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Opinião

Um viva para o terrível novo governo da Itália

Primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, conta com o apoio de grupos populistas anti-União Europeia | FILIPPO MONTEFORTE/AFP
Primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, conta com o apoio de grupos populistas anti-União Europeia (Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP)

Steve Bannon está feliz com a formação de um governo contrário à União Europeia e anti-imigração na Itália. Marine Le Pen, a política francesa de direita, também está encantada, chamando a nova coalizão de "uma vitória da democracia contra a intimidação e ameaças da União Europeia". E eu estou feliz.

 Bannon e Le Pen não são exatamente o tipo de companhia política que eu manteria por perto, por isso, antes de prosseguir, é bom deixar claro que os partidos vitoriosos na Itália – a xenófoba Liga e o "vamos acabar com a velha ordem" Movimento 5 Estrelas – unem fanatismo e incompetência em um grau incomum. Eles compõem um grupo infeliz que embarca na onda global do antiliberalismo. 

 Mesmo assim, venceram. Os resultados de eleições democráticas têm que ser respeitados. Tenho um imenso respeito pela sabedoria dos eleitores, não importa o quão difícil seja compreendê-la, mesmo que eu discorde totalmente da escolha. É por isso que me desesperei quando Sergio Mattarella, o presidente italiano, deu a entender que bloquearia a formação deste governo, com a justificativa de temer que o Ministro das Finanças indicado favorecesse a saída da Itália da zona do Euro. 

Os imigrantes não são os culpados

 Sou apaixonado pela União Europeia, sou o propagador de paz mais maçante já criado. Detesto a designação simplista de que o imigrante ou outro "outsider" seria responsável pelas mazelas nacionais. Esse é um jeito fácil de criar um bode expiatório, algo que a Europa já deveria ter aprendido com a parte sombria de sua história e que agora se materializa nos Estados Unidos de Donald Trump. Estou sempre do lado da seriedade quando o assunto é o propósito do governo, o que não inclui prometer um monte de coisa que não há meios de se cumprir. Em suma, não vejo nada na Liga ou no material propagado na internet pelo Movimento 5 Estrelas que não me cause nojo. 

 Porém, estão certos Matteo Salvini, o líder da Liga, que se tornará o Ministro do Interior, e Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas, que será o Ministro do Trabalho e Desenvolvimento Econômico (apesar de nunca ter realizado nenhum trabalho tão grandioso quanto esse): eles estão planejando alguma coisa e é por isso que ganharam, assim como Trump ganhou porque percebeu e canalizou uma revolta subjacente que muitos liberais ignoraram. 

 Eles estão certos ao afirmar que quase três décadas de globalização, desde o final da Guerra Fria, deixou muita gente das democracias ocidentais na mão, muitas pessoas com fome de esperança e de voz, e ainda lhes deu a impressão de que o sistema foi manipulado por algumas elites em Bruxelas ou em outros núcleos metropolitanos.

O colapso financeiro de 2008 e a subsequente crise do euro aconteceram sem nenhuma responsabilização daqueles que as causaram. Até que as democracias ocidentais confrontem seus fracassos, a onda de fúria popular não vai diminuir. 

 A resposta de Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, ao novo governo italiano foi desastrosa, como era de se esperar. Ela tipifica a forma de arrogância que levou os partidos antissistema ao poder e destruiu os valores vigentes. Parem de culpar a União Europeia, declarou ele. "Os italianos têm que cuidar das regiões pobres da Itália. Isso significa mais trabalho, seriedade, menos corrupção." 

 Ah, por favor: italianos corruptos, preguiçosos e sem seriedade – quantos estereótipos estúpidos podem se encaixar em uma única frase? Juncker se desculpou mais tarde, mas o mal já estava feito. O deslize foi um indicativo de problemas. 

União Europeia fracassou com a Itália

A União Europeia fracassou com a Itália, porque a promessa de solidariedade no acolhimento de imigrantes que chegam à Europa através de rotas mediterrânicas não se materializou. Em 2017, o país recebeu mais de 60% desses imigrantes. A UE falhou com a Itália porque as rígidas limitações fiscais da adesão ao Euro – que foram criadas para garantir que o planejamento orçamentário frouxo e a ineficiência administrativa dos italianos não gerassem problemas para os alemães – provaram ser insustentáveis, engendrando um ressentimento crescente contra a chanceler Angela Merkel. 

 Naturalmente, houve falha por parte da Itália também. Partes do país são como o metrô de Nova York, uma lição sobre o que acontece quando o desperdício se torna endêmico e o investimento necessário é adiado. 

 Agora deixem que Salvini, Di Maio e Giuseppe Conte – o novo primeiro-ministro, cuja inflação de suas credenciais acadêmicas não é tranquilizadora – lidem com a bagunça. É muito melhor que falhem internamente do que sejam criticados por quem está do lado de fora. É melhor que percam apoio através do próprio fracasso do que ganhem por conta de arrogância alheia. 

 A remoção de Paolo Savona de uma posição de destaque, como Ministro das Finanças, para um papel menor, tornando-se Ministro de Assuntos Europeus, foi uma manobra inteligente que não só salvou a coalizão, mas também reforçou a democracia. Nas democracias, você consegue se livrar dos vagabundos quando erram, não por meio de bloqueio quando o poder foi conquistado com votos. 

 Eu sei, Hitler foi nomeado chanceler em 1933 após uma eleição democrática. É imperativo que haja vigilância, particularmente nesta época em que o judiciário independente e a imprensa livre estão sob contínuo ataque. Mas uma beleza fundamental da União Europeia é que suas instituições interligadas são concebidas precisamente para garantir que nenhum país possa ir pelo caminho que os alemães chamam de Sonderweg – o tipo retrógrado do nacionalismo, misticismo e racismo que levou a Alemanha, e toda a Europa, à ruína. 

 A Itália tem um governo péssimo que pode, no final, ser bom para a Europa. Vou adotar a visão de longo prazo e dar um viva a tudo isso. 

 

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