Juan Luis Lagunas Rosales nasceu no estado mexicano de Sinaloa, meca dos cartéis e terra do conhecido traficante de drogas Joaquín “El Chapo” Guzmán. Lagunas cresceu sem saber de seu pai. Sua mãe o deixou com sua avó quando era criança.
Lagunas deixou sua cidade natal aos 15 anos sem terminar o ensino médio, foi morar em Culiacán, capital de Sinaloa, e lavava carros para se sustentar, segundo ele mesmo contou em uma entrevista em julho. Foi nessa cidade em que ele passou a usar o apelido pelo qual mais tarde seria reconhecido na internet: “El Pirata de Culiacán” ou “O Pirata de Culiacán”.
Ele começou a frequentar cada vez mais festas e logo caiu em uma vida de excessos e bebedeiras. Postava vídeos nas redes sociais que o mostravam entornando cervejas e garrafas de uísque, às vezes ficando tão bêbado que desmaiava. Os vídeos começaram a viralizar. Nos anos seguintes, o adolescente compulsivo se tornou uma contraditória atração do Youtube. Aos 17, acumulava mais de um milhão de seguidores no Facebook e mais de 300 mil no Instagram. A sua fama nas redes sociais fez com que ele ganhasse espaços em videoclipes e em promoção de eventos.
Sua cara de criança combinada ao seu comportamento grosseiro e desajeitado entretia as massas. Era fácil esquecer que ele era apenas um menino. Deixou crescer uma barba para parecer mais velho. Tatuou os braços - um pirata em um e um tigre em outro. Postava fotos no Instagram com armas, mulheres seminuas e carros de luxo.
No México só é permitido beber depois dos 18 anos, mas “El Pirata de Culiacán” bebia como se não tivesse limites. Como outros meninos adolescentes, ele vivia como se fosse invencível, dizendo o que queria sobre quem quer que fosse. Era tudo um grande jogo, uma grande festa.
Mas em Sinaloa, um dos estados mais violentos do México, ninguém é invencível - principalmente quando você mexe com a pessoa errada.
Em um vídeo recentemente postado na internet, um aparentemente embriagado Lagunas foi filmado insultando Nemesio Ocegera Cervantes, também conhecido como “El Mencho”. Acontece que Cervantes é um dos traficantes mais perigosos do México, de acordo com oficiais do governo americano, o líder do cartel Nova Geração de Jalisco.
Na noite desta segunda-feira (18), enquanto o adolescente e seus amigos estavam em um bar de Jalisco, um grupo de indivíduos armados interrompeu a festa e atirou em Lagunas, segundo o procurador geral de Jalisco, Raúl Sánchez Jiménez, contou à imprensa. O adolescente morreu depois de receber de 15 a 18 tiros. As autoridades conseguiram identificá-lo pelas tatuagens em seu braço.
Os promotores ainda não determinaram as identidades ou os motivos dos responsáveis, mas eles confirmaram para veículos de notícia que estão investigando uma possível ligação com o recente insulto a El Mecho.
El Mecho é uma das últimas pessoas que alguém gostaria de ofender.
Seu cartel, o Nova Geração, é relativamente novo, surgiu há menos de uma década. Ele é formado por remanescentes de outro grupo, o cartel Milênio, e ganha dinheiro com a venda de armas, roubo de gasolina, extorsão e sequestro, segundo escreveu Josh Partlow, do Washington Post, em 2015. É um dos cartéis de drogas que mais cresceu no México, operando em diversos estados mexicanos e estabelecendo conexões com o submundo ao redor do globo.
O grupo foi relacionado a milhares de assassinatos, de acordo com um perfil na Rolling Stone. Muitos deles ligados especificamente ao líder “El Mencho”, que, segundo informado, é um ex-policial.
A morte de Lagunas ocorre em um ano que está no caminho de se tornar um dos mais sangrentos do México. Nos primeiros dez meses de 2017, 20.878 assassinatos foram registrados no país, uma média de 69 homicídios por dia, segundo a Reuters.
É um período e lugar perigoso para qualquer um, especialmente para um adolescente vivendo imprudentemente em busca da fama.
“Ele optou por fazer carreira na internet buscando fama a qualquer custo, caminho que ele traçou bebida por bebida e que o deixou com inimigos de carne e osso”, escreveu o repórter da Univision Fernando Mexía em um artigo chamado “A fama corrompida do ‘El Pirata’”.
A estrela do Youtube conseguiu “transpor barreiras”, até mesmo indo parar na Rolling Stone - não pela sua fama, mas pela sua morte. Seu assassinato “deu a ele a popularidade que ele nunca imaginou”, escreveu Mexía.
Enquanto a celebridade adolescente crescia, ativistas criticavam músicos, bandas e promotores de eventos que o mostravam bebendo nos videoclipes. A atenção apenas encorajava seu comportamento perigoso e promovia o alcoolismo de um menor, disseram críticos à Univision.
“Existem muitas pessoas que o criticavam, mas a verdade é… é por isso que ‘El Pirata’ começou”, disse o artista Luis Adame, do Último Esquadrón. “Todo mundo, do seu próprio jeito, tenta encontrar um caminho para seguir em frente”.
Em entrevistas recentes, Lagunas parecia começar a reconhecer seus vícios. Ele tinha esperanças de seguir uma carreira como cantor e dizem que tinha assinado um contrato com uma gravadora.
Falando com Pepe Garza, âncora de um programa de rádio e produtor, em julho, Lagunas disse que ele sabia que precisava moderar o consumo de bebidas alcoólicas.
“Você bebe um monte de uma só vez e o corpo não é feito para isso”, Garza disse a ele.
“As pessoas me perguntam ‘Como você faz isso? Como você consegue beber tanto?’, o adolescente respondeu. “Eu apenas rio e digo ‘Eu não sei como eu faço isso’”.
Mas ele disse… “eles estão certos… às vezes eu passo dos limites”.
O âncora desejou a ele o melhor em sua carreira, encorajando-o a dar um tempo nas festas… “aí ele poderá viver muitos anos”.
Depois de ouvir a notícia da morte de Lagunas, o colega de fama no Instagram e promotor de eventos Beto Sierra lembrou dele como um amigo animado, positivo e divertido.
Sierra lembrou que o encorajou a se acalmar e controlar a bebida. “Ele me disse que queria mudar, mas no fim das contas, não faltaram influências ruins”, escreveu Sierra no Instagram.
“Você estava vivendo uma vida frenética… você nunca ouvia e eu não o julgo”, ele disse. “Aqueles que te conheciam sabiam que você era uma boa pessoa”.