Nesta quarta-feira (13), completou-se um ano que Mahsa Amini, uma jovem iraniana de 22 anos da cidade curda de Saqez, foi presa pela polícia de costumes por “uso inadequado” do hijab, o véu islâmico. Sua morte, três dias depois, enquanto permanecia sob custódia, despertou a maior onda de manifestações no Irã em muitos anos.
O regime iraniano respondeu com violência aos protestos, nos quais vários manifestantes foram mortos, e condenou à pena capital outros participantes, dos quais ao menos sete já foram executados.
O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgou nesta quinta-feira (14) um relatório que apontou que a repressão só aumentou no país desde as manifestações.
Sara Hossain, presidente da Missão de Apuração de Fatos da ONU, disse que o regime islâmico deixou de garantir reparações a familiares de Amini (que inclusive seguem sendo perseguidos pelas autoridades iranianas) e de manifestantes feridos ou mortos.
“Em vez disso, a República Islâmica está aumentando a repressão e as represálias contra os seus cidadãos e tentando introduzir leis novas mais draconianas, que restringem ainda mais severamente os direitos das mulheres e das meninas”, disse Hossain.
O relatório citou como exemplo um projeto de lei em tramitação no Parlamento iraniano que propõe o aumento das multas e penas de prisão para mulheres e meninas que violem as regras do uso do véu, além de proibições de viagens, confisco de veículos, negação de educação e serviços públicos, incluindo de saúde, e sanções contra empresas que não fiscalizarem a utilização do hijab por parte das suas funcionárias.
Uma reportagem da agência Reuters também destacou as medidas do regime sobre o uso da internet no Irã, como bloqueio de sites e aplicativos de mensagens, criminalização de redes privadas virtuais (VPNs) utilizadas para contornar as restrições, interrupções totais do acesso à rede e “toques de recolher digitais”, ao impedir o acesso durante a noite, quando os protestos são mais prováveis.
Apesar dessa reação, muitos ativistas acreditam que os protestos iniciados um ano atrás abriram um caminho que vai gerar frutos no futuro. Ladan Boroumand, cofundadora do Centro Abdorrahman Boroumand para a Promoção dos Direitos Humanos e da Democracia no Irã, afirmou que as manifestações foram substituídas por atos de desobediência civil.
“Muitas mulheres ainda se recusam a usar o hijab e a sua visibilidade no espaço público obrigou o regime a conceber novas e dispendiosas políticas repressivas. O impasse entre o Estado e a sociedade no Irã é intransponível. Enquanto alega encarnar Deus, a teocracia iraniana nunca foi capaz de articular um diálogo real com a sociedade que domina”, escreveu Boroumand, em artigo para o think tank americano Atlantic Council.