Presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, professor e dissidente, Elizardo Sánchez denuncia aumento da violência policial e nega que algo tenha mudado na prática com o degelo, que, segundo ele, vale apenas para acordos e relações diplomáticas.
Um ano depois do histórico anúncio de reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, a repressão a dissidentes é ainda maior, e até a ONU alertou para a onda de violência. O que aconteceu?
O degelo bilateral vale exclusivamente para acordos e relações diplomáticas. Mas não teve qualquer impacto na situação política interna em Cuba, já que o governo continua violando todas as liberdades civis. De fato, assistimos a ainda mais repressão e violência policial contra opositores.
Nada melhorou?
Lamentavelmente não. O governo se limitou a mudanças pequenas. E há circunstâncias que pioraram. O que vemos é o empobrecimento da maioria da população, que continua crescente. É verdade que todas as crianças têm acesso às escolas e todos têm atendimento médico gratuito quando ficam doentes, mas há uma carência material enorme.
Na prática, o que mudou para os cubanos?
Nada mudou. O próprio Obama e altos funcionários do governo americano sabiam que nada iria mudar de uma hora para outra. Mas aqui a expectativa era altíssima. O que mais falta em Cuba é esperança, e essa falta de esperança entre a população estimulou uma grande expectativa por mudanças. O que vimos foram mais cubanos deixando o país, e ninguém foge da felicidade. Aqui querem fugir desesperadamente.
Os trabalhadores por contra própria não aumentaram?
Sim, mas é algo bem limitado. São pequenos negócios familiares que não têm apoio oficial, e os empresários muitas vezes precisam pagar altos impostos para manter poucos empregados. O governo não estimula este tipo de negócio.
Há melhorias no turismo?
Sim. O aumento de turismo era natural, inclusive o ingressos de muitos americanos. Mas os benefícios reais ficam nas mãos do governo. Para os cubanos, sobram poucas migalhas.
E em relação à internet?
Foram estabelecidos pontos wi-fi no país (cerca de 70 ao todo), mas ainda não se permite o acesso de internet nas casas, por exemplo. E para cada hora de uso nos centros onde a internet está disponível, paga-se cerca de US$ 2 (2 pesos convertíveis), um valor altíssimo para o cubano. Em relação ao governo, no entanto, para cada estação de wi-fi, estima-se que ele possa lucrar de meio milhão a um milhão de dólares.