A água turva aumenta debaixo da tenda e forma poças ao redor das luzes do estúdio de filmagem. Os atores, sentados em uma falsa mesa de cozinha, levantam os pés para evitar se molharem.
Este é o funcionamento de uma cena da nova telenovela filmada nos campos de refugiados do Haiti para as centenas de milhares de pessoas que sobrevivem nesses locais. O episódio da série Abaixo do Céu fala sobre como reforçar casebres e abrigos com a chegada da estação das chuvas.
As coisas, contudo, se tornaram demasiado realistas.
Depois de uma hora de cada vez mais água e de vários apagões, a filmagem foi interrompida durante o dia.
Esse é um dos perigos de filmar episódios em um dos campos de refugiados mais propensos a sofrer inundações nas cercanias de Porto Príncipe.
Apesar disso, o diretor haitiano-norte-americano Jacques Roc disse que esta é a única forma de assegurar que a mensagem da série de televisão vai repercutir entre as milhares de pessoas para as quais as inundações e a insegurança fazem parte de sua vida diária.
"Ocorrem muitas coisas nos campos de refugiados agora, e quando uma pessoa permanece num deles aprende muito sobre o local", disse Roc. "Eles vão se ajustar a este tipo de comportamento e isso é o que tentamos mostrar para as pessoas."
Abaixo do Céu conta a história de uma família de cinco pessoas que, como outras 1,5 milhão perdeu sua casa, foi para campos para refugiados e hoje em dia fazem parte da paisagem da capital haitiana.
Combinando comédia, drama e mensagens educativas, a série traz atores conhecidos no país, como Junior Metellus, de 35 anos, que já participou de outros projetos do diretor. Metellus interpreta Akim, genro do patriarca Jean-Jo.
Os roteiristas desenvolvem a história à medida em que filmam, de forma que nem o sobrenome de Jean-Jo nem detalhes sobre sua vida antes do terremoto foram ainda revelados.
Classe média
O principal objetivo dos criadores da série é estabelecer um ambiente de classe média para a família com roupa apropriada, os livros e os móveis para mostrar como o desastre de 12 de janeiro afetou todas as camadas da sociedade.
Cada episódio de 15 minutos enfoca um tema determinado pelos capacetes azuis da Organização das Nações Unidas (ONU), que tiveram a ideia de criar uma telenovela e a filmam a um custo de US$ 6 mil por episódio.
A telenovela é mostrada em telas gigantes ao ar livre em mais de uma dezena de campos de refugiados, mas também pode ser vistas em seis redes de televisão haitianas.