Os protestos contra o resultado do primeiro turno das eleições no Egito não tiram o otimismo do embaixador Ahmed Hassan Darwish (foto) com o processo de democratização de seu país. Formado em sociologia pela Universidade do Cairo, Darwish é embaixador desde 2008 no Brasil. Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, ele falou dos desafios após as eleições e das futuras relações com os brasileiros.
Quais são os desafios para o Egito depois de decidir quem será o presidente?
Pela primeira vez, os egípcios vão escolher um presidente. Isso é uma grande conquista para todos. Como outros países, temos problemas. Isso é normal. (Depois de eleitos), os candidatos devem se focar na educação pública e em reformas sociais, que são muito necessárias. Também devem garantir a segurança da população. O que quer que aconteça, precisamos assegurar novas vitórias.
A relação do Egito com o Brasil deve mudar depois das eleições?
Não. Os dois candidatos (Mohamad Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak, que vão disputar o segundo turno) acreditam que o Egito precisa intensificar as relações com o Brasil, que é um exemplo para todos os países em desenvolvimento. O modelo brasileiro na educação pública e nos programas sociais é muito parecido com o que precisamos. Como eu disse no início da revolução, um Egito democrático vai facilitar o relacionamento com um Brasil democrático.
Logo após a queda de Mubarak, o senhor disse que tinha plena confiança no governo militar de transição. Diante de todos os conflitos sociais que ocorreram no Egito no último ano, você muda sua posição?
O que eu disse é que tenho confiança nos militares em termos de segurança e integridade do país. Então confiamos que eles fariam as eleições. O que os militares fizeram? Prometeram um processo eleitoral parlamentar livre e justo. E fizeram. Também prometeram eleições presidenciais e vimos que elas ocorreram. O que eu disse é o que está acontecendo agora. A situação (de insatisfação e revoltas) no Egito é algo diferente. Não disse nada a respeito sobre como eles governariam o país. O que precisamos levar em conta é que, em junho, teremos um novo presidente eleito.