Aparelhos de GPS estão com o preço em queda e se popularizando| Foto: Reprodução/Globo Online

O souvenir preferido dos turistas de Cuba

Havana – A imagem de Che Guevara é o souvenir preferido dos turistas que visitam Cuba. Na ilha caribenha, onde em quase meio século não se ergueu nem mesmo uma estátua do líder Fidel Castro, a imagem de Che surge em todos os cantos. Camisetas, bonés, pôsteres, calendários e chaveiros com o rosto do guerrilheiro são vendidos em hotéis, praças e museus a estrangeiros.

"Qualquer coisa que tenha o Che vende. Os que mais compram isso são os turistas estrangeiros, apesar de jovens cubanos também os adquirirem, quando podem", diz uma vendedora de souvenires de um hotel em Havana.

A imagem do guerrilheiro é controlada pela viúva dele, Aleida March, e pelos filhos dele a partir do Centro de Estudos Che Guevara, instalado na capital cubana. As barracas públicas de artesanato vendem desde camisetas com a imagem de "Che" até desenhos mais elaborados que misturam a foto do guerrilheiro com textos.

"Aprendemos a gostar de você", afirma uma camiseta com o rosto de Guevara, vendida ao preço de 14 dólares. Por 9 dólares, os turistas podem levar um CD multimídia com "O diário de Che na Bolívia" ou um DVD sobre a vida dele.

CARREGANDO :)

Havana – Quatro décadas depois da morte de Ernesto Che Guevara, muitos países da América Latina se voltaram para a esquerda com governos eleitos pelo voto e não através da luta armada, como era seu sonho nos anos 60. Convencido de que a força dos ideais e fuzis libertaria os oprimidos, o revolucionário argentino-cubano perseguiu um projeto que combatia a hegemonia dos Estados Unidos, defendia um internacionalismo latino-americano e propunha a criação de um "novo homem".

Seus críticos destacam seus fracassos e o franco declínio em que entrou o guevarismo nos anos 80, mas, para seus seguidores, o pensamento de Guevara está mais vivo do que nunca.

Publicidade

"A presença de Che na América Latina é mais profunda e real do que naquela época. Está acontecendo algo que não imaginamos possível: um sonho com múltiplas formas de socialismo. Ele teria saudado os governos da Venezuela, Bolívia, Brasil, Nicarágua, Uruguai, Equador", diz o presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcón.

Mesmo com tendências diferenciadas – de radicais a moderadas –, a esquerda chegou ao poder em vários países da América Latina, com desafios ao histórico intervencionismo americano, contra o qual Guevara lutou. Os presidentes de Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales, evocam o ex-guerrilheiro em seus discursos; e quando ganhou a presidência do Equador, Rafael Correa, proclamou um "até a vitória sempre", o lema de Guevara.

Uma das poucas guerrilhas guevaristas que ainda está em atividade na América Latina é o Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia, que apareceu em 1964 e que há dois anos vem mantendo diálogos com o governo desse país em busca de um plano de paz. No México, por sua vez, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (ELZN), pintou em muros o rosto de Che junto ao de Emiliano Zapata quando se pôs em pé de guerra em Chiapas em 1964. Atualmente, o ELZN explora a possibilidade de combater na arena política sob a orientação do subcomandante Marcos.

O Exército Popular Revolucionário (EPR), que surgiu em 1996 a partir das guerrilhas dos anos 60 e 70 e atua no sul do México, esteve longo tempo sem operar, até que em julho e setembro passados atacou vários gasodutos. Grupos como o peruano Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) estão desarticulados, e outros, que eclodiram nas décadas de 60 e 70 contra ditaduras ou governos de direita apoiados por Washington, abandonaram as armas e se integraram à vida civil ou à política ao término da guerra fria ou das ditaduras militares.

"O Che não fracassou. Os povos se cansam. As revoluções são ainda possíveis", diz a filha de Che, Aleida Guevara March.

Publicidade

Após lutar em Cuba ao lado de Fidel Castro até o triunfo de janeiro de 1959, Che tentou concretizar o "Projeto Andino": desencadear a revolução na América Latina com uma "coluna mãe" de combatentes de vários países, que logo se estenderia o movimento insurgente para toda região. Acusada de exportar sua revolução, Cuba prestou ajuda política e militar desde 1962 a organizações de esquerda na América Latina, com a exceção do México. Dirigentes do Chile, Peru, Venezuela, Nicarágua, Uruguai, Colômbia, Guatemala, Argentina e outros países chegavam a Havana com planos revolucionários para apresentá-los a Fidel e Guevara. Para as missões de Che, preparadas pelo comandante Manuel Piñeiro "Barbarroja", o governo cubano preparou tropas, facilitou informações, passaportes e identidades falsas e até alterações físicas.

Depois de fracassar no Congo, Che foi atrás de seu projeto continental, começando pela Bolívia, aonde chegou em novembro de 1966 para implantar uma guerrilha rural, aniquilada em menos de um ano pelas tropas bolivianas treinadas por assessores americanos. Encurralado e sem apoio popular, em 8 de outubro Guevara foi capturado e executado no povoado de La Higuera, sem poder concretizar seu sonho de instaurar o socialismo na América Latina.

Proveniente da classe média, Ernesto Guevara de La Serna nasceu em 14 de junho de 1928 em Rosario, Argentina, e sua vida foi marcada pela asma crônica, que não impediu sua formação como médico. Amante das viagens, deixou sua casa em 1951 para descobrir o continente ao lado do amigo Alberto Granados numa moto – história retratada no filme "Diários da Motocicleta", do brasileiro Walter Salles –, quando tomou contato com a miséria e pobreza na qual vivia grande parte da população latino-americana.

Guevara se formou médico em 1953 e um ano depois foi viver na Guatemala, onde presenciou a derrubada do governo de Jacobo Arbenz por forças apoiadas pelos Estados Unidos. No país conheceu a peruana Hilda Gadea, com quem se casou em 1955 e teve uma filha. Em setembro de 1954 se mudou para o México, onde, um ano mais tarde, sua vida deu uma guinada ao conhecer Fidel Castro. Com 28 anos, o argentino se uniu ao projeto armado de Fidel e, no final de 1956, desembarcou na ilha ao lado de 80 cubanos para lutar contra o ditador Fulgencio Batista. A partir da vitória em Cuba viria a se tornar o líder guerrilheiro mais popular da América Latina.