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Assim que ouviu, no rádio do carro, a notícia de que João Paulo II havia falecido, o gerente Piero Scandurra se dirigiu à Praça de São Pedro. "A atmosfera naquela noite foi muito triste", recorda o romano de 31 anos. "Apesar de tantas pessoas que estavam lá, o silêncio envolvia tudo. Havia pequenos grupos de pessoas que rezavam e choravam", conta. A multidão tomava conta da praça já havia alguns dias, quando começaram a circular notícias sobre o agravamento do estado de saúde do Pontífice. Nas últimas 24 horas de vida, Karol Wojtyla teve febre alta, infecção urinária, choque séptico e parada cardíaca. Hoje, o mundo católico lembra o primeiro ano da morte do Papa mais carismático do século 20.

O falecimento do antecessor imediato de Wojtyla, João Paulo I, havia pego a Igreja de surpresa. O italiano Albino Luciani mal havia completado um mês de pontificado quando morreu inesperadamente. No caso de João Paulo II, todos puderam se preparar. "Quando se tornou claro que a morte do Papa estava próxima, comecei a pedir a Deus que o recompensasse por tudo que João Paulo II fez por Cristo e pela Igreja em sua vida. Aceitei sua partida com um espírito de fé", lembra o arcebispo metropolitano de Curitiba, dom Moacyr Vitti.

As circunstâncias da morte de João Paulo II, na opinião do arcebispo, ainda trazem uma lição para o mundo moderno. "O Papa nos fez ver novamente o sentido cristão do sofrimento", afirma. Enquanto em 2005 a Páscoa já havia passado quando o Pontífice faleceu, este ano o aniversário será lembrado ainda durante a Quaresma, tempo de penitência para os católicos. "A lembrança dos últimos dias de João Paulo II ganha significado maior este ano por estarmos perto da Semana Santa, quando recordamos o sacrifício de Cristo pela humanidade. Pois o Papa, com o seu sofrimento, se uniu a Jesus na cruz", pondera dom Moacyr, que se encontrou com João Paulo II pela última vez em junho de 2004, quando recebeu o pálio, a faixa de lã que simboliza o poder arquiepiscopal.

O que se seguiu à morte do Papa nem os romanos, acostumados às multidões que João Paulo II atraía em eventos como o Jubileu do ano 2000 e as canonizações, esperavam, diz Scandurra. "Foi um espetáculo multiétnico, rios de gente em todos os cantos. Nunca tinha visto uma coisa dessas na minha vida", conta. Dom Moacyr, que não chegou a ir a Roma para os funerais, vê a "invasão" como um sinal. "Foi o maior testemunho da importância da Igreja no mundo e de seu papel como uma força extraordinária na humanidade."

Apesar do luto pela morte do Papa, Roma e os peregrinos não mergulharam na melancolia. "Além da tristeza, havia serenidade. Pessoas cantavam e dançavam ao som do nome de João Paulo II. Acho que era a mesma serenidade que o Papa era capaz de dar apenas com um olhar ou um gesto", conta o gerente, que define como "fraternidade universal" o que viu em sua cidade naqueles dias.

"Todos puxavam conversa com todos, sem medo, como se já se conhecessem, como se fossem todos velhos amigos", descreve. Scandurra perguntou a algumas pessoas por que vinham a Roma se sabiam que não conseguiriam chegar à Praça de São Pedro, já lotada. A resposta o encantou: "eles me disseram que o importante era estar o mais perto possível.

Legado

Para dom Moacyr, alguns dos traços que João Paulo II deu à Igreja Católica durante seu longo pontificado devem permanecer, como o diálogo com outras igrejas cristãs e outras religiões. "O Papa foi um homem que quis ajudar a humanidade a encontrar a paz", afirma. E, assim como outros pontífices entraram para a história por causa de concílios, declarações de dogmas ou até vitórias militares, Karol Wojtyla será sempre lembrado como o Papa peregrino. As viagens, no entanto, não devem ser uma das características do sucessor de João Paulo II. Bento XVI, que já foi à Alemanha, visitará a Polônia este ano e o Brasil em 2007, não deve rodar o mundo como o Papa Wojtyla.

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