“Isto é apenas uma vez na vida”, diz Maduro em um vídeo, em que aparece junto com sua mulher, Cilia Flores, enquanto o cozinheiro turco Nusret Gökçe corta pedaços de carne em um de seus restaurantes. Conhecido como Salt Bae, o chef costuma atender pessoalmente celebridades como Leonardo di Caprio e Cristiano Ronaldo. O valor médio de uma refeição corresponde a 13 salários mínimos na Venezuela.
A crise na Venezuela, com uma hiperinflação estimada em 1.000.000% para 2018 pelo FMI, fez os índices de pobreza chegarem a 87% em 2017, segundo um estudo das principais universidades do país. O governo, que assegura ser vítima de uma "guerra econômica" de empresários de direita, afirma que esse índice é de cerca de 20%.
O episódio na Turquia é mais um dos que causam indignação sobre a atuação do ditador, que está no poder desde 2013, quando Hugo Chávez morreu. Leia, a seguir, outros acontecimentos que marcam os desmandos de Maduro no governo.
Donos de restaurantes, assim como os demais empreendedores, têm muitas dificuldades para organizar os negócios: faltam produtos, os preços dobram a cada semana e faltam clientes. E a situação piorou, depois da adoção de um novo plano econômico, que cortou cinco zeros do bolívar e multiplicou por 30. Pelo menos duas vezes por semana, os proprietários de restaurantes têm de aumentar os preços. "Se você não atualizar seus preços a tempo, não conseguirá sobreviver”, disse Freddy de Freitas, dono de um restaurante em Caracas.
O número de famintos na Venezuela multiplicou por quatro desde 2011, dois anos antes de Nicolás Maduro chegar ao poder. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês), em 2011, eram 900 mil famintos. Agora, são 3,7 milhões. A proporção da população desnutrida na Venezuela caiu de 10,5%, em 2005, para 3,6%, em 2011. Mas, desde então, a alta foi constante. Hoje, o número é de 11,7%.
Por causa da inflação, alimentos para cães e cuidados veterinários estão fora do alcance de milhões de pessoas, que estão tendo que abrir mão de seus bichinhos. O resultado, segundo especialistas em animais, tem sido uma explosão populacional de cães abandonados nas ruas e números crescentes em abrigos carentes de recursos. Embora não haja números nacionais confiáveis sobre o fenômeno, autoridades de oito abrigos na capital, Caracas, disseram ter visto um aumento de cerca de 50% no número de animais de estimação deixados em suas instalações neste ano.
Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, disse que os que emigraram foram vítimas de um grande plano de desestabilização mental. Segundo ele, os venezuelanos saíram do país nos últimos anos porque é um modismo e não por causa da grave crise econômica e social. "Adotaram uma moda terrível (..) parecia que dava status dizer ‘tenho um filho que foi para o Peru, meu irmão se foi para a Colômbia’, emigrar se converteu em uma moda."
Roubos a navios mercantes e ataques a embarcações aumentam no Caribe à medida que avança a deterioração da situação econômica e social no país. Um estudo de dois anos realizado pela Oceans Beyond Piracy, uma organização sem fins lucrativos, registrou 71 grandes incidentes na região em 2017. Isto inclui roubos de navios mercantes e ataques a iates. É um aumento de 163% em relação ao ano anterior. A grande maioria aconteceu em águas caribenhas. Os incidentes variam de assaltos em alto mar a ataques bárbaros, dignos de piratas do século 17.
Pelo menos 17 venezuelanos morreram nos últimos dias ao tentar cruzar a região conhecida como Páramo de Berlín, santuário natural na cordilheira andina, na Colômbia. "Após cruzar a fronteira na cidade de Cúcuta (Colômbia), os venezuelanos que vão para a cidade de Bucaramanga enfrentam cerca de 190 km a pé, trajeto em que levam cerca de 50 horas ao longo de uma caminhada de cinco anos. No início do percurso enfrentam calor extremo, para depois encarar muito frio na cordilheira andina. Cerca de 1 milhão de venezuelanos ingressaram na Colômbia desde o início da crise econômica e política na Venezuela.
Água em péssimas condições, quando há, falta de energia e internet: esse é o triângulo impossível que atinge venezuelanos diariamente, mesmo os de classe média. Todas as empresas de serviços públicos foram nacionalizadas pelo governo durante a grande campanha de nacionalização travada por Hugo Chávez entre 2005 e 2009. "Os socialistas acham que é errado cobrar por um serviço público. Então sabe o que acontece? Os serviços públicos nunca funcionam direito. É possível continuar sem investimentos ou manutenção por algum tempo, mas, depois de uma década, os efeitos disso se fazem sentir”, diz o economista Carlos Hernández Blanco.
A Venezuela é um estado socialista em colapso e está sofrendo uma das mais dramáticas fugas de talentos humanos na história moderna. Os imensos vazios no mercado de trabalho venezuelano estão causando uma ruptura no cotidiano e roubando um país de seu futuro. O êxodo é vasto e profundo – uma saída de médicos, engenheiros, trabalhadores de petróleo, motoristas de ônibus, eletricistas e professores. Nos cinco primeiros meses do ano, 48 mil professores – ou 12% de todo o contingente em escolas dos ensinos fundamental e médio em todo o país – pediram demissão, de acordo com o Se Educa, um grupo educacional.
Estatização de empresas fez com que estas se tornassem menos produtivas e mais inchadas. Investimentos foram desperdiçados e país precisa importar gêneros básicos. “Nos últimos 18 anos, o Estado venezuelano se dedicou a adquirir, por diferentes métodos, um importante número de empresas. A expropriação foi um desses métodos de aquisição usado em empresas de setores como cimento e café, de onde se chegou ao monopólio”, aponta a ONG Transparencia Venezuela.
Uma das principais riquezas da Venezuela é o petróleo. O país é dono das maiores riquezas do mundo, mas, a produção não para de despencar. Postos de trabalho na PDVSA, que antes eram cobiçados, estão sendo abandonados. Equipamentos são roubados e especialistas na produção fogem do país.
Nos últimos anos, em meio à escassez profunda de medicamentos, o HIV se espalhou rapidamente por todo o delta do Orinoco e acredita-se que tenha matado centenas de indígenas no Nordeste do país. A epidemia que assola o grupo é uma crise dentro de uma crise, um exemplo dramático de como a Venezuela não consegue lidar com uma ressurgência emergencial da Aids, mesmo que o número anual de novas infecções causadas pelo HIV e de mortes relacionadas à doença em todo o mundo continue a diminuir."
Em fevereiro, o fluxo de migrantes da Venezuela em direção às cidades colombianas e brasileiras já se assemelhava ao fluxo mensal de migrantes que cruzaram o mar Mediterrâneo em direção às ilhas italianas no auge da crise, em 2015. O alerta foi feito por Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migrações (OIM). "No caso sul-americano, os dados da entidade Migración Colômbia apontam que 470 mil venezuelanos entraram no país vizinho em 2017. Ao final do ano passado, existiam cerca de 202 mil cidadãos venezuelanos vivendo de forma irregular na Colômbia.