acordo com o Irã é o dia 30 de junho, mas várias fontes diplomáticas afirmam que os contatos podem ser estendidos além dessa data.
Os principais pontos de discórdia são o regime de inspeções sobre o Irã e as modalidades de uma suspensão das sanções internacionais impostas.
Teerã exige que as sanções sejam suspensas de forma imediata quando for verificado o cumprimento do pacto, enquanto as potências ocidentais defendem uma suspensão mais gradual.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) investiga há 12 anos o programa nuclear iraniano, sem ter podido assegurar ainda se existe ou existiu uma dimensão militar oculta, o que Teerã nega.
O diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, também chegou neste sábado ao hotel Coburg para se reunir com os negociadores do G5+1. O objetivo de Amano é “ajudar para que o acordo seja tecnicamente viável”, segundo informou um porta-voz da agência nuclear da ONU.
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