Caracas - "Aqui eles [os candidatos da oposição] não sobem", diz Ernesto Pérez, jovem morador da Pedrita, um bairro situado num morro no centro de Caracas. "Não queremos que venham aqui pedir voto", insiste o militante chavista, que prefere não ser fotografado para não sair em "jornal burguês".
"Aqui vamos votar em peso na oposição", afirma Oriana Gómez, moradora de Altamira, região de classe média alta a leste da capital venezuelana. "Vamos mudar a Assembleia Nacional e esse governo socialista", acrescenta a comerciante que prefere não ser fotografada para evitar provocações dos "vermelhos".
Os dois personagens retratam a realidade da Venezuela atual. Depois de mais de uma década de governo socialista, sob o comando do presidente Hugo Chávez, a sociedade venezuelana está dividida entre os defensores da revolução socialista e aqueles que querem maior liberdade para a iniciativa privada.
Nas grandes cidades, principalmente em Caracas, a oposição se fortaleceu com o apoio de boa parte da classe média, que votou em Chávez em 1998 e agora trocou de lado. A linha divisória é clara: nas regiões ricas da capital, como Sabana Grande, Chacao, Altamira e La Castellana, os moradores chegam até a evitar o uso de roupas vermelhas, que caracterizam o chavismo. Já nos bairros pobres, como 23 de Enero, Los Magallanes e Amparo há uma "onda vermelha", com multidões de cabos eleitorais voluntários do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), o partido do governo.
O "racha" ideológico cresce com as vésperas das eleições. Como no Brasil, os partidos têm direito a inserções de propaganda no rádio e na televisão. Nas ruas, a poluição visual é gritante, com cartazes em postes e outros equipamentos públicos. Manifestações políticas são organizadas em todas as praças.
"Vamos aprofundar a revolução e aumentar a participação do Estado", brada o deputado Oscar Figueira, do Partido Comunista da Venezuela, aliado de Chávez. "Queremos liberdade, confiança para desenvolver nossos próprios projetos. Não queremos mais o discurso de ódio", responde María Corina, do partido Primero Justicia e apontada como favorita a uma vaga na Assembleia pela oposição.
Enquanto os opositores acusam o governo de autoritarismo e manipulação das camadas populares, do lado governista, nos bairros pobres, não faltam acusações de que "as elites" estão armando uma contrarrevolução.
"Esse é um governo militarista, autoritário", dispara o professor aposentado da Universidade Central da Venezuela Carlos Machado Allison. "Esses são setores contrarrevolucionários, que querem voltar ao passado", ataca Izabel Aldano, integrante de movimentos populares do bairro 23 de Enero, com cerca de 100 mil habitantes.
Independentemente do resultado das eleições de domingo, a sensação que se tem é a de que os venezuelanos continuarão divididos. São dois projetos distintos em disputa: um socialista, com presença do Estado e de organizações populares em todos os setores, e outro liberal, com incentivo para a iniciativa privada.
As pesquisas indicam que a oposição pode obter até 60 das 165 cadeiras da Assembleia, o que limitaria o poder do chavismo, que hoje tem 139 deputados.