O site relata os crimes em que as armas foram utilizadas. Objetivo é conscientizar as pessoas sobre os riscos de comprar uma arma.| Foto: Reprodução/Internet

Nova York, Estados Unidos. Uma loja de armas tem como público-alvo aqueles que desejam comprar o artefato pela primeira vez. Ao entrar, o cliente é atendido por um atencioso vendedor, que lhe apresenta alguns modelos, suas características e vantagens. E uma última informação: que aquela arma foi usada para matar 20 crianças inocentes em uma escola.

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Massacre em escola de Newton, em 2010: 26 estudantes mortos. 

32% do norte-americanos

vivem em uma casa onde há pelo menos uma arma, segundo levantamento da organização General Social Survey. O número referente a 2014 é o menor já registrado e indica uma queda na quantidade de residências com armas desde a década de 1970. Mas as estatísticas de vendas registradas pelo FBI têm crescido, o que indica que há mais armas sob posse de menos americanos.

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Não se trata de uma loja real, mas de uma campanha em favor do desarmamento lançada pela ONG norte-americana States United to Prevent Gun Violence (Estados unidos para prevenir a violência por armas). O vídeo “Guns with history” (armas com história), que já teve mais de 12 milhões de visualizações, ganhou repercussão no país e tem como um de seus idealizadores um curitibano, o publicitário Marco Pupo, que fez o trabalho pela agência Grey em parceria com o português João Coutinho.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Marco conta que a ideia surgiu a partir de uma estatística: segundo pesquisas, 60% dos americanos acreditam que ter uma arma irá tornar a vida deles mais segura. “Queríamos provar que as armas, muitas vezes, em vez de trazer proteção, trazem mais riscos às pessoas. Queríamos achar uma forma impactante de mostrar isso”, conta Pupo.

A forma encontrada foi criar uma loja de armas em Nova York. Câmeras escondidas captam a reação dos compradores ao saber que um revólver foi usado por uma criança de 5 anos para matar acidentalmente o irmão de nove meses. Ou que uma arma disparada por um adolescente resultou na morte de seis professores e 20 crianças em uma escola em Newtown, em 2012. Ao final do vídeo, é exibido o lema da campanha: “toda arma tem uma história. Não vamos repeti-la.”

O vídeo traz depoimentos de pessoas que mudam de ideia, mas, segundo Marco, nem todos se sensibilizaram. “Algumas pessoas eram 100% a favor das armas e não queriam argumentos contrários. Só queriam suas armas e pronto”.

Loja virtual

Como parte da campanha, foi criado um site (gunswithhistory.com) simulando uma loja real de armas, com a história trágica de cada artefato. Na página, também constam estatísticas sobre mortes ligadas ao uso de armas caseiras nos Estados Unidos.

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Nos Estados Unidos, o direito de portar armas é assegurado pela Segunda Emenda à Constituição Federal, aprovada em 1791. No entanto, os estados têm autonomia para legislar sobre o assunto. No estado de Nova York, onde foi lançada a campanha “Guns With History”, foi aprovada em janeiro de 2013 uma das leis mais rigorosas do país no que se refere ao controle de armamentos.

Entre os dispositivos da lei está a proibição do porte de pistolas semiautomáticas, rifles com carregadores destacáveis e espingardas semiautomáticas com característica militar. A legislação também limita o acesso a armas por pessoas com problemas mentais, proíbe qualquer carregador com capacidade para mais de sete cartuchos de munição e estabelece que alertas automáticos sejam enviados às autoridades em caso de aquisição de um grande volume de munição.

As mudanças foram aprovadas após o massacre em uma escola na cidade de Newtown, em dezembro de 2012. O jovem Adam Lanza, de 20 anos, matou a mãe e em seguida dirigiu-se à escola primária de Sandy Hook, onde disparou contra estudantes e professores, matando 26 pessoas, a maioria crianças.

Massacre em escola tornou lei mais rigorosa

Nos Estados Unidos, o direito de portar armas é assegurado pela Segunda Emenda à Constituição Federal, aprovada em 1791. No entanto, os estados são autônomos para legislar sobre o assunto. No estado de Nova York, onde foi lançada a campanha “Guns With History”, foi aprovada em janeiro de 2013 uma das leis mais rigorosas do país no que se refere ao controle de armamentos.

Entre os dispositivos da lei está a proibição do porte de pistolas semiautomáticas e rifles com carregadores destacáveis, e espingardas semiautomáticas com característica militar. A legislação também limita o acesso a armas por pessoas com problemas mentais, proíbe qualquer carregador com capacidade para mais de sete cartuchos de munição e estabelece que alertas automáticos sejam enviados às autoridades em caso de aquisições de um grande volume de munição.

As mudanças foram aprovadas após o massacre em uma escola na cidade de Newtown em dezembro de 2012. O jovem Adam Lanza, de 20 anos, matou a mãe e em seguida dirigiu-se à escola primária de Sandy Hook, onde disparou contra estudantes e professores, matando 26 pessoas, a maioria crianças. Uma das armas apresentadas no vídeo de “Guns with History” foi utilizada pelo atirador.

“Campanha tenta mudar a cabeça das pessoas”

C omo surgiu a ideia da campanha?

Ao mesmo tempo que mais de 60% dos americanos pensam que uma arma vai trazer mais proteção, todos os dias vemos nos noticiários alguma tragédia relacionada a armas. Foi algo que me impressionou muito quando cheguei aqui. Eu e o meu parceiro de criação, o português João Coutinho, resolvemos criar alguma ideia para falar sobre isso. Queríamos provar que as armas, muitas vezes, em vez de trazer proteção, trazem mais riscos às pessoas.

E como tem sido a repercussão?

Em seis dias, o vídeo já somava mais de 12 milhões de visualizações. Temos recebidos várias mensagens de apoio e, claro, comentários não tão agradáveis. A Associação Nacional dos Rifles (NRA) está condenando o vídeo. Isso é outro sinal de que a campanha está fazendo efeito.

Quais as dificuldades em lidar com esse assunto nos Estados Unidos?

Há muita gente que acha esse assunto tão polêmico que nem quer mexer. É pior do que religião. Não faltaram barreiras. Muitas organizações tentam fazer campanhas para mudar a lei, mas isso não tem surtido efeito. Apostamos em uma campanha que não tenta mudar uma lei, mas a cabeça das pessoas.

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