Steve Bannon está feliz com a formação de um governo contrário à União Europeia e anti-imigração na Itália. Marine Le Pen, a política francesa de direita, também está encantada, chamando a nova coalizão de "uma vitória da democracia contra a intimidação e ameaças da União Europeia". E eu estou feliz.
Bannon e Le Pen não são exatamente o tipo de companhia política que eu manteria por perto, por isso, antes de prosseguir, é bom deixar claro que os partidos vitoriosos na Itália – a xenófoba Liga e o "vamos acabar com a velha ordem" Movimento 5 Estrelas – unem fanatismo e incompetência em um grau incomum. Eles compõem um grupo infeliz que embarca na onda global do antiliberalismo.
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Mesmo assim, venceram. Os resultados de eleições democráticas têm que ser respeitados. Tenho um imenso respeito pela sabedoria dos eleitores, não importa o quão difícil seja compreendê-la, mesmo que eu discorde totalmente da escolha. É por isso que me desesperei quando Sergio Mattarella, o presidente italiano, deu a entender que bloquearia a formação deste governo, com a justificativa de temer que o Ministro das Finanças indicado favorecesse a saída da Itália da zona do Euro.
Os imigrantes não são os culpados
Sou apaixonado pela União Europeia, sou o propagador de paz mais maçante já criado. Detesto a designação simplista de que o imigrante ou outro "outsider" seria responsável pelas mazelas nacionais. Esse é um jeito fácil de criar um bode expiatório, algo que a Europa já deveria ter aprendido com a parte sombria de sua história e que agora se materializa nos Estados Unidos de Donald Trump. Estou sempre do lado da seriedade quando o assunto é o propósito do governo, o que não inclui prometer um monte de coisa que não há meios de se cumprir. Em suma, não vejo nada na Liga ou no material propagado na internet pelo Movimento 5 Estrelas que não me cause nojo.
Porém, estão certos Matteo Salvini, o líder da Liga, que se tornará o Ministro do Interior, e Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas, que será o Ministro do Trabalho e Desenvolvimento Econômico (apesar de nunca ter realizado nenhum trabalho tão grandioso quanto esse): eles estão planejando alguma coisa e é por isso que ganharam, assim como Trump ganhou porque percebeu e canalizou uma revolta subjacente que muitos liberais ignoraram.
Eles estão certos ao afirmar que quase três décadas de globalização, desde o final da Guerra Fria, deixou muita gente das democracias ocidentais na mão, muitas pessoas com fome de esperança e de voz, e ainda lhes deu a impressão de que o sistema foi manipulado por algumas elites em Bruxelas ou em outros núcleos metropolitanos.
O colapso financeiro de 2008 e a subsequente crise do euro aconteceram sem nenhuma responsabilização daqueles que as causaram. Até que as democracias ocidentais confrontem seus fracassos, a onda de fúria popular não vai diminuir.
A resposta de Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, ao novo governo italiano foi desastrosa, como era de se esperar. Ela tipifica a forma de arrogância que levou os partidos antissistema ao poder e destruiu os valores vigentes. Parem de culpar a União Europeia, declarou ele. "Os italianos têm que cuidar das regiões pobres da Itália. Isso significa mais trabalho, seriedade, menos corrupção."
Ah, por favor: italianos corruptos, preguiçosos e sem seriedade – quantos estereótipos estúpidos podem se encaixar em uma única frase? Juncker se desculpou mais tarde, mas o mal já estava feito. O deslize foi um indicativo de problemas.
União Europeia fracassou com a Itália
A União Europeia fracassou com a Itália, porque a promessa de solidariedade no acolhimento de imigrantes que chegam à Europa através de rotas mediterrânicas não se materializou. Em 2017, o país recebeu mais de 60% desses imigrantes. A UE falhou com a Itália porque as rígidas limitações fiscais da adesão ao Euro – que foram criadas para garantir que o planejamento orçamentário frouxo e a ineficiência administrativa dos italianos não gerassem problemas para os alemães – provaram ser insustentáveis, engendrando um ressentimento crescente contra a chanceler Angela Merkel.
Naturalmente, houve falha por parte da Itália também. Partes do país são como o metrô de Nova York, uma lição sobre o que acontece quando o desperdício se torna endêmico e o investimento necessário é adiado.
Agora deixem que Salvini, Di Maio e Giuseppe Conte – o novo primeiro-ministro, cuja inflação de suas credenciais acadêmicas não é tranquilizadora – lidem com a bagunça. É muito melhor que falhem internamente do que sejam criticados por quem está do lado de fora. É melhor que percam apoio através do próprio fracasso do que ganhem por conta de arrogância alheia.
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A remoção de Paolo Savona de uma posição de destaque, como Ministro das Finanças, para um papel menor, tornando-se Ministro de Assuntos Europeus, foi uma manobra inteligente que não só salvou a coalizão, mas também reforçou a democracia. Nas democracias, você consegue se livrar dos vagabundos quando erram, não por meio de bloqueio quando o poder foi conquistado com votos.
Eu sei, Hitler foi nomeado chanceler em 1933 após uma eleição democrática. É imperativo que haja vigilância, particularmente nesta época em que o judiciário independente e a imprensa livre estão sob contínuo ataque. Mas uma beleza fundamental da União Europeia é que suas instituições interligadas são concebidas precisamente para garantir que nenhum país possa ir pelo caminho que os alemães chamam de Sonderweg – o tipo retrógrado do nacionalismo, misticismo e racismo que levou a Alemanha, e toda a Europa, à ruína.
A Itália tem um governo péssimo que pode, no final, ser bom para a Europa. Vou adotar a visão de longo prazo e dar um viva a tudo isso.