Projeto de ação local resgatou a "cidade mais poluída dos EUA"
O prefeito da cidade americana de Chattanooga (Tennessee), Ron Littlefield, cita com orgulho as contribuições da cidade de 150 mil habitantes ao resto dos Estados Unidos. "Os inventores da Coca-Cola eram de Chattanooga, e levaram seu produto para ser industrializado em Atlanta. O New York Times, quando começou a ser editado, se chamava The Chattanooga Times", diverte-se.
Nigéria aposta em blocos habitacionais contra favelização
Dentre os projetos apresentados pelos participantes da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras de 2010, um dos mais radicais pertence a um grupo de nigerianos membros da administração pública de Porto Harcourt, uma cidade de 2,6 milhões de habitantes no extremo sul do país africano.
As delegações estrangeiras presentes na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras de 2010 (CICI 2010), realizada na última semana em Curitiba, trouxeram na bagagem experiências que indicam uma bifurcação na qual muitas outras cidades vão estacionar em um futuro próximo.
Avançando para além da problemática ambiental, prefeitos e outros administradores levantaram uma dúvida imperceptível para a maioria dos núcleos urbanos, mas fundamental para aliar desenvolvimento urbano e humano: até que ponto é saudável integrar municípios e governos nacionais.
Um dos principais causadores do dilema apontados durante a conferência é a massificação da internet como intermediadora do trabalho e da cultura, que criou cidades virtuais sem rosto, nome ou endereço. Essas comunidades descentralizadas tornam a própria ideia de cidade um desafio administrativo. Se não há interesses locais, não há a necessidade de uma administração local que dê conta dessas demandas, deixando ao Estado nacional o trabalho de delinear os horizontes comuns.
A conferência em si foi um testemunho do paradoxo global-local. Concentrada no Centro de Convenções do Cietep, no Jardim Botânico, era irradiada pela internet com o uso das redes sociais, atingindo pessoas com e sem interesse por ela. Enquanto a gestora ambiental de Montevidéu Gabriella Seola falava sobre o plano de construções sustentáveis da capital uruguaia, um telão instalado no auditório mostrava que algum falante de português perguntava pelo Twitter: "O que é CICI 2010?"
Ironicamente, o professor da Universidade de Nova York Clay Shirky, um dos mais apaixonados defensores das comunicações eletrônicas presentes no evento, acredita que as administrações locais são mais eficientes para gerir a experiência urbana. "A cidade pode ser um exemplo para a governança nacional. Ela tem uma capacidade maior de aprender com o cidadão e ajudá-lo a se desenvolver. Por isso, as decisões políticas devem ser feitas, na medida do possível, na esfera local", recomenda.
Shirky refuta a tentativa de países que tentam criar para si uma vocação única. "Integração entre cidades de um mesmo país quase nunca funciona. Na maioria das vezes, a tentativa política de privilegiar um ramo de atuação causa a falência de todo um projeto de ocupação urbana. O que o país deve fazer é estimular as pessoas a iniciarem projetos pessoais nas próprias cidades", acredita.
Dois casos apresentados durante a CICI 2010 ilustram esta dualidade. As cidades de Chattanooga (EUA) e Porto Harcourt (Nigéria), diretamente afetadas pelos problemas nacionais (poluição, no primeiro caso, e pobreza, no segundo), criaram soluções próprias para reverter suas deficiências.