Quando Gustavo Petro lançou sua candidatura à presidência da Colômbia, ele era considerado uma possibilidade remota em meio a uma multidão de candidatos: um ex-guerrilheiro de esquerda que concorreu uma vez, sem sucesso, ao cargo e teve uma passagem turbulenta pela prefeitura de Bogotá.
Agora, no topo de uma carreira política que começou quando ele era um adolescente que ajudava na organização de militantes urbanos, Petro consolidou o segundo lugar nas pesquisas para as eleições presidenciais na Colômbia, que acontecem no dia 27. As últimas enquetes mostram que a diferença dele para Iván Duque, o candidato de um polémico partido de centro-direita, caiu para menos de dez pontos percentuais.
Parece pouco provável que Petro ganhe, de acordo com as pesquisas, neste mês ou no segundo turno em 17 de junho, caso nenhum dos cinco candidatos obtenha a maioria na eleição neste domingo. Mas o seu surpreendente fortalecimento revelou uma drástica polarização em um tempo de transformação para a Colômbia, o aliado mais próximo dos Estados Unidos na América Latina.
“Na esquerda, nunca tivemos uma sólida candidatura presidencial”, diz Oscar Palma, um professor de política colombiana na Universidade do Rosário. “Quando alguém olha para os candidatos presidenciais, eles parecem certo tipo de monarquia – famílias que tradicionalmente mantêm o poder na Colômbia.”
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Nenhum esquerdista esteve tão próximo do palácio presidencial desde 1948. Jorge Eliécer Gaitán, um carismático populista, esteve perto de vencê-las. Então, um assassino matou-o em uma rua de Bogotá, causando grandes protestos e um período de violência que foi a base para os 50 anos de guerra civil colombiana.
O histórico acordo de paz ratificado no final de 2016, finalmente, fez com que o conflito entre forças do governo e insurgentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) fosse fragilmente encerrado. O pacto não tem apoio popular. A violência persiste em alguns lugares e o cultivo colombiano de coca, do qual a cocaína é derivada, alcançou níveis recordes, mesmo com a ajuda americana, que dura mais de 20 anos e na qual foram aplicados US$ 10 bilhões, para combater as drogas e a violência relacionada.
Ao mesmo tempo em que o presidente Juan Manuel Santos, que liderou o processo que resultou nos acordos de paz, se prepara para sair do cargo, os eleitores colombianos estão apoiando visões completamente diferentes sobre o futuro de seu país.
Biografia de Petro
Especialistas rejeitam comparações entre Petro e Gaitán. Ao contrário de Petro, Gaitán era um grande orador e tinha muito apoio popular. Mas Petro segue a tradição de Gaitán. A mãe do candidato era entusiasta do político populista.
Na juventude, o candidato desafiou seus professores católicos ao ler Karl Marx e Friedrich Engels e encontrou inspiração nas vitórias dos movimentos revolucionários cubanos e vietnamitas. Ele foi recrutado aos 17 anos pelo M-19, um movimento guerrilheiro de esquerda formado principalmente por estudantes e intelectuais. Petro não participou de combates, mas tornou-se um líder no grupo. Após oito anos de militância, foi capturado pelo Exército colombiano. Ele ficou preso por 18 meses e disse que, na cadeia, foi torturado.
Após a libertação, embarcou em uma carreira política que incluiu mandatos no Legislativo e um tumultuado mandato na prefeitura de Bogotá. Ele nunca teve grande apoio popular e venceu apenas em Bogotá, a mais liberal cidade colombiana, nas eleições de 2010, na qual terminou em quarto, com 9% dos votos.
“Francamente, estou surpreso que Petro esteja se dando bem”, diz Adam Isacson, um especialista em assuntos colombianos e diretor de supervisão de defesa do Washington Office on Latin America.
A imprensa colombiana também tem ecoado esta surpresa. Especialistas se espantam que a marca de Petro esteja em moda depois que os colombianos presenciaram como a revolução esquerdista do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez mergulhou no fracasso.
Petro chegou a elogiar Chávez, mas se distanciou do atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Os opositores do ex-guerrilheiro dizem que ele endossa a filosofia política de Chávez e de Fidel Castro e que levaria a Colômbia a um colapso caso fosse eleito.
Plano de governo
Candidato do partido Colômbia Humana, Petro propõe políticas pouco ortodoxas. Ele planeja aumentar impostos sobre terras improdutivas pertencentes a grandes proprietários, esperando encorajá-los a vender para o Estado, mas, diz, evitando qualquer tipo de expropriação. Ele pretende que agricultores pobres troquem terras improdutivas por outras mais produtivas.
Ele é um crítico da tradicional abordagem militar do combate às drogas e defende uma maior cooperação com os produtores rurais que dependem do cultivo da coca.
“Colômbia não tem uma política externa. É um apêndice da dos Estados Unidos, derivada de sua subordinação a políticas anti-drogas por causa da ajuda recebida”, disse Petro
O adversário
O líder na corrida presidencial, Ivan Duque, pertence ao Centro Democrático, um partido político fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. Durante a sua campanha presidencial, Uribe foi obrigado a dizer que o relativamente inexperiente Duque não era sua marionete.
Uribe, cuja filosofia política é conhecida como uribismo, representa uma guerra militar e paramilitar contra os insurgentes, relações estreitas com os Estados Unidos e a erradicação sem dó das drogas. Seu mandato, que durou de 2002 a 2010, deixou amargor nas regiões onde aconteceram as campanhas anti-insurgência e antidrogas, destaca Yann Basset, diretor do Observatório de Representação Política da Universidade do Rosário. Estas áreas estão inclinadas a votar contra o legado de Uribe.
Partes do interior da Colômbia que não passaram por conflitos durante o mandato de Uribe veem que a guerra contra os insurgentes foi um sucesso e tendem a apoiar mais o Centro Democrático.
“É uma questão de ratificar o projeto uribista e sua história ou tentar deixar esses anos de guerra para trás”, disse Basset. “Petro foi capaz de ser o líder do anti-uribismo desde o começo.”
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Durante a presidência de Uribe, Petro, que era senador, era um dos principais antagonistas, discursando fortemente contra o presidente e liderando uma cruzada para expor as supostas ligações com grupos paramilitares.
Uribe encabeçou a campanha contra os acordos de paz de 2016, que foram rejeitados por uma pequena margem em um referendo, após ser aprovado pelo Legislativo. Se o Centro Democrático conquistar a presidência, muitos especialistas apontam que muitos dos compromissos que estão nos acordos de paz deixarão de estar entre as prioridades do governo.
A minoria (49,8%) dos colombianos que apoiaram as negociações de paz no referendo de 2016 se uniu, em grande parte, a Petro, alarmada com a perspectiva de que o acordo possa entrar em colapso.
“Há um temor no país que isto acabe sendo um retorno à guerra e que a desilusão dos ex-militantes da Farc os leve a outros grupos armados”, disse Palma, professor da Universidade do Rosário.
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